A cor dos negócios em 2020

A cor dos negócios em 2020

A arquiteta Margaret Candossim aponta as principais tendências de cores para os negócios em 2020 a partir de um estudo conduzido pelo Comitê Brasileiro de Cores (CBC)

Enquanto a música de Rita Lee usa o rosa choque para exaltar a força da mulher, a poesia deixada por Tim Maia incentiva a busca de um sonho azul da cor do mar.

Uma canção fala da natureza feminina, a outra de esperança. São muitas as sensações ligadas às cores e retratadas não só na música.

Elas cercam a vida emocional das pessoas, e também os negócios.

Do vermelho que desperta o apetite, ótima pedida para os restaurantes, ao verde com propriedades curativas, que pode decorar as lojas de serviços de bem-estar e saúde, é imprescindível buscar orientação para entender a influência de cada tonalidade no ambiente e até na decisão de compra.

A arquiteta especializada em varejo Margaret Candossim integra o Comitê Brasileiro de Cores (CBC) e conta, na entrevista a seguir, quais são as tendências para 2020.

O franchising deve ficar atento à quais cores em 2020?
São quatro famílias cromáticas: Geo-Raízes, Infinitum, Young Yang e Floralis. Para chegar a essa gama de cores realizamos inúmeras análises. Estudamos, inclusive, os filmes indicados ao Oscar, as tonalidades mais significativas entre os vencedores, entre outros aspectos que nos ajudam a balizar todo o direcionamento da pesquisa.

Quais as características da paleta Geo-Raízes?
Esse grupo remete às profundezas da terra, dos vulcões, dos fenômenos naturais, e está associado às grandes transformações que o mundo tem vivido nos últimos anos, seja na política, na forma como as pessoas vem se sentindo ou na relação do homem com a natureza. Vermelho, magenta, dourados, marrom, preto, cores escuras e terrosas predominam nessa referência à Geologia.

Qual é a relação das cores do Infinitum com a tecnologia?
O estudo dessa variante de cores incluiu a observação do céu, das estrelas e das explosões no espaço, feita com a ajuda de telescópios do planetário da cidade de Campinas (SP).

Nesse grupo, estão as pessoas ligadas à tecnologia e influenciadas pelas revoluções provocadas pela nova mentalidade das startups, com mindset de trabalho colaborativo e cocriação.

Traz cores gaseificadas, quase frias, que lembram as múltiplas colorações do infinito, do místico e enigmático.

São os diferentes tons de azul, cinzas, passando pelo lilás, violeta, tons pálidos, areia e branco.

A escolha da paleta Young Yang favorece que tipo de franquia?
Chamar a atenção dos jovens é um dos maiores desafios das marcas atualmente.

Temos as gerações Y e Z, por exemplo, cada vez mais seduzidas pela tecnologia, e atraí-los demanda uma estratégia à parte.

A seleção das cores certas não pode faltar nesse plano. Adolescentes prestam atenção em vitrines chamativas.

As cores vibrantes de azul e verde peridoto, o cinza e matizes de amarelo e laranja, que compõem a paleta do Young Yang, são ideais para as franquias que têm os adolescentes como público-alvo.

Essa paleta representa justamente o comportamento esperançoso dos jovens da geração Millenium.

Qual é o significado da classificação Floralis?
Margaret Candossim – A variação de cores existentes dentro da paleta Floralis simboliza vida e alegria.

São cores fortes e marcantes como lilás, roxo, violeta, rosa, vermelho, laranja e verde, que estão relacionadas a folhagens e à variedade de flores da natureza, remetendo ao romantismo.

Como foi feito o estudo para identificar essas tendências?
A cartela de cores foi criada pelo Comitê Brasileiro de Cores (CBC) por meio do Centro de Estudos da Cor da América Latina (Cecal).

O projeto envolveu o trabalho de 40 pesquisadores nacionais e internacionais, e tem a certificação do Centro Universitário Belas Artes.

A cartela é considerada uma referência para os profissionais que atuam em toda cadeia produtiva dentro da arquitetura, decoração, design e setores correlatos.

De quanto em quanto tempo há mudanças nas cores que caracterizam uma sociedade?
Vivemos em um mundo que se transforma a todo momento de uma forma cada vez mais intensa e veloz.

As cores espelham esse dinamismo. Diante desse cenário, percebemos que as alterações vêm acompanhando esse movimento de forma cada vez mais rápida, ano a ano.

Se tivesse que escolher uma cor para o humor do brasileiro hoje, qual seria?
A cor do Brasil hoje é o laranja. Ela é uma mistura de tudo o que o brasileiro já passou, e que ainda vem passando, diante do cenário de crise e desemprego.

Mas, ao mesmo tempo, representa a garra e a esperança de viver dias melhores à frente.

E para os negócios?
Depende dos objetivos do empreendedor.

Precisa entender o que ele pretende, a estratégia do negócio, as características do produto que ele comercializa, o perfil de quem o consome, a linguagem visual adequada, entre outros aspectos que devem ser analisados mediante a consultoria de profissionais preparados para orientar os franqueados, como arquitetos e designers.

Caso contrário, o posicionamento pode ficar confuso, como vem acontecendo com muitas marcas.

Como relacionar a cor a um determinado tipo de empreendimento?
É preciso buscar orientação técnica. A cor vermelha, por exemplo, é indicada para restaurantes por liberar a fome.

Já o verde está mais ligado a saúde e bem-estar, enquanto o lilás transmite tranquilidade.

O branco geralmente lembra paz, mas está associado também a reflexão.

É preciso tomar cuidado com os modismos. Um exemplo é o cinza. Se essa cor não for bem aplicada poderá criar um ambiente de tristeza e depressão.

Não recomendamos também o dourado para marcas cujo target são as classes D e E, pois trata-se de uma escala de cor que não cria identificação com essa faixa social.

A iluminação também é fundamental para harmonizar o ambiente.

Há lojas que se transformaram no passeio das famílias.

Ter um clima acolhedor é imprescindível para não inibir a entrada das pessoas de qualquer nicho.

Como o nosso cérebro processa as cores?
As cores desempenham um papel primordial para determinar a decisão de compra e impulsionar o negócio em questão.

O rosa, e outros tons mais femininos, chamam a atenção das mulheres, e podem até determinar uma compra por impulso.

São as cores que sinalizam o movimento do cliente dentro das lojas. Elas têm influência em nosso emocional.

Cada pessoa reage a partir de sua própria personalidade, processos mentais e gatilhos inconscientes.

Assim como os aromas, as cores têm uma memória que se comunica com cada indivíduo, influenciada por circunstâncias de vida, sentimentos daquele momento, entre outros fatores.

O cientista alemão Johann Wolfgang Von Goethe foi quem criou a Teoria das Cores.

De acordo com ele, a cor está relacionada com a luz, mas não somente.

Considera-se também a percepção que cada um tem diante de um determinado objeto.

É por isso que o efeito das cores é universal, mas a identificação dos tons é subjetiva.