Os filhos do franchising

Os filhos do franchising

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Matéria reproduzida da revista Franquia Negócios – Edição 50

Nos últimos meses, o Brasil viveu um período atípico na história recente, mas que remonta os idos de 1984, nas manifestações conhecidas como Diretas Já, que originaram as primeiras eleições diretas depois de mais de vinte anos de militares no poder. Em 2013, jovens de todo o País saíram às ruas com o intuito de protestar por melhorias nas condições de vida e na administração pública, similar ao que foi feito na geração de seus pais, há quase trinta anos, e que hoje faz parte dos livros de História.

Revista Franquia Negócios Ed. 50“A juventude brasileira tem se revelado de maneira intensa nas ruas e nas redes sociais. Provou grande capacidade de articulação, criando verdadeira onda de mobilização e transformações. Deixou clara a sua vontade de participar não apenas como espectador ou protagonista, mas como produtor das decisões do seu país”, revela o primeiro fascículo do estudo Juventude Levada em Conta, recém-divulgado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República com o apoio do Instituto Econômico de Pesquisas Aplicadas (Ipea).

Segundo a pesquisa, essa força jovem – formada atualmente por 51 milhões de jovens brasileiros de 15 a 29 anos, que representam 26% da população – expõe suas demandas e traz à tona o desafio de todo o País em assegurar a oferta de condições e oportunidades para que essas mais de 50 milhões de pessoas possam vivenciar plenamente a sua juventude e tomar, de forma consciente, decisões que irão impactar na sua vida adulta.

A marca deixada por essa geração não passará em branco, mas isso não se restringe a mudanças sociais ou políticas. A nova geração também está revolucionando outras áreas, como os negócios. “O Brasil está envelhecendo, o pessoal que está aí se aposenta daqui a dez anos. Os investidores estão cada vez mais jovens. Esse público vai crescer muito no franchising, eles é que vão movimentar, revolucionar”, avalia o diretor da CS Business Franchising, Natal de Carvalho.

Revista Franquia Negócios Ed. 50Segundo estudo divulgado pelo instituto Data Popular, 65% dos jovens de hoje estudaram mais do que seus pais. A média de anos de estudo atingida pela nova geração é 77% maior que a registrada pelas mais velhas. As condições econômicas do País nos últimos dez anos permitiram que esse feito fosse possível. Com isso, o acesso ao crédito, o aumento de empregos formais e a melhoria da renda foram os fatores determinantes, na visão do sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles.

“Essa mudança de vida possibilitou aos brasileiros investir em seus sonhos de consumo, entre eles a educação. Filhos que são os primeiros universitários da família já fazem parte da realidade destes brasileiros”, afirma.

Com mais instrução, os jovens de hoje se tornaram líderes melhores do que os do passado, na visão de Meirelles, mas muito do que era feito pelos jovens de ontem ainda é praticado pelos de hoje. “O legado da geração passada foi de luta e determinação por um futuro melhor para a sua família, agora o legado da geração atual está vinculado ao investimento nos estudos, ou seja, um aprendizado diário”.

O franchising, como um setor em constante mutação, também tem sentido a influência dos jovens investidores, que deixam sua marca cada vez mais presente nos negócios. Filhos que cresceram vendo seus pais franqueados, hoje seguem o mesmo caminho e aperfeiçoam aquilo que já existia. “Esse público vem com ideias inovadoras. Ele movimenta as características de todo o negócio. É uma geração mais aberta à inovação do que as anteriores”, afirma Carvalho.

Kelyman Andrade Silvério é um desses jovens adultos que seguiu o caminho dos pais. O empreendedor de 30 anos ainda era uma criança quando sua mãe já trabalhava com uma loja de produtos da marca O Boticário em Unaí (MG), e depois passou a ser uma das primeiras franqueadas da rede. “Eu acompanhava tudo desde cedo. Em datas comemorativas ia junto, carregava caixas, ajudava a montar as coisas”.

