Economia de água

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Conscientização, alteração nos processos e melhor gestão de recursos naturais são legados que a maior estiagem da história deixará para o brasileiro e também para o sistema de franchising
Toda e qualquer situação que mobilize a sociedade, por mais desafiadora que seja, é uma oportunidade para se sobressair e encontrar soluções em conjunto com consumidores, fornecedores e colaboradores. A escassez dos recursos hídricos, anunciada nos últimos anos e sentida por boa parte da população das regiões Nordeste e, principalmente, Sudeste no início de 2015, estancou esse sentimento.
O consumidor passa a ver como obrigação das empresas medidas de redução de consumo. “Todo mundo começa a entender que reduzir o desperdício faz com que o benefício volte para o coletivo. Um empresário se sente mais à vontade para promover mudanças, sem se preocupar em ter a imagem de mesquinhez. A curva de aprendizagem se acelera muito em situação de crise”, comenta o diretor de inteligência de mercado e sustentabilidade da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Claudio Tieghi.
Um dos legados que já pode ser creditado à oportunidade hídrica é a conscientização de que o Brasil não trabalha com recursos naturais infinitos, cultura que até então parecia distante de se dissolver. “Antes lidávamos com um falso conceito de que todos os recursos naturais são infinitos, não é bem assim. É preciso encontrar formas mais inteligentes e inovadoras de produzir sem perder em qualidade, ou aumentar preço. Nova economia exige mudança de paradigma”, explica a coordenadora de educação corporativa do Instituto Akatu, Julia Rosemberg­­.
Franchising
No sistema de franquias, Tieghi considera que a gestão em escala facilita a adesão de soluções que ajudem a utilizar os recursos hídricos de forma mais inteligente. “As marcas já estão presentes em lugares onde água e energia são problemas. Isso contribui para que o sistema se organize. O papel da franqueadora é identificar oportunidades de melhoria”.
A adaptação nas franquias que estão nos locais afetados pela estiagem influencia a atuação, inclusive, de outras regiões que passam a se antecipar a possíveis situações de risco. O gerente de operações da Maria Brasileira, João Pedro Lucio, ficou surpreso com o interesse proativo das unidades sulistas em implementar as medidas adotadas no Sudeste.
Mesmo as empresas que estão fora dos locais prejudicados pela crise hídrica, podem sofrer com as dependências das grandes metrópoles. “A companhia que iniciar o planejamento antes terá vantagem comparativa, seja pela manutenção da operação em situação onde os competidores terão que paralisar suas atividades, seja pela redução de custos conseguida com ações preventivas”, alerta o gerente executivo de gestão de riscos de negócios da consultoria de gestão de risco ICTS, Luis Guilherme Whitaker.
Conscientização
A demanda do Instituto Akatu para conscientização empresarial tem crescido no último ano, de acordo com Julia. A executiva explica que não há dados tabulados sobre o panorama das ações feitas pelas empresas, mas cada uma pode medir o próprio nível de consciência ambiental e de engajamento no Teste do Consumidor Consciente (TCC).
A escassez dos recursos hídricos é apenas o primeiro passo para outras situações que já se anunciam, como a crise energética e uma possível escassez de alimentos. De acordo com o Food Wastage
Footprint– Impacts on Natural Resources, relatório preliminar do projeto da FAO – The Food Wastage Footprint Model (FWF), a pegada hídrica mundial do desperdício é em torno de 250 km2, o equivalente a mais de 38 vezes a pegada de água azul domiciliar nos Estados Unidos. Em um agravante da crise, a escassez de alimentos poderia se tornar uma realidade. “É de extrema importância que a marca converse de forma direta e transparente. Que, de fato, aproveite a oportunidade de educar o funcionário, o consumidor e aí sim agir”, aconselha o executivo da ABF.
