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Entrevista – Luiz Barretto, diretor-presidente do SEBRAE

Entrevista – Luiz Barretto, diretor-presidente do SEBRAE

Matéria reproduzida da revista Franquia Negócios – Edição 47

Luiz Barretto, diretor-presidente do SEBRAE

Caminho livre para os empreendedores – ‘Em breve teremos quatro milhões de novos empresários’

Por Gerson Genaro

Uma notícia surpreendente: até 2014, pelas projeções do Sebrae, os microempreendedores individuais (MEI) serão a maioria entre as empresas brasileiras. Com quatro milhões de empreendedores nessa categoria, que faturam até R$ 60 mil ao ano, o volume irá até mesmo  ultrapassar o número de microempresas. As pessoas hoje fazem mais negócios por que querem e não por necessidade. ‘Isso é muito positivo porque representa um movimento de formalização da economia invejável, não conheço nenhum outro país que tenha formalizado tantos empreendimentos em tão pouco tempo. O MEI tirou da informalidade cerca de 2,5 milhões de brasileiros e garantiu a eles a cidadania empresarial com o CNPJ e direitos previdenciários, como auxílio-maternidade, auxílio-creche, aposentadoria, entre outros’, destaca Luiz Barretto, diretor-presidente do Sebrae, nesta entrevista exclusiva.

O Sebrae completou 40 anos recentemente. Quais os principais avanços/conquistas merecem ser destacados ao longo deste período em benefício das micros, pequenas e médias empresas?
Tivemos o privilégio de completar 40 anos em outubro de 2012. Para chegar até aqui enfrentamos vários desafios, muito trabalho, mas tivemos diversas conquistas.Conseguimos ampliar nosso alcance e hoje temos escritórios em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal e mais de 700 pontos de atendimento em todo o Brasil. Nosso foco sempre foi levar conhecimento, capacitação e treinamento para os micro e pequenos empreendedores e potenciais empresários, a fim de fortalecer o empreendedorismo brasileiro e ajudar o País a crescer.

Se hoje temos quase 7 milhões de pequenos negócios no Brasil, cuja participação no PIB é de 25%, muito se deve ao trabalho de funcionários e parceiros do Sebrae. Atuamos para profissionalizar a gestão das empresas em todas as etapas e oferecemos soluções para a sustentabilidade dos negócios. Cursos e palestras, na sua maioria gratuita, e consultorias – cujo custo pode ser subsidiado em até 90% pelo programa Sebraetec – são alguns de nossos produtos.

O avanço mais importante para o segmento, sem dúvida, foi a criação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em 2006, que contou com amplo apoio do Sebrae. Trabalhamos em parceria com os parlamentares e com o governo federal para melhorar o ambiente legal dos pequenos negócios. A Lei Geral foi resultado de uma ampla luta do segmento para ter mais apoio e menos burocracia na hora de abrir o próprio negócio. Com ela, vieram o Simples, que é uma espécie de mini-reforma tributária que dá tratamento diferenciado os pequenos negócios. A legislação reduziu em 40% a carga tributária do pequeno empresário cujo faturamento máximo é de R$ 3,6 milhões por ano. Com ela surgiu também a figura do Microempreendedor Individual, categoria que fatura por ano até R$ 60 mil.

Possui planos desenhados a longo prazo para fomentar o setor? Quais principais pontos de seu planejamento estratégico para os próximos dez anos?
Temos o compromisso de tornar o Sebrae cada vez mais eficiente e por isso já estamos traçando nossos passos para os próximos dez anos. Nos últimos meses de 2012 identificamos um conjunto de cenários e tendências do País que foram determinantes para elaboramos­ o nosso Direcionamento Estratégico 2013-2022. Vamos propor soluções melhores e mais customizadas para os nossos clientes, que devem ser tratados de forma diferenciada e segmentada. Além das metas quantitativas, agora teremos metas qualitativas de atendimento. Tenho certeza de que nosso trabalho renderá bons frutos no futuro. Nosso objetivo é ser referência para os pequenos negócios e continuar contribuindo para o desenvolvimento e o fortalecimento da economia nacional.

