Início Revista Franquia e Negócios Revista Franquia e Negócios - Abr/17 “O maior desafio na internet é a credibilidade”

“O maior desafio na internet é a credibilidade”

“O maior desafio na internet é a credibilidade”

Os paulistas Iberê Thenório e Mariana Fulfaro formam um dos casais mais conhecidos do YouTube atualmente. São 7,5 milhões de seguidores no canal Manual do Mundo e mais de um bilhão de visualizações nos mais de 1,2 mil vídeos postados em oito categorias – que inclui uma série periódica.

Mariana será uma das palestrantes do 4º Congresso Internacional de Franchising ABF e falará sobre as oportunidades que o YouTube pode oferecer para alavancar os negócios das franquias, mas ela própria sabe dos desafios que enfrenta para empreender no ambiente hostil da internet.

O Manual do Mundo surgiu em 2008. Thenório e Mariana saíram de Piedade, interior de São Paulo, para estudar na capital, mas só se conheceram anos depois. Eles perceberam que era expressiva a demanda de pessoas que não sabiam executar tarefas corriqueiras, como pintura de casa e troca de lâmpada, e que poderiam buscar um “how to” (como?, em tradução livre) na internet. Com isso, o portal surgiu para ser uma espécie de enciclopédia.

Ambos continuaram em seus trabalhos e conduziam o Manual do Mundo nos horários livres. O YouTube surgiu como uma alternativa gratuita para armazenar vídeos, que seriam compartilhados no site. “Com o tempo, eles foram crescendo e nós crescemos junto, naturalmente”, explica Mariana.

Os primeiros vídeos gravados pelo casal tinham aspecto caseiro, bem diferente do que é possível ver hoje, e abordavam temas simples, por exemplo, como afiar facas ou assoprar dentes-de-leão. Hoje, a marca já transcendeu os limites da internet. Confira os detalhes na entrevista a seguir:

Como começou tudo, só com você e o Iberê?
No começo ele apresentava e eu ficava atrás das câmeras. Era um caos. Ele não sabia apresentar e eu não sabia mexer em câmera. Era muito ruim. Chegávamos cansados do trabalho e tínhamos que fazer. Hoje temos quem faça isso. Trazer gente nova faz com que a qualidade do produto melhore, cada pessoa vem com seu repertório.

Depois de entrar no YouTube para armazenar os vídeos, como conseguiram impulsionar o canal?
No início de 2011, montamos um calendário, que começou com um convite de um blog chamado Whohoo, que existe até hoje. Ficamos lisonjeados, pois eles eram muito famosos e nos notaram. Toda terça-feira colocamos um vídeo sobre “experiência” (a periodicidade se mantém até hoje). A nossa parceria com o Whohoo era que o nosso vídeo ia para o blog na segunda-feira e para o canal na terça. Isso ajudou muito a impulsionar.

Foi quando vocês se profissiona­lizaram…
Nesse mesmo ano, viramos empresa, uma produtora com CPNJ, e levamos nosso negócio mais a sério. Só conseguimos sair de nossos empregos em 2012, e passamos a nos dedicar 100% ao Manual do Mundo. No começo era só nosso repertório pessoal, hoje temos uma biblioteca com livros e itens que trazemos de diversas partes do mundo, além de sugestões muito loucas das pessoas. Recebemos muitas!

Como os temas são selecionados?
Hoje a equipe cresceu, migramos o depósito de pautas do antigo Drive para o Trello. Quando a pauta é aprovada, tem que ir para teste. Se der certo, apresentamos no canal. O “how-to” não pode ensinar algo que não funciona, ou não sabe porque funciona. Se não soubermos explicar, congelamos a pauta e vamos aprender. Essa é a nossa diferença em relação aos outros.

Essa interação mais próxima entre admiradores e os criadores do conteúdo, proporcionada pela internet, tem revolucionado a comunicação, na sua visão?
Sem dúvida! É por isso que as pessoas gostam tanto da internet e do YouTube. Elas têm contato direto com quem está produzindo, sabe que vão ter uma resposta ou, ao menos, serão lidos. Conseguimos ler 90%, não respondemos tudo, mas cartas respondemos todas. O volume é pequeno, mas é diferente, é simbólico. A carta traz toda uma pessoalidade e aproxima as pessoas. Por meio dela a gente abraça e beija. Temos o privilégio de não ter muitos haters (odiadores, em internetês), mas quando vem comentário negativo, nós avaliamos, ponderamos, mensuramos o volume e, se necessário, reavaliamos a nossa postura.

Qual a estrutura do Manual do Mundo hoje?
Somos em 15 pessoas, sendo sete fixas no escritório. Quando a empresa cresce, passa a precisar de pessoas que façam coisas que você achava que nunca fosse precisar: comercial, assessoria de imprensa, jurídico etc. As pessoas externas são responsáveis por projetos como o #Boravê, que é uma série, dentro do canal, que mostra locais em que as pessoas dificilmente podem entrar. Não teríamos como fazer isso daqui.

Quais os desafios de empreender com um negócio totalmente orientado à internet?
O maior desafio na internet é a credibilidade. Levamos o Manual do Mundo muito a sério e encaramos que nossa missão é de ensinar e dizer coisas sérias, entretendo. Isso influencia em nossas escolhas de parceria. Fomos procurados pelo Ministério da Educação para falar sobre a Reforma do Ensino Médio, mas recusamos, não tem sinergia conosco. Em contrapartida, fechamos com a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), porque é nosso universo.
Talvez sejamos os únicos com entretenimento educativo aqui no Brasil. Os mais acessados são de entretenimento puro. Como manter credibilidade, e os nossos valores, nesse mundo competitivo do YouTube?

O Manual do Mundo tem extensões fora da rede. Livro, série no Cartoon Network… Como funciona isso?
Em 2004 lançamos o primeiro livro: 50 experimentos para fazer em casa. Este ano lançamos outro, que vai misturar receitas culinárias com conhecimento. O terceiro já tem tema, mas é para o futuro. Temos o planejamento de fazer uma série de livros com temas do Manual do Mundo. A série do Cartoon Network foi produzida em 2014, já foi transmitida no Futura e agora está na Netflix. Ajudamos no roteiro, demos consultoria e produzimos todos os experimentos. Se aparecia um foguete, por exemplo, fazíamos dez foguetes, porque televisão demanda isso.

Além disso, estamos com um espaço de atividade em shopping centers. Em março estivemos em Londrina (PR) e Uberlândia (MG). São oficinas em que as crianças aprendem a fazer experimentos, como pudim de caneca ou “geleca”, com monitores. Nós aparecemos em um dia pré-combinado para realizar um evento com os fãs.

 

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