Novinhos em folha

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Empreendedores recém-formados, em sua maioria jovens, começam a aparecer como opção de candidatos À franquia. Saiba por que é positivo tê-los em suas redes

Paulo Gratão

pai de Mikela Marques, 23 anos, teve um supermercado por 25 anos. Crescer no meio do comércio fez com que o espírito empreendedor nascesse cedo na moça. Ao sair da faculdade de odontologia, ela já sabia que não queria ser funcionária em um consultório: montaria o seu próprio. Optou por uma franquia da OdontoCompany. “Queria algo grande, onde eu pudesse trabalhar com um número bem maior de pacientes, ao lado de uma equipe de dentistas, em uma situação que me permitisse trabalhar com administração junto com a odontologia”, explica.

O pai apostou no potencial da filha, a ajudou com o investimento e hoje atua na administração da clínica. “O maior desafio é que é tudo muito novo. Lidar com o dia-a-dia da equipe, por exemplo, manter as pessoas engajadas e em sintonia, mas está sendo ótimo. Estamos sempre atrás de conhecimento para fazer nosso negócio crescer e atender os clientes com cada vez mais qualidade”, comenta.

Em um passado recente, a inex­periência de Mikela poderia ser um ponto de reticência para muitas franqueadoras. Especialistas indicavam para que as marcas fugissem dos muito jovens. “Porém, atualmente, os jovens são mais investigativos, curiosos, estão gostando da ideia de empreender, de inventar negócios, de gerir, gerenciar, aprender sobre empresas”, observa a especialista em gestão de negócios e fundadora da Ana Vecchi Business Consulting, Ana Vecchi.

O único problema, na visão da especialista, é que esse espirito experimentador, oriundo da cultura de startups, pode não funcionar tão bem no varejo: a licença poética para errar, característica das novas empresas, custa bem mais caro.

Aprendizado

Aos 42 anos, Renata Lacerda, deu uma virada em sua vida. Depois de fazer uma carreira em marketing, que nunca foi seu sonho, e cursar a faculdade de Direito, ela resolveu que teria um negócio próprio, pela primeira vez na vida. Procurou franquias que oferecessem serviços jurídicos, para colocar o diploma em prática. Renata acaba de assinar o contrato de franquia com a Tributarie. “Sei que será desafiador pra mim, às vezes me dá um frio na barriga só de pensar. Em contrapartida, confio na empresa que entrei e nos produtos que ela oferece para o corporativo”, explica.

A franquia é um viés de aprendizagem, de recomeço profissional e de vida para muitas pessoas e também pode ser para o jovem idealizador, na visão de Ana. A especialista acredita que esse empreendedor seja como uma folha em branco, com sonhos, teorias e aprendizados frescos vindos de mentores que podem ser levados para a prática de um negócio, aprendendo na prática com franqueadores, diretores de marketing, de RH e consultores de campo. “Seu futuro franqueado pode falar a língua dos seus clientes, ter na boca o sabor que os clientes querem experimentar, ter customizado a camiseta que eles querem vestir e por aí vai”, explica.

Gosto pela coisa

Com o diploma do Ensino Médio em mãos, Guilherme Costa, então com 18 anos, abriu a sua primeira franquia na área de beleza, Sóbrancelhas, junto a uma sócia. Antes disso, ele trabalhou por um tempo em uma franquia da iGUi Piscinas e gostou bastante da rotina. Hoje, aos 20, ele tem sua própria franquia da rede do segmento de Casa e Construção, em Juiz de Fora (MG) e mais duas da Sóbrancelhas.

“Quando se tem um negócio, sua cabeça só pensa em expandir e abrir novos empreendimentos. O dia-a-dia dentro de uma empresa te faz crescer não só como empreendedor, mas também como pessoa, pois você lida com diversas situações”, avalia.
Nem tudo são flores
Empreendedores que optam por esse caminho têm vários desafios a enfrentar: deixar de receber mesada ou salário e passar a pagar salários; deixar de participar de processo de seleção e conduzir entrevistas; além de passar de uma percepção passiva dos negócios para a mão na massa. “Ao mesmo tempo em que você se sente só à frente do seu negócio, você carrega a mesma bandeira que outros tantos franqueados carregam e tem a mesma responsabilidade que você”, explica Ana Vecchi.

Ainda há o agravante de que muitas franqueadoras não estão prontas para lidar com Mikelas, Renatas ou Guilhermes. Para mudar isso, é preciso pensar na estrutura da própria franqueadora, trazendo mentes jovens para balancear cargos de liderança e estratégicos. “Só assim há mudança e entrosamento de culturas, senão será algo superficial e que gera desgaste, sem frutos, em um vai e vem sem futuro”, pontua a especialista.

Franqueadores e franqueados precisaram repensar seus negócios e equipes durante a recessão econômica que assolou o País nos últimos anos. Os millennials foram parte fundamental dessas mudanças e ajudaram as empresas a rentabilizar, na visão da especialista. “De forma alguma a inexperiência pode ser a culpada por um rendimento abaixo da expectativa de quem chega louco para brilhar”, defende.