Um em cada quatro usuários de internet vai passar pelo menos uma hora por dia nos mundos virtuais, quer para trabalho, compras, educação, socialização ou entretenimento
O ano é 2045. E, diante da realidade nada amigável de um futuro distópico, os humanos preferem passar o tempo em um amplo universo de realidade virtual chamado Oasis.
Nele, representados por seus avatares, podem fazer compras, encontrar os amigos, jogar, estudar, trabalhar, ir a festas, lutar e até morrer.
Essa é a premissa por trás de Ready Player One (ou Jogador Nº 1, como foi traduzido no Brasil), livro escrito por Ernest Cline e que, mais tarde, virou um filme de mesmo nome dirigido por Steven Spielberg.
Quando foram lançados, tanto o livro quanto o filme eram considerados ficção científica e fantasia. Mas isso está cada vez mais perto de mudar.
O fato é que o metaverso (terminologia usada para explicar essa espécie de mundo virtual imersivo baseado em realidades virtual, aumentada e mista) se tornou o tema do momento, sobretudo depois que o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou, em outubro do ano passado, que a empresa passaria a se chamar Meta e investiria pesado na criação de uma nova classe de experiências e conteúdo através da internet.
Quem está acostumado com jogos de videogame como Seconde Life, Roblox e Fortnite sabe que isso não é exatamente uma novidade.
A diferença agora é que mais companhias estão concentrando esforços no desenvolvimento de seu próprio metaverso ou de soluções voltadas para ele, e outras tantas já até estão promovendo ações dentro dele – por exemplo, Nike, Ralph Loren, Gucci e Adidas –, abrindo um novo e importante espaço de negócios e plantando a semente da transformação na maneira como os consumidores compram e se relacionam com as marcas.
A aposta em um mundo virtual imersivo tem sido tão grande que muitos acreditam que ele será a próxima versão da internet ou a próxima grande plataforma de tecnologia.
E a tendência é que movimente somas astronômicas. De acordo com projeção realizada pelos analistas da Bloomberg Intelligence Matthew Kanterman e Nathan Naidu, a oportunidade de receita global pode se aproximar de US$ 800 bilhões em 2024.
A consultoria Gartner prevê que, em 2026, um em cada quatro usuários de internet vai passar pelo menos uma hora por dia nesses mundos virtuais. Eles serão usados para trabalho, compras, educação, socialização e entretenimento, terão uma economia habilitada por moedas digitais e tokens não fungíveis (NFTs) e impactarão todos os negócios com os quais os consumidores interagem.
“O metaverso vai mudar a estrutura organizacional das empresas e será uma nova dimensão para as marcas, que poderão, através dele, vender produtos, serviços, estilo de vida, proximidade”, aponta a especialista em varejo e CEO da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi. “O metaverso é ‘avatar economy’ (economia de avatar), entretenimento, educação, trabalho, nova carreira profissional… São muitas as possibilidades, e ainda nem conhecemos todas elas ainda. Estamos apenas começando a explorar este universo.”
O mestre em Gestão da Inovação, professor de cursos de MBA e pós-graduação em escolas de negócios, palestrante e consultor Carlos Titton acrescenta que, como a tendência é que as pessoas tenham uma vida no metaverso no futuro, haverá uma gama enorme de oportunidades para as empresas.
“Elas terão muitas formas de ganhar dinheiro neste mundo virtual imersivo, desde a customização de avatares, passando pela venda de produtos e ativos digitais e até a prestação de serviços. Tudo vai depender do modelo de negócio adotado.”
Apesar disso, o especialista pondera que a tecnologia ainda está longe de ser 100% aproveitada pelas organizações, sejam elas grandes ou pequenas: “Existe muito espaço para desenvolvimento e crescimento.
Os empresários só precisam estar abertos e atentos. E quem agir rápido, naturalmente, levará uma grade vantagem competividade”.
Metaverso no franchising
No franchising, diversas redes já estão dando os primeiros passo no metaverso, e uma das mais avançadas nesse sentido é O Boticário. Segundo a diretora de Mídia, BI, CRM & Insights do Grupo Boticário, Natalia Calixto, foi no universo gamer que a empresa encontrou um caminho evolutivo para adentrar este novo mundo virtual imersivo.
