“Dinamismo é a palavra do momento”

“Dinamismo é a palavra do momento”

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Historiador Leandro Karnal fala sobre os desafios do atual momento político e econômico do País. Estabilidade não é mais uma opção para quem quer acompanhar a evolução dos relacionamentos

Dono de análises polêmicas, mas profundas, o historiador Leandro Karnal é uma das personalidades mais requisitadas do universo acadêmico nacional atualmente. O especialista é uma das atrações do 3º Congresso Internacional de Franchising ABF, que acontece em abril, em São Paulo.

Em meio a uma das maiores crises políticas e econômicas dos últimos anos, o especialista tem a missão de trazer uma mensagem de esperança aos empresários. Ao que se apegar em períodos de mau humor generalizado e, como ele mesmo diz, contagiante? “A felicidade não vem do governo e a infelicidade do governo pode, sim, lhe atingir, mas o controle de danos está um pouco mais ao seu alcance do que parece”, afirma.

Karnal concedeu uma entrevista à Revista Franquia & Negócios ABF falando sobre o atual período de transição pelo qual o País passa e quais podem ser as possíveis saídas para um futuro melhor.

O Brasil vive atualmente um período de transição. Como as relações humanas mudaram nos últimos tempos?
Todos os períodos são de transição e todos os seres humanos estão sempre em mudança para outro ponto. Em alguns momentos, como este, as transformações se aceleram e temos mais dificuldade em localizar as referências. Como uma geração não reconhece mais na outra os valores que a guiaram, clamam como decadência o que é mudança. Ler num tablet não é melhor ou pior do que ler em papel.

As relações humanas foram impactadas pelas mudanças na economia?
Sempre são e, pela circularidade, impactam também a economia. Ou seja, comportamentos sociais e economia pertencem a um círculo e não apenas a relações diretas de causa/efeito. O que sou me faz mudar meu consumo; a mudança no meu consumo produz novas necessidades e produtos, e isso atua sobre o que eu sou.

Como as empresas devem se adaptar para entender essa nova realidade?
Dinamismo é a palavra do momento. A ideia de estabilidade ficou muito atacada. Assim, sobreviver hoje é reinventar-se com muita frequência, ampliar foco, atuar em novos campos, destacar-se, aprimorar e ter em mente o que será feito.

É lugar comum dizer que a crise é oportunidade de reinvenção, mas como identificar essas janelas em meio ao pessimismo generalizado?
Pessimismo existe, mas sempre é usado por pessoas já derrotadas. O pessimismo é um dado concreto e um senso de realidade, até saudável no fundo. Porém, ele é apropriado por pessoas que desejam não fazer algo.

O que tem contribuído para a disseminação do mau humor na sociedade?
Tudo é contagioso socialmente, é difícil sair da manada. Uma grande consciência ajuda a observar o que parece ser dominante, e oferecer outra solução. Redes sociais aumentaram o cinismo como estratégia: não acreditar em nada parece ser uma boa defesa contra o fracasso. Funciona como o adolescente que chega à festa entediado: assim, se ele for rejeitado, a dor será menor. Mau humor e pessimismo são máscaras de defesa do fracasso. Tédio pode ser a atitude prévia de quem tem medo de fracassar. Assim, quando eu fracasso, uma parte minha fica satisfeita: eu já sabia que isso não poderia dar certo.

Existe uma exacerbação propositada da gravidade do momento, na sua visão?
Já houve crises mais graves. Se a você assusta hoje uma inflação de 11% ao ano, lembro que o ultimo mês do governo Sarney teve mais de 80% ao mês. Destacar a crise é importante para tomar medidas adequadas, mas geralmente é uma reflexão paralisante. Sim, exacerbar a crise atende a diversos interesses políticos e a muitas questões psicológicas.

Como a polarização política tem influenciado o momento do País?
O diálogo político emburreceu muito. Bipolaridade é grave distúrbio psiquiátrico. Nada ataca mais a inteligência do que a falta de matizes e contradições. A bipolarização responde a um meio geral pouco inteligente, que só entende questões maniqueístas. Mas, aqui termina a possibilidade da metáfora; o bipolar do consultório psiquiátrico é, geralmente, dotado de inteligência acima da media. A discussão bipolar, socialmente, é dotada de inteligência bem abaixo da média.

Essa situação tem gerado diversos episódios de intolerância, seja física ou virtual. É possível combater isso?
Há um ciclo de polarização e, neste momento, pouca gente quer escutar e todos querem falar. Muitos têm boca, mas quase ninguém tem ouvido. É um momento que vai piorar, para depois existir uma possível reação. O problema é que o ódio é um grande argumento, especialmente pelo poder anestésico que ele tem.

Em quais fatores as pessoas podem se apegar para ter esperança no atual cenário nacional?
No seu trabalho, na sua capacidade, na sua rede afetiva, que não são independentes do todo social, mas não são inteiramente dependentes. Mas, a solução não é o individualismo pequeno burguês: vou me fechar no meu mundo. Acho que está faltando cada um fazer o que deve ser feito, votar bem, viver com quem interessa e manifestar-se quando há um motivo muito relevante. Há poucas brigas que valem a pena no mundo. Escolha as suas, não escolha todas. Sim, há problemas graves. Mas a pergunta incômoda: se o presidente do País fosse Jesus Cristo, sua vida sexual, familiar, seu equilíbrio psicológico, sua satisfação com seu corpo, seus amigos, sua inteligência, sua aparência e sua renda seriam inteiramente satisfatórios? Acho que um inimigo público funciona da seguinte forma: à medida em que eu odeio uma personagem eu estou livre para não me olhar, nem ao meu mundo. Isso isenta a personagem corrupta ou a incompetência técnica de algum dirigente? Certamente não, mas odiar parece isentar a mim de refletir sobre minha ética ou sobre a dimensão trágica da minha existência.

 

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