A força da Maria

A força da Maria

Matéria reproduzida da revista Franquia Negócios – Edição 43

Após ganhar duas vezes como o melhor pastel de São Paulo, em concurso promovido pela Prefeitura, a japonesa Kuniko se lança no franchising

Por Andréa Cordioli

Já a chamaram de Tuniko, Tinuco, Koniko e até de Pinico. Mas a japonesa Kuniko Kohakura Yonaha decidiu mesmo ser Maria, com toda a força que esse nome carrega. Para quem aos 11 anos pisou em terras brasileiras e aos 13 anos largou os estudos para cuidar da irmã caçula, Maria conquistou – de nome e de fato o primeiro lugar entre as mulheres: tornou-se a mais famosa e premiada pasteleira de feiras livres de São Paulo e, de quebra, decidiu inovar, franqueando o seu negócio.

Agora, além de quatro feiras semanais na capital paulista, o Pastel da Maria pode ser encontrado em duas lojas próprias e em uma franquia, no bairro da Barra Funda (SP). Até junho, mais uma franquia será aberta, no bairro de Perdizes, e uma terceira deverá assinar contrato. A ideia, diz Dona Maria, é ter 100 franquias em São Paulo: ‘Depois quero ir para o interior, para outros estados e até para o exterior. Parece que tem muita gente interessada, inclusive no Japão’, afirma ela, que completa 60 anos em julho.

Dona Maria está se preparando para isso. Pretende transferir e ampliar a fábrica de 400 metros quadrados no bairro da Casa Verde para algum município próximo à capital paulista, como Osasco, Caieiras ou Mairiporã. No espaço da Casa Verde, ela pretende montar um Centro de Distribuição para atender as barracas, lojas próprias e franquias:’Tenho que estruturar tudo direitinho para não sujar meu nome. Não posso pensar só em ganhar’, diz Kuniko, com a seriedade japonesa e a simplicidade de Maria.

O investimento em uma franquia do Pastel da Maria custa em torno de R$ 200 mil para uma unidade com 100 metros quadrados. A taxa de franquia é de R$ 40 mil e os royalties são de 7%. Segundo Dona Maria, que contou com a consultoria da Fábrica3 Franchising, o retorno do investimento está previsto em onze meses, com lucro médio mensal de 30%. De acordo com ela, cerca de 500 pastéis são vendidos por dia em cada loja física, gerando um faturamento só com pastéis de aproximadamente R$ 52 mil. Nas feiras livres, o volume diário de vendas é bem maior, diz Dona Maria.

O Pastel da Maria foi premiado duas vezes nos últimos três anos como o melhor pastel de São Paulo, em concurso promovido pela Prefeitura de São Paulo. Para Dona Maria, o seu pastel ‘é bom’ e só usa produtos de primeira qualidade, mas a premiação foi alcançada por um conjunto de outros fatores, como bom atendimento e higiene: ‘Lavamos pessoalmente os uniformes e todo mundo vai para a feira impecável’.

Dona Maria ganhou o concurso da Prefeitura em 2009 com o pastel de canela com gengibre e, em 2011, com o pastel de carne, cebola, tomate, salsinha, azeitona, mussarela, ovo picado e raspas de limão-siciliano, conhecido como o verdadeiro limão: ‘Ousei ao extremo. O povo não está acostumado com isso, mas eu tenho o paladar meio refinado’, comenta. Agora, a pasteleira vai lançar outros sabores diferenciados de pastéis, como shitake com queijo, shimeji com shoyu e estrogonofe.

O começo

Mas antes dos malabarismos gastronômicos, Dona Maria amassou muita massa de pastel. Em 1965, já ajudava o pai a fazer o produto em casa. Naquela época, não era permitido vender pastel em feira por causa do uso do botijão de gás e, segundo relata, a vida da família era muito sacrificada. Por isso, seus pais decidiram voltar para o Japão e Dona Maria se casou, deixando o pastel em 1972. Ela só voltou a colocar a mão na massa do pastel em 1979, quando a Prefeitura liberou a venda em feiras livres.

‘Fiquei três anos com a minha barraca e sofri muito, pois meu primeiro marido não me ajudava e ele ainda tinha 15 familiares para quem eu tinha que cozinhar e lavar. Japonesas, quando casam, viram escravas e eu não queria aquela vida para mim’, diz.

Dona Maria se separou aos 30 anos e cerca de um ano e meio depois conheceu o seu segundo marido, com quem investiu em um mercadinho que faliu e depois em nova barraca de pastel em feira, com dinheiro tomado de um agiota.

‘Sinceramente, eu já estava enjoada de pastel. Como o que eu tenho vontade de fazer eu faço, sem dar valor ao dinheiro, abri – em paralelo ao pastel um barzinho, um karaokê e um espetinho. Porém, fora o pastel, nada deu certo. Eu estava prestes a alugar um ponto comercial para abrir uma loja de embalagem quando ganhei o concurso da Prefeitura. Naquele momento, desisti de outros negócios e entendi, de uma vez por todas, que o meu destino era viver e morrer no pastel’, relata Dona Maria, mãe de quatro filhos, que hoje lhe ajudam a tocar os negócios.

Dona Maria contou com a consultoria do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e com o financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para entrar no franchising: ‘Eu não tinha ideia exata do que era franquia, mas sempre quis ter várias pastelarias, porém sem tanta obrigação trabalhista com funcionários’.

Hoje, Dona Maria tem 40 funcionários e diz estar satisfeita com o franchising e cheia de planos para o futuro: ‘só lamento não ter ganhado o concurso antes. Fui uma pessoa muita trabalhadora e ainda não conseguir ter vida boa. Mas, pelo menos, não pego mais no pesado. Fico mais em casa, fechando contratos e, de vez em quando, vou às feiras para fazer relações públicas’, diz. Isso, além de pastel, ela já provou que sabe fazer muito bem. Afinal, Dona Maria é quase um dilema Tostines: o pastel vende mais por causa dela ou ela vende mais por causa do pastel?

Onde encontrar:

Feiras Livres – 7h30 às 12h30
3ª e 5ª feiras – Praça Charles Miller (Pacaembu)
4ª feira – Rua Cayowaá (Perdizes) e Rua Dr. César (Santana)
Sábado – Alameda Sub-ten Francisco Hierro (Parque Novo Mundo)
Domingo – Rua dos Trilhos (Mooca)
Pastelarias

Rua Valdemar Martins, 204 – Casa Verde
Rua Fradique Coutinho, 580 – Pinheiros
Rua do Bosque, 1.589 – Barra Funda (franquia)

 

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