Quais setores (comércio, indústria, serviços) deverão crescer mais na década e, consequentemente, receber maior apoio do Sebrae? E quais cenários imagina para a expansão das micro, pequenas e médias empresas?
Os setores de Serviços e da Construção Civil, que registram crescimento mais acentuado, vão continuar em expansão, embora o Comércio ainda prevaleça entre as micro e pequenas empresas. A elevação da renda das classes C, D e E ocorrida na última década proporcionou uma expansão do mercado interno brasileiro. O aumento da capacidade de consumo de mais de 40 milhões de brasileiros, chamados também de Nova Classe Média, gerou oportunidades de negócios. Justamente por exigir menores investimentos iniciais, o setor de Serviços é o que mais tem crescido, principalmente com a multiplicação dos pequenos negócios.

A taxa de mortalidade dos pequenos negócios ainda é elevada no Brasil, grande parte morre com menos de dois anos. O que precisa ser feito para reverter a imensa fragilidade dos pequenos empreendedores?
O índice de mortalidade das micro e pequenas empresas está em queda e, atualmente, 73% dos negócios sobrevivem nos dois primeiros anos, que são os mais difíceis. Há dez anos, metade das empresas fechava antes de completar dois anos. O aumento da taxa de sobrevivência se deve ao bom momento da economia brasileira, ao crescimento da escolaridade da população e, particularmente, ao aproveitamento das oportunidades pelos empreendedores. As pessoas hoje fazem mais negócios porque querem e não por necessidade. Nesse último item, há uma atuação direta do Sebrae. Capacitação é essencial. Um empreendedor não pode mais confiar apenas na experiência e na intuição para tocar um negócio próprio.

Quais os principais desafios e oportunidades para as micro, pequenas e médias empresas em 2013? Prevê crescimento do setor mesmo em um cenário de economia ainda morna?
Acreditamos que haverá uma recuperação econômica em 2013, o que vai favorecer o crescimento e o fortalecimento dos pequenos negócios no Brasil. Trabalhamos com metas mobilizadoras que orientam a nossa atuação em todo o País. Para este ano, teremos seis metas: ampliar o número de empresas atendidas; o de empresas atendidas com soluções específicas de inovação; o de atendimentos de Microempreendedores Individuais, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte e, ainda, o de municípios com a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa implementada. Iremos, cada vez mais, segmentar o atendimento do Sebrae de acordo com as características e demandas de cada porte de empresa, que são muito diferentes.

Como explicar o grande avanço dos MEI?
Em três anos já são 2,5 milhões de empreendimentos formalizados. Pelas projeções do Sebrae, os MEI serão a maioria entre as empresas brasileiras em 2014. Serão quatro milhões de empreendedores nessa categoria, que faturam até R$ 60 mil ao ano. Já ultrapassam o número de microempresas. Isso é muito positivo porque representa um movimento de formalização da economia invejável, não conheço nenhum outro país que tenha formalizado tantos empreendimentos em tão pouco tempo. O MEI tirou da informalidade cerca de 2,5 milhões de brasileiros e garantiu a eles a cidadania empresarial com o CNPJ e direitos previdenciários, como auxílio-maternidade, auxílio-creche, aposentadoria, entre outros.

A escolaridade do MEI está acima da média da população adulta brasileira, segundo pesquisa feita pelo Sebrae sobre o perfil dessa categoria. Quase metade dos MEI tem ensino médio ou técnico, participação superior do que a média da população adulta – que é de 26%. A maioria desses empreendedores trabalha sozinho em casa e tem mais participação no setor de Serviços.

Existe alguma mudança importante em curso na qualidade do empreendedorismo no Brasil? Hoje, a cada três pessoas que iniciam um empreendimento, duas o fazem por uma oportunidade de negócios. O que isto significa? Na década passada, a tendência mais forte era iniciar um negócio por vocação. Isto mudou?
A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mede o nível de empreendedorismo em 54 países há mais de uma década. No Brasil, a GEM é organizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade. A partir da GEM foi possível observar que há um aumento na taxas de empreendedorismo em estágio inicial no País e também na taxa de empreendedorismo por oportunidade. Desde 2003 a maioria das pessoas que empreendem é por oportunidade.

