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Ingredientes positivos para o empreendedorismo

Ingredientes positivos para o empreendedorismo

Matéria reproduzida da revista Franquia Negócios – Edição 45

por Andrea Cordioli

Economista do Bradesco, Ellen Regina Steter, traça cenário com taxa de juros de um dígito  e atividade econômica ao redor de 4%

Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou, no final de agosto, a Selic em 7,5% ao ano a menor taxa de juros da história brasileira, empresas e instituições financeiras entenderam, de uma vez por todas, que a regra agora é eficiência e produtividade. Pelo menos por ora, a Era Financeira, de garantir rendimentos só com aplicações, está congelada. O momento favorece o empreendedorismo.

Para debater o novo status da economia brasileira, a Revista Franquia Negócios convidou a jovem economista do banco Bradesco, Ellen Regina Steter. `Certamente, com taxa de juros `de um dígito` e atividade crescendo ao redor de 4%, teremos ingredientes positivos para o empreendedorismo`, afirma. Segundo ela, o cenário de juros menores traz oportunidades generalizadas, mas também impõe ajustes ao setor empresarial, incluindo a indústria financeira nacional.

Graduada em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas em 2004 e mestranda em Macroeconomia Financeira na Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Ellen trabalha há nove anos no Bradesco, onde atuou no segmento Varejo e Empresas e há quatro anos é responsável pelo acompanhamento do mercado de crédito, de capitais e sistema financeiro nacional Confira, a seguir, os principais trechos dessa entrevista.

A nova taxa Selic definida no final de agosto, de 7,5%, é a menor taxa de juros que o Brasil já teve. O que isso implica para a economia e para os investimentos produtivos?
A estabilidade e a previsibilidade macroeconômica alcançadas nos últimos anos, em um contexto de janela de oportunidade aberta pela crise global, estão possibilitando a convergência da taxa de juros brasileira para padrões internacionais. No final de agosto, a taxa Selic chegou a 7,5%, patamar que provavelmente continuará nos próximos meses. Esse novo patamar implica redução no custo de capital, sendo, portanto, estímulo relevante tanto ao investimento quanto ao consumo. Dessa forma, considerando o efeito defasado da política monetária e os incentivos fiscais, já começamos a observar uma recuperação na economia brasileira, que se intensificará em 2013, ano para o qual esperamos crescimento de 4%.

O momento econômico favorece o empreendedorismo?
Certamente, com taxa de juros `de um dígito` e atividade crescendo ao redor de 4%, teremos ingredientes positivos para o empreendedorismo. Apenas lembrando, as decisões acerca de investimentos devem ser devidamente planejadas.

Apesar da redução da taxa Selic, o Brasil tem a quinta maior taxa de juros real do mundo (de 1,8%), perdendo para China (4,1%), Chile (2,4%), Austrália (2,3%) e Rússia (2,3%). O Brasil ainda é atrativo para investimentos?
Sim, nossa demanda doméstica cresce ao redor de 5% ao ano, passamos por um período de transformações positivas em âmbito social, demográfico e econômico, que geraram e geram excelentes oportunidades. Portanto, o Brasil continua atrativo para investimentos. Por exemplo, em 2011, o Brasil recebeu US$ 66,7 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. De janeiro a agosto deste ano foram mais US$ 37,6 bilhões e nossa expectativa para o próximo ano é de US$ 63 bilhões.

Diante do cenário de juros menores, como os bancos vão fazer para gerar cada vez mais receita com o menor gasto possível?
O cenário de juros menores traz oportunidades generalizadas, mas também impõe ajustes ao setor empresarial, incluindo a indústria financeira nacional. A busca por eficiência e produtividade continuará como fator primordial.

Como o Bradesco pretende alcançar um índice de eficiência de 39% em 2014?
O Bradesco até 2011 vinha realizando fortes investimentos no crescimento orgânico e mesmo assim conseguimos manter o índice de eficiência operacional praticamente inalterado. Apenas no quarto trimestre de 2011 é que tivemos um aumento desse índice, de 42,7% para 43%, decorrente do investimento na abertura de mais de 1.000 agências no período. Neste ano, os investimentos com o crescimento orgânico estão estabilizados e as agências abertas em 2011 já estão em processo de maturação, com as receitas de margem financeira e prestação de serviços evoluindo e grandes esforços na redução de despesas. Assim, pretendemos atingir um Índice de Eficiência Operacional de 39% em 2014.

Historicamente, para se defender dos juros altos, a indústria trabalha com caixa elevado – muito acima do padrão internacional – para compensar com ganhos em aplicações financeiras os custos de produção inflados pelos altos juros. Com juros mais baixos, as fábricas terão que se reorganizar e buscar eficiência no que, de fato, produzem. Como as empresas podem buscar essa eficiência?Quais são os cenários daqui para frente?
A própria redução na taxa de juros se torna fundamental para aumentarmos a eficiência. Afinal, reduz o custo do capital e viabiliza investimentos. Outros fatores relacionados a incentivos fiscais, como desonerações, que aliás já estamos observando, também contribuem favoravelmente para a competição, assim como investimento em treinamento e em educação, que são fundamentais para o aumento da produtividade.

A redução dos juros será realmente refletida no barateamento do crédito? O spread bancário brasileiro (de 26,9% em junho) ainda é um dos mais altos do mundo, à frente de Austrália, Canadá, Chile, China, Estados Unidos, Japão, México, Paraguai, Rússia e Uruguai. Como reverter isso?
Os dados do Banco Central do Brasil efetivamente apontam para redução no spread bancário nos últimos meses, tanto para financiamentos à pessoa física quanto a pessoa jurídica, tendência que deverá continuar. Ações no sentido de aumentar garantias e reduzir riscos de inadimplência podem acelerar esse processo.

