Os segredos de uma equipe campeã

Os segredos de uma equipe campeã

Marcelo Negrão era parte da primeira seleção brasileira de vôlei masculino que conquistou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Hoje, ele aplica o que aprendeu enquanto time no seu próprio negócio

Barcelona, 1992. O desacreditado time Brasil de vôlei masculino disputava a final olímpica com a Holanda. Terceiro set, o placar marcava Brasil 14, Holanda, 5. Marcelo Negrão arma um saque que pode ser decisivo para mudar a história do País nos Jogos. Ele sabe a pressão que enfrenta. A torcida eufórica acompanha cada movimento do atleta. O juiz apita. Negrão salta, bate na bola e a joga certeiramente na mão de um jogador do time rival, que não consegue alterar o rumo do destino com sua defesa. O Brasil foi campeão em uma modalidade de grupo pela primeira vez.

Todo o time sai correndo em direção à arquibancada. A torcida verde e amarelo invade a quadra. O então técnico, José Roberto Guimarães, emocionado, é abraçado por todos ao redor. Era uma conquista inédita.

Aquele saque de Negrão foi o último passo responsável pela tão sonhada primeira medalha de ouro para um esporte coletivo para o País e o reconhecimento do vôlei nacional, mas o atleta lembra que houve uma grande trilha até chegar aquele momento.

Negrão comenta que o resultado na quadra foi fruto de muito trabalho nos bastidores. A equipe forma um só corpo e precisa ter sinergia. Assim como uma franqueadora, o técnico é o franqueador do know how e os jogadores devem colocar em prática o modelo de negócio que aprendem para atingir o sucesso.

A equipe nacional voltou a ser emoldurada com medalha de ouro em 2004, em Atenas, e em 2016, no Rio de Janeiro.

Atualmente, o atleta comanda a sua própria academia, Estação Fitness, e ministra palestras sobre trabalho em equipe e foco em metas. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Revista Franquia & Negócios ABF.

Você faz parte do time que trouxe a primeira medalha de ouro olímpica para o vôlei masculino e mudou completamente o panorama do esporte por aqui. Hoje, 25 anos depois, como você vê isso?

Nosso grupo não era um dos mais fortes e conseguimos superar todos. Tivemos um trabalho de equipe muito forte, desde o líder, que era o Zé Roberto na época, até aqueles que estavam ali para ajudar. Ninguém queria ser mais do que ninguém, éramos iguais.

Qual a receita de um time campeão?
Um dos ensinamentos que tive foi fazer o máximo com o mínimo. Não tínhamos dinheiro, investimento nenhum, éramos desacreditados, mas, estávamos estimulados. Pensávamos: para mim, o cara que está comigo é o melhor do mundo. Precisávamos, juntos, nos motivar para as pessoas que estavam lá acreditarem que eram as melhores do mundo no momento.

Quais eram os desafios que vocês precisaram enfrentar para chegar ao objetivo?
A verdade é que, no Brasil, quando estamos em esporte de alto rendimento, se não ganhamos, não somos nada. Era uma oportunidade que tínhamos, como qualquer outro. Começou todo mundo igual, mas tínhamos menos condições do que os times que eram favoritos. Sabíamos que, mesmo ganhando medalha de bronze ou prata, não ia adiantar, tinha que ser ouro. Segundo a cultura do nosso País, precisa ser primeiro o tempo todo. Desde pequeno, quando comecei no esporte, eu sabia que a cobrança era muito cruel. Não dá tempo de se adaptar, aprender língua, tem que ir lá, dar seu jeito e ganhar.

É possível relacionar a cultura da franquia, do relacionamento em rede, com um time de vôlei?
É tudo baseado em trabalho em equipe. As pessoas que são comandadas precisam enxergar o cara no comando como um líder, respeitar a história, não precisa admirar, mas respeitar. Ele precisa saber o que está falando. Hoje em dia, se o líder dá uma ordem, sem explicar o porquê, e os funcionários não acreditam naquilo, veem que o negócio não está indo bem, fica difícil. A equipe precisa estar motivada o tempo todo, precisa elogiar, reconhecer. Todo mundo gosta de ser elogiado.

Qual legado a primeira medalha de ouro trouxe para o vôlei nacional?
Abrimos as portas do “podemos” para o “fazemos” e isso atrai investimento. Quando entra em campo sabendo que é possível chegar lá, que já foi feito e tem essa condição, fica mais fácil. A parte “extra quadra” ajuda bastante, foi aí que quebramos o medo, saímos do quase para a vitória. Foi o principal passo para o vôlei chegar ao que é hoje. Todo mundo agora tem respeito pela seleção brasileira e isso é um ponto a favor. Todo mundo entra em quadra para jogar respeitando. As outras equipes não tinham respeito antes disso e a minha geração ganhou praticamente todos os títulos por muitos anos. O vôlei brasileiro é muito valorizado por conta de tudo que se tornou.

Você traz esse aprendizado para a gestão da Estação Fitness?
Sim. Eu tento trazer tudo que aprendi para a minha empresa. Tentamos fazer nosso melhor na academia, investir e fazer disso aqui o melhor lugar para todo mundo. Assim, colocamos nosso espírito. Hoje em dia uma coisa muita rara é as pessoas que entram na academia serem reconhecidos pelo nome, por exemplo. Saber de histórias e da vida pessoal de cada um faz a diferença. O aluno, geralmente, é um número, mas para nós não.

Como você aplica isso no dia a dia?
Todos precisam se ajudar, desde a moça da limpeza até o professor da academia. Todo mundo se ajuda e todo mundo ganha. Todos precisam ter a visão de que academia suja e atendimento ruim não fidelizam alunos. O professor precisa ser atento, passar um bom treinamento, fazer com que o cara renove o plano e ajude a atrair outras pessoas para a academia. Hoje, sou uma empresa de médio porte, brigo em uma escala média e tento ganhar, como se fosse naquela Olimpíada.

Você tem planos de transformar a academia em franquia. Como anda o plano de expansão?
Tínhamos um número que seria possível para realizar uma franquia de academia, mas aí veio a crise. Precisamos formatar um modelo novo de negócio. O que pega agora é a parte financeira, quanto vai custar o investimento. Os consumidores estão trocando as academias pela corrida na praça, ficou inviável. As duas pontas precisam ganhar, franqueado e franqueador, senão não dá. Eu quero ter uma franquia com o meu nome, levar para outros lugares, mas precisamos pensar o modelo direito.

 

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