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ONU: equidade de gêneros melhora resultados das empresas

ONU: equidade de gêneros melhora resultados das empresas

ADRIANA CARVALHO, Representante da ONU Mulheres, falará na Convenção ABF sobre a participação feminina em cargos de liderança e a importância dessa conscientização nas empresas

De acordo com dados divulgados pelo Sebrae, as mulheres já ocupam 43,2% de cargos de gerência em micro e pequenas empresas, no Brasil. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que exista equidade de gênero dentro das empresas. Muitas instituições, inclusive a ABF, têm trazido o tema à tona nos últimos anos, visando a conscientização sobre a importância da equidade dentro das companhias.

A Organização das Nações Unidas (ONU) possui diversas agências responsáveis por atuar em determinadas áreas da sociedade. Uma delas é a ONU Mulheres, voltada ao trabalho de conscientização e igualdade de gênero para mulheres e meninas.

Sediada em Nova Iorque, a ONU Mulheres está presente em 90 países, incluindo o Brasil. Para ajudar na conscientização das empresas e também da sociedade civil, a ONU assinou com o Pacto Global os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPS, da sigla em inglês), que visam melhorar o ambiente dentro das empresas, não só para as mulheres, mas para amenizar a cultura da soberania masculina. No mundo são quase 1,5 mil empresas signatárias e no Brasil já são 125. “A maioria é de grande porte e tem capacidade de influenciar o segmento em que atuam”, explica a gerente de Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPS), Adriana Carvalho.

A executiva será uma das palestrantes da 17ª Convenção ABF do Franchising, que acontece em outubro, na Bahia. Ela conversou com a reportagem da Revista Franquia & Negócios ABF sobre a atuação do escritório no Brasil e também sobre a aplicação dos WEPS. Confira, a seguir.

Qual o papel da ONU Mulheres atualmente?
Temos um mandato de atuação normativa, onde participamos de discussões internacionais sobre o tema. A agenda atual, que rege todo o sistema da ONU e dos países membros, e é um convite para que empresas e sociedade civil façam parte, é a do desenvolvimento sustentável, que dura até 2030 (Agenda 2030). A implementação dessa agenda é nosso papel, trabalhar com todos os estados membros para fazer cooperação com empresas e sociedade civil. Não só implementar políticas, mas fomentar a nova cultura que valoriza essas questões.

Qual a importância das empresas nesse processo?
O empoderamento econômico não pode ir para frente sem a participação das empresas. Dois terços dos empregos no Brasil estão nelas. Por isso, é importante a nossa aproximação com as franquias, uma vez que 98% dos empregos estão nas PMEs. É muito importante engajar esse tipo de empresa na discussão.

Qual o perfil das empresas que vocês pretendem atingir?
Na verdade, é um convite para as empresas assumirem a importância do tema e receberem orientação para guiar na jornada no tema. Não é por ser mulher ou homem que um indivíduo está livre da cultura machista, somos criados na mesma sociedade, com os mesmos preceitos. Mesmo que eu tenha mulheres no quadro, na liderança, eu preciso desmistificar muitas informações. Por exemplo, enfermeira só pode ser mulher? Empresas com muitas mulheres ou fundadas por mulheres também podem participar.

As empresas têm se sensibilizado aos WEPS?
São sete princípios, mas a empresa não precisa seguir ou implementar todos. Ela precisa se fazer perguntas: “Como garanto saúde, bem-estar e segurança para todos?”. “Como trabalho capacitação profissional das mulheres?”. Se essas mulheres não estão nas áreas de liderança talvez eu precise rever meu menu de capacitação para dizer que, se elas quiserem, elas podem chegar lá. Também falamos sobre como influenciar a cadeia de valores. Quando eu falo de marketing, por exemplo, eu não preciso me tornar uma marca ativista, mas as pessoas deveriam estar espelhadas na minha comunicação. A lógica da “pessoa ideal” não existe mais. Não representar, mesmo sem intenção, pode soar racista, machista etc. Hoje ainda muitas das propagandas que falam de cuidados de casa, filhos, colocam mulheres como protagonistas. Mesmo que ela não queira ser ativista, ela precisa assegurar que as pessoas sejam representadas.

Qual o panorama do Brasil, se comparado a outras nações?
Ao contrário de outros países, aqui a mulher empreende na mesma medida que os homens. No entanto, estima-se que menos de 1% das compras das grandes corporações sejam feitas por empresas lideradas por mulheres. Não é questão de dar preferência, é assegurar que ela tenha chances de competir, é incentivar, mostrar o caminho do edital, contar para essas empresas que elas podem fazer negócios com a sua companhia. Outro item dos Fundamentos fala sobre levar educação para a comunidade em que está inserido. Eu tenho um indicador que identifica as pessoas que se beneficiam por gênero etnia e idade. A empresa precisa ver se o programa, mesmo sem intenção, não esteja incluindo todo mundo. Precisa saber quais são seus indicadores, onde está e onde quer chegar. A ONU Mulheres oferece uma ferramenta on-line em que as pessoas podem avaliar como estão suas empresas em 18 quesitos.

Como a equidade de gêneros pode melhorar a performance de uma empresa?
Há vários estudos que mostram que empresas com mais mulheres no Conselho de Administração são mais lucrativas. Times diversos tendem a gerar mais inovação e gerar menos risco, pois têm visões diversas. As mulheres decidem produtos muito mais do que em 50% das decisões de compra. Se a mulher é consumidora, como ela não está na força de trabalho? Hoje, mulheres ao redor do mundo estudam mais do que os homens. No Brasil, 60% dos formandos em universidades são mulheres. Também tem a responsabilidade social. Empresas de capital aberto precisam prestar contas a stakeholders. No Brasil há uma legislação em trâmite que vai obrigar ter 30% das mulheres em Conselho de Administração. A questão é: vai esperar legislação ou vai fazer seu trabalho?

Como funciona o empoderamento na ponta, diretamente com as mulheres?
Já fizemos algumas ações diretas com a ponta. No ano passado, por exemplo, no âmbito das Olímpiadas, fizemos o projeto Meninas e Esporte. Elas participaram de um programa com 80 horas de esporte e 40 horas de conversa para trabalhar a autoconfiança. Temos dois outros programas que falam sobre vozes das mulheres indígenas. Hoje a comunidade é muito pequena e composta de várias etnias, cada uma tem uma necessidade. O projeto escutou essas mulheres para criar uma pauta comum e advogar de forma mais forte. Também disponibilizamos para todos os educadores um currículo de oito aulas para que seus alunos tratem das masculinidades e feminilidades. Que o valente não é violento. Estamos levando parcerias para assegurar que esteja sendo implementado nas escolas.

 

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