Jornal O GLOBO – 17/04 – Redação
Em 2014, as famílias devem gastar R$ 72 bilhões em educação. É o que prevê o instituto de pesquisa Data Popular que apontou que, nos últimos dez anos, os gastos da família brasileira com ensino mais que dobrou.
De olho nesse filão, empresários têm investido cada vez mais em negócios voltados para educação, seja abrindo escolas, cursos de idiomas, profissionalizantes ou superiores. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), em 2013, o segmento de educação e treinamento faturou 7,6 bilhões, uma variação de 16,6%, em relação a 2012.
Esse crescimento foi maior do que a evolução do setor de franchising como um todo, que foi de 11,9%, compara Beto Filho, presidente da ABF-Rio.
As redes de educação vão continuar crescendo. Se pensarmos que 95% da população brasileira ainda não fala inglês e que a classe C está em ascensão, os cursos de idiomas ainda têm muito poder de expansão. No Brasil, há cerca de 40 anos, a empresa japonesa Kumon, que oferece um método de ensino autoinstrutivo de matemática e de idiomas, como português, inglês e japonês, tem, atualmente, 1.564 franquias, segundo a ABF.
Para João Daniel Palma Ramos, coordenador de planejamento e pesquisa do Kumon, o mercado de trabalho cada vez mais exigente eleva o número de empreendimentos de qualificação no país. Quando falo em qualificação, não me refiro apenas aos conhecimentos técnicos, mas a raciocínio lógico, ao bom uso da língua portuguesa e à capacidade de ler e compreender outros idiomas.
Em muitos casos, o sentimento é de que a educação formal no Brasil não supre todas as necessidades na formação das crianças, ampliando a demanda por cursos complementares, explica o coordenador do curso que está em 48 países, sendo o Brasil o primeiro da América Latina e o quarto do mundo em quantidade de alunos.
De acordo com a ABF-Rio, não são apenas os cursos de idiomas que estão puxando os números do segmento de educação no franchising.
Os cursos profissionalizantes estão em alta. A construção civil carece de mão de obra qualificada. Na construção civil, por exemplo, geralmente os profissionais são autodidatas. Por melhor que sejam, às vezes, não são capacitados para executar bem todas as técnicas exigidas num empreendimento. Para atender às exigências desse mercado, em Brasília, há dois anos, os empresários Sidney Bezerra e Miguel Pierre criaram Concretta, uma escola de construção que forma pedreiro revestidor, eletricista, bombeiro hidráulico, carpinteiro, armador, pintor, gesso cartonado e mestre de obras.
Educação é um excelente negócio porque, além de rentável, nos permite contribuir na formação das pessoas e do país. Atuamos há mais de 12 anos em profissionalização, que, hoje, é uma atividade com grandes perspectivas no Brasil. Tivemos a ideia da Concretta porque estávamos construindo uma escola em Taguatinga e tivemos uma dificuldade enorme de encontrar mão de obra. Após contratar uma consultoria e realizar o levantamento de mercado, descobrirmos que não havia nenhuma rede como a nossa, conta Sidney.
Ano passado, formamos mais de sete mil alunos. Em 2014, a previsão é formar mais de 20 mil em 45 unidades em operação. A educação superior brasileira também comemora estatísticas positivas.
Na última década, o número de brasileiros no terceiro grau cresceu em mais de duas vezes. Segundo dados do Ministério da Educação, há sete milhões de estudantes matriculados na graduação, 73% deles estão no setor privado. Isso se deve a uma maior conscientização dos brasileiros, que, beneficiados por um aumento de renda dos últimos anos, procuram investir mais no futuro através da educação.
Além disso, o governo criou políticas públicas, como o Prouni e o Fies, que facilitaram o acesso da população de mais baixa renda ao ensino superior, avalia Rogério Melzi, presidente do Grupo Estácio, há 44 anos no mercado.
O desempenho dos negócios em educação pode ser animador, mas há desafios que precisam ser superados. ? Investir em educação é um bom negócio, mas a complexidade é alta. Poucos setores sofrem tanta pressão como o nosso. Somos fortemente regulados pelo MEC e temos um público com demandas e expectativas cada vez maiores. No caso da Estácio, que é uma empresa de capital aberto, ainda temos o olhar da Comissão de Valores Mobiliários e dos nossos milhares de investidores, enumera Melzi que elege, como maior desafio das empresas, a capacidade de combinar gestão e qualidade de ensino. Sem um equilíbrio entre essas duas forças, a instituição não tem perenidade e sustentabilidade, 64% dos funcionários das pequenas empresas estão desengajados, diz pesquisa.
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