Revista Franquia Negócios Ed. 50Aos 15 anos, o jovem Kelyman fez intercâmbio e depois cursou Direito até o nono período, mas trancou a faculdade. “Vi que não queria trabalhar nessa área, queria mexer com varejo. Ir para dentro da loja”. E ele foi, em 2008, para dentro da primeira loja que dirigia em conjunto com a família. Hoje já são seis lojas franqueadas de diferentes marcas, sob o comando da mãe e da irmã e com os cuidados financeiros de Kelyman.

O primeiro voo solo do empreendedor, no entanto, foi com a aquisição de uma unidade da marca Love Brands­, inaugurada esse ano, também em Unaí. “Eu faço tudo na loja, me inspiro muito na gestão que vivi com O Boticário. Desde recursos humanos, compras e administração”. Kelyman conta que sempre que tem dúvidas quanto à operação do negócio, recorre à larga experiência da mãe para saná-las. “Com a minha mãe eu aprendi a ter perseverança. O negócio passou por fases difíceis. No entanto, ela trabalhou muito e nunca desistiu”. Da mesma forma, o empreendedor acredita que características próprias ajudaram a aumentar a receita da família. A mãe tinha apenas uma loja e pensava em parar por aí, a visão de adquirir mais franquias foi do filho empreendedor.

Até mesmo a marca escolhida teve influência do que vivenciou durante a infância. Como na época em que sua mãe se tornou uma franqueada, a marca de cosméticos ainda era nova no mercado, Kelyman optou por escolher uma rede pouco conhecida, mas com potencial de crescimento em sua região, devido à ausência de concorrentes de peso. “Foi a Love Brands que me proporcionou essa aventura pelo franchising sozinho. Uma empresa de baixo investimento e retorno bem legal, estou gostando muito”.

Formação

Ao trocar o ofício de Direito pelo franchising, Kelyman tomou um caminho cada vez mais natural entre os jovens empreendedores. “O jovem hoje conhece mais do que o do passado, se forma mais, estuda mais cedo, mas não procura cargos na profissão. Muitos advogados, por exemplo, se formam e viram franqueados”, comenta Carvalho, da CS Business Franchising.

Na visão do especialista, o franchising comporta diversas formações acadêmicas e os jovens podem colocar seus estudos em prática. “Os franqueados mais antigos esperavam pela franqueadora para fazer seu marketing, já os novos usam as mídias digitais pra divulgar o negócio deles”, afirma o diretor da CS Business Franchising.

O pai de Alexandre Sacchi, franqueado da rede Divino Fogão, resolveu investir em franchising após a aposentadoria. Ele optou pela rede de restaurantes e o filho começou a trabalhar logo no início da operação. Assim como Kelyman, Alexandre morou fora do País e atuava em outra área antes disso.

Hoje, aos 37 anos, Alexandre dirige a loja do Shopping Vila Lobos, em São Paulo e os pais já abriram outra unidade. “No ano passado entrei em mais duas em Florianópolis”. Alexandre faz parte da comissão de marketing da franqueadora e participa de reuniões mensais. O empreendedor considera os encontros e as ideias trocadas em cada um deles tão importantes quanto uma graduação em administração. “Eu sei que ainda não estou totalmente formado. Continuo aprendendo com meus pais, com a minha franquia”.

Vivência

Revista Franquia Negócios Ed. 50Quando Bruno Galhardi tinha três anos, sua mãe adquiriu a escola de idiomas Centro Britânico, que se tornaria mais tarde uma rede de franquias de ensino. Como era muito pequeno, Bruno passava boa parte do tempo no trabalho com seus pais, brincando no ambiente e já tendo a vivência do empreendedorismo. Quando cresceu, Bruno se formou em Publicidade e se tornou diretor de arte de uma agência. “Comecei a perceber que eu não me desenvolvia naquela função. Despertei o interesse em gerir um negócio, navegar em todas as áreas, mas eu não sabia nada de mercado, passava longe de financeiro”.