“Desde o início dos debates sobre o surgimento do metaverso, sabíamos que precisávamos ser ativos in game, seguindo o nosso objetivo de acompanhar a rápida evolução dos ambientes digitais e a nossa vocação quando o assunto é tecnologia e inovação”, diz a executiva.
A trajetória de O Boticário nesta área foi iniciada em 2021, com a criação da sua primeira loja in game dentro do Avakin Life, um simulador da vida real.
Na ocasião, além de oferecer produtos para os usuários testarem em seus avatares, a companhia promoveu uma série de desafios para fomentar a interação com os players e uma grande festa de encerramento. “Com essa ação, tivemos mais de 14 milhões de visitas na nossa loja in game e mais de 1,6 milhão de horas dos usuários em contato com a marca”, revela Natalia.
Mais recentemente, no Carnaval de 2022, a rede cocriou um evento dentro do game, que teve todo o processo criativo pensado na interação e usabilidade ideal com os jogadores. As opções de atividades na plataforma foram novamente a loja in game, dois blocos temáticos de Carnaval e a disponibilização de tutoriais e conteúdo de vídeo.
“Todas essas ações, e a boa receptividade dos jogadores a elas, dão ainda mais embasamento na decisão de continuar acompanhando a evolução do mundo virtual e todos os benefícios e novas possibilidades que ele pode oferecer para marcas e consumidores. Queremos estar à frente e cada vez mais presentes no cotidiano do público da marca, aumentando o awareness e construindo ações inovadoras”, destaca a diretora de Mídia, BI, CRM & Insights do Grupo Boticário.
McDonald´s e Havaianas são mais algumas franquias que têm investido no metaverso. Enquanto a rede de fastfood homologou um pedido de registro de patente para 10 ativos virtuais, incluindo um restaurante virtual e um McCafé para vendas de produtos digitais e reais, a rede calçadista lançou sua primeira coleção em NFT, desenvolvida em parceria com o designer e artista Adhemas Batista.
A CleanNew, especializada em higienização e blindagem de estofados, também pretende marcar presença na próxima versão da internet. Inicialmente, a maneira com que fará isso é através da realização de reuniões em ambiente virtual – a previsão é que o projeto seja colocado em prática no segundo semestre deste ano.
“Durante a pandemia, tivemos de fechar nossos escritórios e ir para o home office. O problema, é que, em casa, é comum perdermos a concentração e nos distrairmos, por conta de tudo o que está acontecendo ao redor. Para mudar isso e garantir uma melhor produtividade, pensamos em tornar as reuniões mais interativas, e o metaverso é o local perfeito. Montamos, então, uma sala no Horizon Workrooms e com toda a nossa identidade visual para que os participantes possam se sentir como se estivessem na empresa”, explica o CEO da franqueadora, Fritz Paixão.
Além disso, a CleanNew se tornou investidora da empresa de game blockchain Ertha Metaverse e está estudando formas de fazer vendas no metaverso.
“Nossa atuação nesse sentido será mais voltada para produtos do que para serviços. Para começar, vamos fazer anúncios em metaversos, para atrair clientes e fortalecer a marca”, completa o executivo.
Em se tratando da SuperGeeks, escola de Programação e Robótica para crianças e adolescentes, a aposta é em cursos voltados para o mercado de jogos que exploram tecnologias utilizadas pelos metaversos.
“Na trilha de desenvolvimento ensinamos os alunos a trabalharem com a criação de ambientes de jogos 3D, realidade aumentada, inteligências artificiais e jogos multiplayer. Tudo isso contempla uma parte do que é vivenciado pelos usuários de um metaverso”, indica o coordenador pedagógico da rede, Rafael Lagrange.
Para este ano, estão nos planos da empresa os lançamentos de um curso voltado exclusivamente para este novo universo, a fim de que o aluno tenha a experiência de montar o seu próprio metaverso, e oficinas e workshops sobre o tema.
“Queremos preparar os nossos alunos para o futuro. Ainda que os metaversos sejam relativamente novos, as tecnologias que os compõem já são uma parte fundamental para diversos outros setores.
Ao desenvolver projetos como esses, os alunos ampliam suas perspectivas e começam a pensar ‘fora da caixa’, se apropriam do crescimento desses mercados e aplicam seus conhecimentos nas mais diversas áreas”, finaliza o profissional.