A cada pessoa que empreende, 1,24 faz isso por acreditar no negócio. Hoje, de cada três negócios abertos, dois são por oportunidade. Isso ocorreu devido à melhora da conjuntura econômica brasileira e do ambiente legal para os pequenos negócios. Os governos locais contribuíram para isso, principalmente naqueles estados e municípios que já regulamentaram a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Atualmente há mais de 3,9 mil municípios com este dispositivo, o que é um grande apoio para o empreendedorismo e também para a economia local, pois os pequenos negócios geram emprego e renda nas comunidades locais.

A expansão do setor de franquias descolou do PIB e hoje cresce mais do que 15% em média. Mas com a economia morna imagina algum impacto negativo sobre o setor? Qual sua visão sobre o futuro das franquias no Brasil?
O setor de franquias cresce no País e hoje é responsável por 2,3% do PIB. Nos últimos dez anos, o número de franquias saltou de 600 para mais de 2 mil, um crescimento de 238%. Esse salto colocou o Brasil em quarto lugar no ranking nacional, atrás apenas da Coréia do Sul, Estado Unidos e China. Hoje são mais de duas mil redes e 93 mil unidades franqueadas que geram mais de 800 mil empregos diretos. A taxa de mortalidade no setor de franquias é de apenas 5% e o crescimento médio do faturamento em 2011 foi de 16,9%. Tudo isso confirma o setor como um dos menos arriscados para empreendedores que estão iniciando seus negócios. Com o crescimento e o amadurecimento do setor, a construção de shoppings e a ampliação do poder de compra da classe C, vemos a necessidade de ampliar e aprimorar os produtos e serviços a serem oferecidos para os pequenos negócios.

O setor precisa aprimorar algumas áreas para garantir a sustentabilidade desse negócio. Melhorar a segurança jurídica, proporcionar mais transparência na relação franqueador/franqueado, e profissionalizar os atores envolvidos no processo são alguns dos desafios. A profissionalização do setor tem aumentado, mas existe muito espaço para ampliar esta realidade. E sob esse aspecto, o Sebrae pode contribuir muito. Vemos as franquias como uma oportunidade para os pequenos negócios e queremos trabalhar nessa frente.

Quais são os planos do Sebrae para o mercado de franquias em 2013 e nos próximos cinco anos?
O Sebrae atua no setor de franquias em quatro direções: difusão de informação; orientação; capacitação e consultoria. Desenvolvemos em todo o País o projeto Franqueador, composto por publicações e capacitações para os micro e pequenos empresários interessados nesse setor que estão disponíveis nas unidades do Sebrae nos Estados.

No fim de 2012, selamos um convênio de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), que deve resultar em um grande avanço para os pequenos negócios nos próximos dois anos. Vamos unir esforços para desenvolver a competitividade e ampliar a sustentabilidade das micro e pequenas empresas franqueadoras e franqueadas. Será uma grande chance de incrementar esses negócios com cursos de capacitação, acesso à mercados e pesquisas sobre o setor. Os funcionários do Sebrae terão a oportunidade de participar do Curso Avançado de Franchising, oferecido pela ABF. O Circuito Feira do Empreendedor, promovido pelo Sebrae, será um ambiente para divulgar e captar, ainda mais, as franquias. Produziremos cartilhas sobre micro franquias e a internacionalização do franchising.

Quem é Luiz Barretto

Luiz Barretto, 50 anos, é formado em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Desde fevereiro de 2011 é diretor presidente do Sebrae Nacional. Antes disso, já havia atuado na instituição, entre março de 2005 e março de 2007, como gerente nacional de Marketing e Comunicação. Foi Ministro do Turismo no período de setembro de 2008 a dezembro de 2010. Exerceu o cargo interinamente entre junho e setembro de 2008. Também foi secretário executivo do Ministério entre março de 2007 e junho de 2008.

Sua vida pública teve início na década de 80, na Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e no Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), ambos de São Paulo. Exerceu funções de direção nas prefeituras de São Paulo, São Vicente e Osasco, onde foi secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento. No PT (Partido dos Trabalhadores), foi secretário adjunto da SNAI (Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais) do Diretório Nacional.

 

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