Na rede Divino Fogão, antes da mobilização motivada pela crise hídrica, algumas soluções precisaram ser adaptadas para que os franqueados aceitassem investir e os funcionários colaborassem efetivamente com a redução do consumo. Atualmente, isso tem sido mais fácil, de acordo com o diretor de operações da rede, Emiliano Oliveira da Silva. “Com a crise hídrica eles sentiram na pele, passaram a aceitar mais facilmente, pois não tem água na casa deles também. Acabou a história de deixar o mundo melhor para o neto, a questão agora é sobrevivência”.
Para colocar em prática os planos que carrega em sua cadeia de hotéis pelo mundo, a rede Accor aposta em treinamento intenso com os profissionais para que o reuso da água da chuva e dos banhos, de acordo com a diretora de comunicação e CSR Américas, Antonietta Varlese. “Por meio do Planet 21, programa global da Accor, buscamos reinventar a hotelaria de forma sustentável e um dos seus sete pilares – Natureza – trata sobre o consumo de água”. O programa citado pela executiva é dividido em sete pilares que orientam o crescimento da rede de forma sustentável.
Sem mentiras
Algumas empresas podem ter uma conduta equivocada e aproveitar o momento para potencializar o chamado greenwashing – prática de se dizer mais sustentável do que realmente é. Tal iniciativa esbarra em um consumidor muito mais atento e pode trazer consequências desastrosas para a marca. “Quem não fizer nada, será visto como alienado. A percepção de qualidade e de valor da marca fica comprometida. Esse é um risco para as marcas que não buscam adequação e que não engajam consumidores e fornecedores, passam a perder produtividade”, explica Tieghi.
Investimentos
Metade da rede de lojas da 5àsec foi afetada pela falta de água, segundo o diretor de marketing da rede, Sérgio de Souza Carvalho Junior. Isso fez com que a marca desenvolvesse promoções que incentivassem o uso da lavanderia, como alternativa ao gasto de água doméstico e economia dos recursos hídricos e energéticos. Em contrapartida, nas regiões mais afetadas, a procura pelos pelas lavagens com peças de roupa do dia a dia aumentou entre 12% e 14%. “80% das roupas podem ser lavadas a seco. Nessa limpeza, reaproveito quase 99% dos insumos. Não jogo resíduo nos rios, e economizo água”.
Até a metade do ano, a empresa pretende homologar uma solução que permite reciclar a água utilizada. “Para o franqueado, o investimento será de R$ 17 mil a R$ 25 mil, depende da reforma que precisará ser feita. A economia prevista é de mais de 95% da água. No máximo em dois anos o equipamento já se pagou”, afirma Carvalho.
Vias alternativas
Atualmente, todas as lojas da 5àsec operam com reserva de água suficiente para funcionar durante uma semana. O plano de contingência existe desde 2003, quando o Brasil sinalizou passar por situação semelhante.
Sustos históricos também ajudaram a DryClean USA a costurar uma via alternativa para escassez de recursos naturais, de acordo com o diretor-executivo da rede, Phillippe Jean. O mundo ideal projetado pelo executivo seria instalar uma estação de tratamento de água em cada loja, mas o tamanho das franquias não permite isso. Por essa razão, encontrou maneiras mais econômicas para o combate ao desperdício. “Nossa economia é de 40% de água. Ir além disso custa caro, mas não estamos olhando tanto o aspecto econômico e sim a sobrevivência como cidadão”, justifica.
Muitas das discussões do Akatu com as empresas são para apontar soluções e alternativas que ajudem a encontrar sentido na continuidade de existência delas. De acordo com Julia, o momento de escassez deve ser visto como um divisor literal de águas no comportamento que as pessoas tinham com o recurso. No mundo do empreendedorismo, os efeitos de qualquer crise podem ser minimizados, quando há capacidade de inovação.
“Temos que começar a discutir que a solução precisa ser conjunta. A crise hídrica não pode ser vista só como uma crise pontual, ela é o cume de um iceberg que tem outras questões envolvidas, essa solução tem que ser compartilhada”.
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