Com público de mais de 350 pessoas, Pós-NRF ABF debateu desafios das empresas de varejo e franchising no Brasil e as lições trazidas do evento anual da National Retail Federation

A ABF realizou nesta segunda-feira (15) o seu 5º Pós-NRF, sintetizando o evento anual da National Retail Federation (entidade oficial do varejo americano), que ocorre tradicionalmente em Nova York no mês de janeiro. O encontro realizado no Auditório Santander em São Paulo contou com um público de mais de 350 pessoas e foi transmitido ao vivo pela internet. Estiveram presentes ao evento a presidente da ABF Cristina Franco e o vice-presidente Altino Cristofoletti. O time de palestrantes foi formado por André Friedheim, diretor internacional e Juarez Leão, diretor de treinamento, cursos e eventos da entidade e também curadores de conteúdo do Grupo ABF na missão; Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileiro de Varejo e Consumo (SBVC), Alberto Serrentino, CEO da Varese Retail Strategy e Adir Ribeiro, fundador e presidente da Praxis Business.

A importância da missão da ABF ao 105º NRF Retail’s Big Show foi destacada por Altino Cristofoletti na abertura do evento.“Buscar novas soluções e estratégias para os negócios e lançar um novo olhar sobre o varejo e o franchising no Brasil e também no mundo são alguns dos benefícios que o grupo ABF traz dos Estados Unidos a cada nova missão ao NRF”. Ainda segundo o executivo, 2016 vai exigir de todos muito mais foco e um maior aprofundamento das questões que envolvem os negócios.

O Big Show 2016 colocou em evidência alguns pontos que estão transformando o setor não só nos Estados Unidos, mas globalmente, na visão dos especialistas em franchising e varejo que integraram os grupos ABF, BTR & Varese, e que contaram também com a participação de representantes da Associação Paulista de Supermercados (Apas) e da Beauty Fair, somando cerca de 200 líderes e executivos do varejo brasileiro.

De acordo com André Friedheim, a NRF tradicionalmente falava do omnichannel (a integração dos vários canais de venda), mas nesta edição um novo termo foi bastante comentado, o “ownchannel”, em que o consumidor conectado às novas tecnologias é o próprio canal.

“O varejista que não tem um website responsivo, que caiba na tela de um smartphone, está em desvantagem. As lojas físicas vão durar por muito tempo e serão o principal canal da experiência de venda com o consumidor”, completou.

Para Juarez Leão, a edição 2016 do evento está entre as mais ricas dos últimos dez anos. O especialista listou 12 desafios de eficiência e produtividade, segundo ele, um dos pontos em que empresas varejistas brasileiras estão mais defasadas atualmente. São eles: eficiência na gestão dos canais e formatos, na gestão de estoques e rupturas, nas parcerias estratégicas e negociação; eficiência promocional e de CRM (que inclui big data), no sortimento, na logística e no abastecimento; eficiência social e ambiental, na gestão de custos, na capacitação, nos processos, na execução e na tecnologia.

Leão destacou ainda que o momento de retração econômica é favorável às franquias em virtude dos negócios planejados, formatados e testados terem mais chance de sucesso. “Estamos entrando num período muito positivo para o franchising. A euforia está dando lugar ao planejamento”. Ainda segundo o palestrante, o momento de economia travada está favorecendo a relação com fornecedores. “Essa aproximação com fornecedores fará o varejo crescer. Prepare-se agora para se estruturar e desenhar processos para quando a economia melhorar”, alertou.

Millennials

Dentre os insights trazidos por Eduardo Terra do NRF, o consumidor millennial – geração nascida de 1980 a 2000 – e as estratégias – o que muda nas empresas de varejo e franchising com este novo consumidor – foram os principais destaques. “Nosso grande desafio é saber conectar essas duas coisas: de um lado mudanças do consumidor que impactam as novas estratégias das empresas”, afirmou.

Para o especialista, as empresas devem equilibrar duas agendas: uma de curto prazo, de sobrevivência, cuidando de custos, dívidas e crédito, e outra de médio e longo prazo, que enfoque inovação no consumidor, no seu modelo de negócio.

Terra lembrou também as lições aprendidas pelos participantes da missão ao NRF com William Ury, professor de Harvard, aplicadas ao franchising. “Saber gerenciar conflitos da relação talvez seja a maior competência de um franqueador e, por conseguinte, de um franqueado”, disse.  Ainda segundo Terra, o professor defende que se use a estratégia do “balcony”: “Separe as pessoas do problema. Isso é um ensinamento de vida, de liderança e de negociação”, concluiu.

Adir Ribeiro mostrou cases como da Hershey’s, fabricante americana de chocolates com 120 anos de história; da Reserva, marca brasileira com 44 lojas próprias, 8 franquias e R$ 250 milhões de faturamento, sendo 22% por e-commerce, e da Spar, rede holandesa de 83 anos, que se destaca por seu modelo colaborativo, com 12 milhões de clientes por dia, presente em mais de 40 países. Segundo ele, engajamento e alinhamento são a tônica atual no varejo como formas de condução do negócio.

Sob o ponto de vista do franchising, Ribeiro defendeu que o modelo de negócio do franqueador deve ser revisto constantemente, com um mindset digital (modelo mental predominante) e que “cultura e engajamento devem estar focados na cadeia de valor do franchising, no ambiente de colaboração e na gestão de consequência”. “O desafio é entender a cultura local e encontrar o parceiro local. O alinhamento de cultura e valores com parceiro local é algo inegociável e é preciso achar um equilíbrio entre esses valores”, afirmou.

Internet das coisas

“O mundo digital é um tema que hoje tira o sono das empresas de varejo. Se gastou muito tempo nos últimos dez anos tentando se rotular o comportamento do consumidor, mas consumidores não veem canais, veem marcas, compram e tomam decisões a partir do valor percebido e experiência da oferta disponível”, afirmou Alberto Serrentino.

Para o especialista, o principal insight trazido do NRF Big Show 2016 é de que “a guerra no varejo físico não se ganha mais no campo da loja, é no campo digital”.

Segundo Serrentino, pensar simples é o mais importante e no mundo digital é um erro fazer tudo ao mesmo tempo. “Não se criam negócios orientados a clientes se a empresa continua operando orientada a canais”.

Empresas provocadoras, que saem da zona de conforto, estão avançando, observou ele.  Um exemplo, segundo o palestrante, é a Under Armour. A empresa comprou uma série de aplicativos, juntou todos numa plataforma única, a Record, e está comercializando. “Isto é big data, é internet das coisas, é olhar para frente e é até uma redefinição de modelo de negócio”.

 

Fotos: Keiny Andrade