Você considera a última redução dos juros básicos da economia eficaz no estímulo ao consumo? E qual é a perspectiva para a inflação diante desse cenário?
Certamente. O consumo das famílias, mesmo com a moderação observada desde 2011, tem crescido ao redor de 4% ao ano, ou seja, ainda é uma expansão robusta. A defasagem de política monetária levará esse crescimento para próximo de 5% em 2013. Nesse cenário, projetamos uma inflação ligeiramente acima do centro da meta do Banco Central, em torno de 5,2% no próximo ano.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), 23% da renda mensal das famílias brasileiras, em média, está comprometida com o pagamento de dívidas. O sinal amarelo já apareceu para a liberação de empréstimos?
Não enxergamos sinal amarelo para a liberação de empréstimos. Experimentamos, ao longo dos últimos anos, uma expansão robusta e saudável do crédito bancário, atrelada ao cenário macroeconômico benigno. Assim, como ocorre com as demais variáveis econômicas, o crédito também está suscetível aos ciclos econômicos, tanto que, no ano passado, com a moderação no ritmo de crescimento, observamos deterioração na taxa de inadimplência do sistema financeiro nacional. No entanto, com a recuperação econômica já em curso, observamos sinais de arrefecimento na taxa de inadimplência e também no nível do comprometimento de renda da população. Para 2013, esperamos redução na taxa de inadimplência do sistema financeiro nacional, tanto na carteira de pessoa física quanto na carteira de pessoa jurídica.

50% mais brasileiros contraíram empréstimos superiores a R$ 5 mil no ano passado em comparação com 2009. Atualmente, cerca de 40% dos lares acumulam dívidas acima desse valor. Isso é preocupante?
Não, pois devemos considerar também a capacidade de pagamento e não apenas o montante financiado. A estabilidade macroeconômica permitiu o alongamento do prazo e a redução na taxa de juros, além da expansão da renda. Dessa forma, o comprometimento da renda mensal não aumentou na mesma intensidade que o estoque de dívida, o que mostra que a evolução do crédito ocorreu de maneira saudável. Ajustes, como o que observamos na inadimplência desde meados de 2011, são compatíveis com os ciclos econômicos. Nesse sentido, não acredito que a elevação dos atrasos esteja relacionada a questões estruturais.

As vendas no comércio varejista ampliado apresentaram em 2012 (12 meses até junho de 2012) a menor expansão desde 2005: 5,7%, contra 3,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como o Brasil, que deverá ser o 5º maior mercado consumidor do mundo em 2020, pode acelerar esse crescimento?
Boa parte da desaceleração nas vendas no comércio varejista ampliado está relacionada ao setor automobilístico, que desde 2011 passou por um ajuste. Cabe destacar que as medidas macroprudenciais adotadas a partir de dezembro de 2010, tiveram impactos mais visíveis justamente nesse setor. Contudo, desde junho deste ano, com auxilio da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), já temos observado recuperação nas vendas de veículos. Seria possível argumentar que o maior consumo de carros reduziria o consumo dos demais bens, mas os dados mais recentes do IBGE, na Pesquisa Mensal de Comércio, não apontam para isso. Temos exatamente o contrário, ou seja, expansão generalizada das vendas varejistas, mesmo com a forte alta de vendas de carros.

Qual é a previsão do Bradesco para juro nominal, juro real, inflação, câmbio e crescimento do País neste ano e nos próximos? Justifique.
Atualmente trabalhamos com Selic nominal de 8,5% para 2013, partindo do patamar atual de 7,5%, que deve ser mantido até meados do ano que vem. Para o Produto Interno Bruto (PIB), esperamos alta de 1,6% em 2012 e recuperação para 4% no próximo ano. Em geral, temos um cenário de longo prazo positivo para a economia brasileira, a despeito do quadro global ainda complexo.

Países emergentes, como o Brasil, já sentem o efeito da crise internacional? Como o Brasil está se posicionando em relação a essa crise e quais medidas podem blindar a economia brasileira e sustentar o crescimento?
Além, é claro, da desaceleração da demanda externa, um impacto direto da crise nos países emergentes está relacionado ao canal de confiança, seja do empresário ou do consumidor. Nosso cenário não contempla um evento extremo na economia internacional, como, por exemplo, uma ruptura na Área do Euro. No entanto, contemplamos ajustes nessas economias, que terão como consequência no curto e médio prazos um ritmo de crescimento mais moderado. Dessa forma, temos observado a implementação de diversas medidas na economia brasileira para beneficiar o mercado doméstico e minimizar a moderação da economia internacional. Desde agosto de 2011, estamos em um ciclo de afrouxamento monetário, cujos benefícios têm sido reforçados por estímulos fiscais, que constituem ingredientes que impactam e impactarão positivamente na atividade econômica brasileira.

A economia, inclusive, está sendo sacudida por estímulos fiscais e monetários de variada abrangência e intensidade, como as reduções de IPI para bens duráveis e material de construção. Como você avalia essas medidas e quais outras poderiam favorecer o crescimento da atividade econômica?
Essas medidas já começam a surtir efeito no ritmo de crescimento econômico; a mudança estrutural no patamar de juros, ainda que tenhamos alguma elevação moderada no futuro, se houver inflação, é fundamental para alavancar os investimentos na economia, assim como as mudanças relacionadas às questões fiscais são essenciais para garantir a competitividade da indústria brasileira.

 

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