A indiana Saras Sarasvathy defende que qualquer pessoa pode empreender partindo de princípios básicos
Por Paulo Gratão
Esqueça tudo – ou quase tudo – que você sabe sobre empreendedorismo. Pelo menos é isso o que propõe a professora da Darden School of Business, a indiana Saras Sarasvathy. Segundo ela, qualquer um pode empreender e todos podem, juntos, cocriar o futuro. Saras é criadora do método Effectuation, que tem como objetivo instigar a efetuação de fato, realizar coisas.
De acordo com a professora, o processo de empreender depende de três passos: quem é o indivíduo, o que ele sabe e quem ele conhece. Ao obter essas respostas, pode criar ideias que façam sentido e tenham mais potencial de funcionar.
A ordem é controlar um futuro imprevisível e mostrar que o empreendedorismo não precisa de um dom especial para funcionar.
Para chegar a essa tese, ela entrevistou criadores de grandes empresas pelo mundo e chegou à conclusão de que nem sempre o plano de negócios os ajudou em sua empreitada, muito pelo contrário. Quando eles começam a falar em voz alta sobre ideias, mencionam principalmente suas referências pessoais e profissionais, que passam pelos conhecimentos, habilidades e rede de contatos. Com isso, cada um apresenta um resultado diferente. O resultado das entrevistas pode ser conferido no livro Effectuation: Elements of Entrepreneurial Expertise (2009).
No início de julho, durante a sua passagem pelo Brasil, Saras concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Franquia & Negócios ABF. Confira os principais trechos a seguir:
Partindo do princípio do Effectuation, qualquer pessoa pode empreender?
Sim, é claro. Não apenas para desenvolver uma empresa, mas também, definitivamente, para isso. Empreendedores podem começar como você ou eu, com quem são, ou com o que têm a mão, ou ainda com o que conhecem. Não precisam se empenhar em previsões do futuro ou ideias mirabolantes. Isso não é válido apenas para empresas ou negócios que tragam lucro. É para tudo o que nos propomos a fazer na vida.
A visão, então, é não tentar prever o futuro, mas construí-lo?
A lógica é controlar um futuro que não se pode prever. Empreendedores desse tipo não gostam de pesquisas de mercado. A ideia é cocriar o futuro ao invés de tentar adivinhar. Você faz o futuro, cocria para que as pessoas queiram trabalhar com você, com o seu negócio. Se uma quantidade suficiente de pessoas está interessada em trabalhar com você, façam juntos e será ótimo.
Você acredita que as limitações e regras impostas podem inibir os empreendedores atualmente?
As pessoas acreditam que o plano de negócios é um plano, mas, na verdade, é uma ferramenta de comunicação, que faz você pensar sobre diferentes aspectos. De fato, ferramentas de comunicação podem ser úteis, mas não são a única fórmula, não se pode planejar tudo. Quando as pessoas começam a pensar que todas as previsões têm que ser colocadas no plano, elas colocam receita, marketing… acreditam nos números. Mas não precisam apenas acreditar em números para colocar algo em prática. Com isso, vem a conclusão de que o futuro não é previsível. É a mais importante lição que é possível aprender. O futuro não é tão bom quanto você imagina em sua previsão e você não precisa tomar decisões baseadas na previsão.
Existem cinco passos na sua metodologia. Você pode falar um pouco sobre cada um deles?
São cinco princípios do Effectuation: pássaro na mão, perda acessível, manta de retalhos, limonada e piloto de avião. O primeiro diz que o empreendedor precisa começar com o que tem, que é ou o que conhece. Isso leva ao segundo princípio, que zela pelo investimento apenas com o que o se tem, prevendo que as perdas sejam menores. Já a manta de retalhos defende que o empreendedor trabalhe com todos que quiserem vir e se juntar ao negócio. É a cocriação. Limonada significa colocar o ditado em prática: se a vida te der problemas, entenda como pode tirar melhor proveito deles para o seu negócio. E o último princípio é o de que não adianta tentar adivinhar o futuro: foque no que está sob seu controle e no que é previsível. Cocrie o futuro.
Como esse modelo pode trazer segurança ao empreendedor?
O início sempre será diferente. Nem todos os empreendedores terão o mesmo “pássaro na mão” e, se tiverem, as pessoas que se juntarão não serão as mesmas. Segurança não é possível ter nem mesmo nos métodos tradicionais, não é mesmo? O Effectuation funciona também como uma maneira de potencializar a inovação em larga escala. A inovação está dentro do processo do qual você e todas as outras pessoas são únicas e é assim que criamos coisas novas. O Effectuation reduz o risco. Você escolhe no que vai investir e só coloca aquilo que puder investir. Quanto dinheiro você quer investir? Quanto esforço você quer investir? Só vai poder fazer o que puder arcar.
Saiba mais sobre Saras:
Em 2007, a especialista foi eleita um dos 18 melhores professores de Empreendedorismo pela revista Fortune Small Magazines. Seu livro Effectuation: Elements of Entrepreneurial Expertise foi indicado, em 2009, para o prêmio Terry Book da Academy Management