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Postos ampliam a participação de serviços em suas operações

DCI – Flávia Milhassi – 04/08

Adequação. Com a queda na venda de combustível, players do setor apostam na redução da mão de obra e em benefícios ao consumidor como forma de segurar a sua rentabilidade

Com a perspectiva de redução nas vendas de combustível este ano, as redes de postos passam por um processo de readequação. Além de cortar custos com a diminuição no número de vagas, as empresas têm buscado agregar serviços aos pontos de venda e expandir para regiões até então pouco exploradas pelo segmento.

Na contramão das estimativas setoriais que estão mais cautelosas, a rede de postos Ipiranga – pertencente ao Grupo Ultra – mantém planos de crescimento. A empresa projeta aumentar as operações ao longo deste ano, e segundo o diretor de varejo da Ipiranga, Jeronimo Santos, o crescimento virá da abertura de novas unidades. “Teremos novos postos, com expansão em diferentes áreas. Isso faz parte da estratégia da Ipiranga. Atualmente o foco tem sido em regiões como o Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, disse ele.

Conforme Santos, no final de 2014 a rede Ipiranga contava com 7.056 postos, ou seja, um aumento de 5% se comparado com dezembro de 2013. Nos últimos anos (2009 a 2014), a taxa de crescimento anual médio da companhia vinha sendo de 5,11%. “Este ano, mesmo sendo difícil para a economia, a Ipiranga busca manter sua estratégia de investimento na expansão e no fortalecimento da rede de revendedores, além da infraestrutura de distribuição. Afinal, a frota permanece aumentando e impulsionando o crescimento do volume combinado de etanol e gasolina.”

Franchising

Atualmente, além das lojas de conveniência – cujo faturamento representou 6,5% da receita dos postos de combustíveis em 2014 – e dos serviços de troca de óleo, geralmente condicionados às bandeiras dos postos de gasolina, os espaços têm se tornado pequenos centro de compras com atuação do franchising. Na rede Ipiranga, por exemplo, marcas como Bob’s e Burguer King já operam em paralelo a venda de combustível. “Além da am/pm [conveniência], a Ipiranga também opera em esquema de franquia com o Jet Oil, especializado na troca de óleo.”

Os serviços também têm sido destaque dentro dos pontos de abastecimento. “Os produto não combustíveis reuni- dos representam de 5% a 10% do lucro antes de impostos, taxas, depreciação e amortização [Ebitda]”, explicou Santos. Entre as franquias, atualmente, as operações pertencentes a bandeira contam com 1.344 unidades. “De forma a criar maior amplitude à rede atuamos também com franquias de terceiros. Temos contratos com Bobs, Burguer King, Subway, Renault Minuto, 5àSec, Extrafarma, Panvel, Antenas High Line, TecBan Bancos 24h, entre outros parceiros”, disse o diretor da rede.

A importância do franchising também foi ressaltada pelo diretor de negócios da feira ExpoPostos Conveniência 2015, Rubens Slaviski. “Os postos estão se consolidando como mini malls”, disse ele. O evento acontece entre os dias 5 e 7 de agosto, no Expo Center Norte em São Paulo, e terá a XII Feira e Fórum Internacional de Postos de Serviços, Equipamentos, Lojas de Conveniência e Food Service. “Teremos bons palestrantes mostrando o que será tendência em tecnologia, o cenário do etanol e o futuro do setor”, explicou o executivo.

Com a perspectiva de movimentar R$ 150 milhões em três dias de evento, o encontro trará também soluções voltadas a crise hídrica que assola o mercado. “Teremos expositores mostrando soluções de lavagem de automóveis que economiza água”, explicou Slaviski. Em São Paulo, os postos estão em fase de adequação à Lei nº 16.610, que obriga postos do município a utilizarem água de reúso, conforme certas especificações.

Crise em São Paulo

Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouvea, só na capital paulista os postos de gasolina devem amargar queda na venda de combustível entre 15% e 16%. “Dependendo da região, a queda deve ser superior a 15%. Na zona Sul o índice está em 12%”, afirmou Gouvea.

Para ele, antes o consumidor tinha o hábito de encher o tanque do automóvel, mas com a diminuição da renda o tanque do paulista tem ficado pela metade. “Antes eles completavam o tanque e pagavam com cartão. Agora pedem para colocar entre R$ 50 ou R$ 60”.

Outra rotina, adotada em todo o País, tem sido substituir a gasolina pelo etanol. “Com o aumento do preço houve a migração para o etanol. Só que o consumidor parece que não aprendeu a fazer conta. O álcool é menos econômico que a gasolina”, argumentou Gouvea.

O presidente do Sincopetro explicou ainda que os proprietários dos postos de gasolina têm tentado explicar sobre o consumo da gasolina e do álcool, mas neste momento o preço fala mais alto para o cliente. “Nosso papel é orientar e explicar, mas a decisão é do consumidor”, disse ele.

Primeiro semestre

Ainda segundo o presidente do Sincopetro, no mercado de São Paulo há um outro movimento – a redução dos postos de trabalho. “Fizemos uma pesquisa com os postos e identificamos que até o final do mês de junho houve a redução de 12% no número de postos de trabalho. Isso significa que os proprietários começam a reduzir seus custos reduzindo a mão de obra.”

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) indicam que no primeiro semestre de 2015 a venda de gasolina teve queda de 5% na comparação com igual período de 2014. O diesel também apresentou variação negativa, de 2,5%. Na contramão apareceu o etanol, com incremento de 38,3% no período. O que ressalta a migração do consumidor para o álcool na hora de abastecer o automóvel. “As quedas [nas vendas] são recentes e não há base para tirar conclusões precipitadas”, disse o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustível e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares.

O especialista vê, sim, a tendência de o volume de vendas ser menor este ano, mas diz que o cenário pode ser revisto, pois a soma da venda dos três combustíveis (gasolina, diesel e etanol) apresentou crescimento de 1% no primeiro semestre. “A tendência é ser menor do que 2014. Mesmo assim, o desempenho do setor de combustíveis está melhor em comparação a outros segmentos da economia. Nos seis primeiros meses do ano houve crescimento de 1% em relação ao ano passado. Somos um segmento que contribui sobremaneira com a economia do país por meio da arrecadação de impostos. O setor de combustíveis tem participação de 5,6% no PIB”, falou.

Conforme o último boletim de Abastecimento da ANP (dados de fevereiro), 40% do setor envolve bandeira branca (sem bandeira), 50,6% é composto por grandes redes (BR Distribuidora, Ipiranga, Raízen e Ale) e 9,4% são de redes menores.