Bruno começou a ter contato com o franchising quando viajou para os Estados Unidos e conheceu o maior mercado do setor no mundo. O que o levou a pensar na escola dos pais, no entanto, foi a percepção do quanto deficitário era o inglês dos brasileiros no exterior. “As franquias de inglês que existiam não estavam atendendo a demanda do mercado. Tinha um monte de escolas, mas ninguém falava inglês. Isso me motivou a entrar no Centro Britânico”.

Em 2008, Bruno começou a trabalhar na holding Central de Franquias, que possui diversas marcas e uma delas era o Centro Britânico. A intenção era ajudar a formatar o negócio para o franchising, com base no que viu nas duas vezes em que trabalhou nos Estados Unidos. “Quando eu voltei, acelerei esse sonho deles de ter a marca como franquia. Antes eram duas unidades próprias e três licenciadas”. Bruno era responsável por dar suporte aos primeiros franqueados da marca e aprendeu bastante sobre o ramo até 2010, quando a parceria com a holding foi desfeita.

“Quando saí da Central de Franquias, eu ia para outra empresa, mas meu pai não deixou, disse que eu tinha que ficar lá”. No entanto, Bruno comenta que o receio de assumir um negócio da família pesou na decisão de assumir a companhia, em 2011. “Nunca tive autonomia para colocar minhas ideias em prática nas outras empresas, então eu tinha medo de mexer em muita coisa e não dar certo. Já pensou levar o negócio da família de décadas para o buraco?”.

Com o passar do tempo, Bruno percebeu que suas ideias, por mais destoantes que fossem do que havia sido praticado até então, não trariam o risco que imaginava e sim melhorias para o negócio. “Comecei a ter mais segurança em relação a isso”.

Desde que o único herdeiro homem da marca assumiu a liderança, o Centro Britânico passou de 16 para 34 unidades. A expectativa é fechar o ano com 42 pontos. “Meus pais hoje fazem parte de um conselho junto com outros dois sócios. Eu recorro a eles quando preciso de informações do que foi feito no passado”. Quando olha para o mercado hoje e compara com o que via no passado, Bruno percebe uma evolução significativa. “O inglês básico todo mundo precisa ter atualmente, então as pessoas começam a estudar fora. Nós aplicamos a prova de Cambridge”.

Bruno conta que o maior desafio que encontrou ao assumir o Centro Britânico foi na profissionalização da marca. As áreas não se conversaram e foi preciso estabelecer a comunicação interna. “Foi muito difícil ajustar isso, porque eles já trabalham há 30 anos dessa forma”.  A pretensão é crescer cada vez mais e expandir as áreas de atuação da marca. Bruno adianta que pretende inserir o Centro Britânico em outras searas do mercado de ensino, mas não revela quais, por enquanto.

Apesar de todos os méritos, não são só coisas boas que essa geração deixará de legado para os jovens do futuro. A facilidade de lidar com a tecnologia e a capacidade de absorver muita informação ao mesmo tempo podem trazer problemas também. “O lado negativo é que não possuem a sensatez e tranquilidade das gerações anteriores na hora de fechar novos negócios, são impulsivos, o que às vezes faz a diferença”, comenta Meirelles, do Data Popular. Ou seja, a revolução é benéfica e necessária para revitalizar o setor, mas o conhecimento e poder de absorção e observação à moda antiga ainda caem bem.

Quantos são os jovens brasileiros?

No Brasil, com a aprovação em 2010 da Proposta de Emenda Constitucional nº 65, conhecida como PEC da Juventude, o termo jovem passa a ser incorporado ao texto da Constituição Federal e a representar os brasileiros com idade entre 15 e 29 anos completos. Além desse recorte amplo, a juventude também é comumente dividida em três subgrupos:

jovem-adolescente, com idade entre 15 e 17 anos
jovem-jovem, com idade entre 18 e 24 anos
jovem-adulto, com idade entre 25 e 29 anos

 

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