DCI – Sammy Eduardo – 18/02
Quem sonha em ter um negócio e trabalhar em casa precisa avaliar se está preparado para usar os chapéus de patrão e de empregado ao mesmo tempo
Para o empreendedor de primeira viagem, a opção de investir em uma microfranquia pode dar a falsa impressão de caminho suave, já que o investimento é baixo e, em geral, trabalha-se em casa. O que os especialistas destacam é que o modelo exige muita dedicação.
O apelo das microfranquias, que permitem ao interessado tocar um negócio sozinho e com investimento inicial reduzido, cresce em momentos de incerteza econômica, como o atual. Nesse cenário, a possibilidade de atuar como proprietário e funcionário simultaneamente pode ser vista como alternativa mais segura e previsível para o profissional, já que ele mesmo será responsável pelo resultado do negócio. “Não foi à toa que vimos expansão no número de microfranquias em dezembro e em janeiro”, diz José Rubens Oliva, diretor de microfranquias da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
O mercado de franquias em geral cresceu 7,7% em 2014. Os números do segmento de microfranquias ainda não estão fechados, mas, para Oliva, devem superar essa média. “Não tenho os números exatos, mas foram maiores do que as médias do início do ano passado”, diz. A ABF considera micro aquelas que exigem investimento inicial de até R$ 80 mil. Quanto menor o investimento, maior o apelo e por isso Oliva estima para 2015 um crescimento de 10% para a faixa mais barata, de até R$ 25 mil. “O custo inicial de operação é bem menor, o que possibilita crescimento e retorno mais rápidos”, afirma.
Depende de você
Para o diretor, o cenário atual só reforça a tendência de expansão do segmento. “Neste momento, as pessoas buscam mais previsibilidade e segurança em seus investimentos. Como esse tipo de negócio depende só de você, a confiança em obter resultados é maior.”
Mas escolher e adquirir uma microfranquia é só o primeiro passo para tentar buscar o sucesso. Mais do que em uma franquia comum, o empreendedor terá de se dedicar e ter consciência de que é o único responsável pelos resultados, diz Luiz Gustavo, sócio-diretor da consultoria Praxis, especializada em franchising e varejo.
O modelo concentra mais ainda a responsabilidade que o papel de patrão já implica, se comparado à vida de funcionário. “Dependendo do tipo de atividade, o empreendedor tem de ter consciência de que talvez precise trabalhar nos finais de semana e feriados. Tem de saber que fazer o negócio dar certo depende muito mais do seu empenho do que apenas deixar a franquia fluir”, afirma. “Exige-se conhecimento e capacitação, e nem todos estão preparados para isso.”
Para o consultor, além de avaliar se está realmente disposto a tocar um negócio próprio, o aspirante a empreendedor deve buscar um segmento com o qual se identifique.
Escritório em casa
Alguns modelos home-office destacam a possibilidade de recuperação do investimento em curto prazo. É o caso da Mídia Pane, rede especializada em publicidade em sacos de pão, com investimento inicial de R$ 16.500. Em quatro anos de operação, a rede se espalhou por 19 estados, com 160 unidades. Para a diretora da Mídia Pane, Vanessa de Oliveira, o que atrai os empreendedores é não apenas a possibilidade de trabalhar em casa, mas o retorno do investimento e o prazo em que isso se dá.
“Tivemos casos de franqueados que com 40 dias já publicaram edições e obtiveram retorno”, afirma. Esse prazo, porém, não é o padrão. “Em média, o retorno se dá entre três e seis meses. Mas vai depender da atuação do franqueado”, afirma.
No caso da Midia Pane, o franqueado busca clientes e marcas dispostas a colocar sua imagem em embalagens de pão. O desenho, o papel e a entrega do material ficam a cargo da franqueadora, que afirma que o faturamento médio mensal é de R$ 12.600, com lucro líquido de R$ 7.600.
Especializada na venda de seguros, a Seguralta é outra franquia que permite ao empreendedor trabalhar em casa. Nela, o franqueado é um corretor de seguros comissionado: a cada apólice fechada, ele recebe uma porcentagem do contrato. As renovações também são incluídas na comissão.
“O setor de seguros, mesmo com as dificuldades econômicas, segue crescendo. O segmento ajuda nesse retorno facilitado”, afirma o diretor de expansão da marca, Leonardo Cannizza.
A Seguralta afirma que, em média, o retorno do investimento inicial, de R$ 22.500, se dá entre seis e 12 meses.
No entanto, assim como a Mídia Pane, já foram registrados casos em que o franqueado obteve lucro em menos tempo. “Tivemos corretores que em três meses alcançaram o retorno. Depende muito do trabalho que ele executa”, pondera Cannizza.
A corretora já atua há 47 anos no mercado, mas o modelo de franchising só foi lançado em 2008. Desde então, mais de 700 unidades da franquia foram abertas no País. O faturamento médio informado pela empresa é de R$ 8 mil.
O bloco do eu sozinho
1. Investimento reduzido – A maioria das pessoas que investem em microfranquias dispõe de capital limitado, afirma Ana Vecchi, diretora da consultoria Vecchi Ancona.
2. Perfil independente – Muitos são autônomos ou prestadores de serviços técnicos e já tiveram ou têm negócios similares aos dessas redes, afirma
3. Hora de virar a placa – Para esses profissionais, a marca e o suporte de uma franqueadora podem trazer um fôlego adicional para o negócio e, por isso, muitos optam por substituir sua bandeira pela da rede.