Qual é o seu lugar no mundo?

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Visão do capitalismo consciente começa a movimentar empresas mundo afora e também já é realidade no Brasil. Especialistas apontam que reinvenção do capitalismo ditará a sobrevivência das companhias
Alguns empresários e consultores motivacionais costumam dizer que por trás de todo CNPJ há um ou vários CPFs. De acordo com o capitalismo consciente, movimento que tem envolvido muitas companhias na última década, essa máxima é ainda mais abrangente: um CNPJ impacta diretamente a vida de diversos CPFs e precisa fazer a diferença no mundo.

Um dos precursores desse movimento, o indiano Raj Sisodia, co-fundador e co-presidente do Conscious Capitalism Inc, esteve no Brasil em agosto para o lançamento do livro Empresas Humanizadas. Ele já tinha pisado em solo nacional em outras situações, tanto para lançar o livro Os Segredos das Empresas Mais Queridas, como para acompanhar alguns de seus “orientandos”, entre eles o ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz.

O indiano defende que a internet e a tecnologia mudaram drasticamente o relacionamento do ser humano com as empresas. O capitalismo puro, como é exercido desde a Revolução Industrial, já não atende às exigências das pessoas cada vez mais desconfiadas das reais intenções das empresas. O que levou o mundo a chegar a esse caminho? A busca desenfreada pelo lucro, focando apenas nos resultados e esquecendo o processo que leva até lá. “A crença é que as empresas não existem para gerar lucro, mas sim para gerar valor para a sociedade. O lucro é um dos valores para esse ecossistema”, explica o diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Thomas Eckschmidt.

Liderança

 

A proposta do capitalismo consciente é fazer com que a empresa encontre seu lugar no mundo e gere valor não apenas monetário para todos os stakeholders (agentes envolvidos). Para que o conceito se dissemine pela empresa, o líder precisa ser o primeiro adepto natural da postura, segundo Eckschmidt. Esse é o passo inicial para ter uma empresa diferenciada. “Sai de um câmbio meramente monetário para uma troca de valor para os stakeholders”, afirma.
As empresas que adotam o capitalismo consciente como filosofia não costumam fazer uso disso para se autopromover, segundo o especialista. Não se tratam de ações pontuais ou campanhas de marketing, e sim engajamento real. “As que têm práticas de capitalismo consciente não precisam investir tanto quanto as tradicionais. O boca a boca é mais forte. Quando a empresa começa a falar, ela se contradiz. Os consumidores têm um engajamento muito maior do que com as que fazem apenas propaganda”.
A identidade da companhia passa a ser única, pois cada uma contribui de uma forma para um mundo melhor. Por mais utópico que isso possa parecer, se mostra real no comportamento das pessoas que são envolvidas pelo ecossistema. “O mercado consegue copiar estratégia de marketing e de preço, mas não o comportamento coletivo dos stakeholders”. Ainda segundo a visão de Eckschmidt, os consumidores de marcas conscientes costumam ser mais satisfeitos. “Se focar no resultado, você distorce o processo. Se foca no processo com os valores que podem ser gerados para cada um dos stakeholders e engajamento superior dos consumidores, gera consequentemente mais produtividade e maior lucro”, afirma.
Pedalando pelo mundo
A marca curitibana EcoBike Courier foi criada em 2011 com o propósito de empregar logística sustentável, minimizando os poluentes emitidos na atmosfera. “Em São Paulo morrem entre 10 e 15 pessoas por poluição, por dia. Diminuindo o número de motociclistas, reduz o número de acidentes, pois atualmente um morre por dia”, afirma o fundador da marca, Cristian Trentin. É possível contratar o serviço de três formas: biker fixo, corrida avulsa e por campanhas personalizadas.
Atualmente, a rede opera com seis unidades sediadas em Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Campinas (SP), Cascavel (PR), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). A meta é chegar a 85 e expandir para fora do País.
A EcoBike Courier atende mais de 300 empresas, entre elas O Boticário, Saraiva, HCor, BRMalls, Amil, WiseUp, Geração Sustentável e Banco Itaú. A ideia é começar a procurar grandes players de e-commerce quando chegar às desejadas 85 unidades. “O franqueado que procuramos tem que ter interesse em sustentabilidade e mobilidade urbana”.
De acordo com informações da empresa, os bikers das franquias já andaram o equivalente a seis voltas ao mundo em entregas, o que evitou mais de 17 toneladas de gás carbônico na atmosfera.
Ainda dá tempo

O trabalho que a  MyGloss vem desenvolvendo mostra como adequar suas atividades ao novo capitalismo, defendido por Sisodia. A marca de acessórios quis fazer a diferença na comunidade em que está inserida e transferiu a fabricação de peças para microempreendedoras.

“Eu sirvo para trazer algum benefício com a minha existência. Sirvo para ajudar a comunidade, meu fornecedor, meu funcionário. Dentro desse contexto começamos a fazer uma primeira parte, que é a produção dos produtos por meio de microempreendedoras que são treinadas e inseridas no mercado de trabalho por nós”, explica o CEO da marca, Rodrigo Stocco.

O objetivo da ação é viabilizar a produção dentro do Brasil, deixando a importação, comum neste mercado, em segundo plano. “As microempreendedoras produzem mais ou menos metade do montante, vamos evoluir para cooperativas. Hoje temos em torno de trinta empresas cadastradas”. Todas ficam concentradas em São Paulo e a maioria trabalha de casa. “A nossa proposta é que a engrenagem da empresa rode beneficiando todos os envolvidos”.

Além da linha de produção, a rede abriu mão dos royalties que a franqueadora deteria com a linha My Feelings, direcionando para a ONG Amor Horizontal. “Fechamos com ela, pois atende várias outras ONGs. É uma parceria significativa e direcionada, pois corresponde em torno de um terço das vendas”.

Engajamento

 

Presente há 27 anos no calendário do McDonald’s Brasil, o McDia Feliz é uma das ações de maior engajamento de consumidores dentro do franchising nacional. A rede angaria, em média, 30 mil voluntários no dia da campanha, fora nos eventos que antecedem a data. “É bem diferente na maioria dos outros países. Aqui tem um envolvimento forte da comunidade local. Isso faz com que as pessoas se sintam donas do McDia, pois não é uma instituição que só recebe a doação, ela participa desde o planejamento, desenvolvimento e divulgação dos resultados”, explica o superintendente do Instituto Ronald McDonald, Chico Neves.

Apesar de o McDia Feliz acontecer em apenas um sábado em meados de agosto, a campanha acontece por todo o ano. Segundo Neves, os funcionários conhecem a causa e as instituições beneficiadas e se engajam, contribuindo fortemente para a divulgação dos cofrinhos, por exemplo.

Segundo Eckschmidt, nunca é tarde para virar a chave para o capitalismo consciente. No entanto, ele frisa o alerta da importância de não transformar uma postura em campanha de marketing. “A empresa tem que passar por um período de conscientização, entender o processo, se inspirar no conceito e buscar algum método de educação para mudar principalmente a liderança”, aconselha.

 

Publicado em 16/10/2015
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