Matéria reproduzida da revista Franquia Negócios – Edição 47
Em uma de minhas palestras encontrei uma amiga que, 15 anos atrás, trabalhou na minha equipe quando eu dirigia o departamento de marketing de uma multinacional. Entre as lembranças dos bons tempos ela me fez uma surpresa: abriu a bolsa e tirou de dentro um punhado de embalagens de Bis, aquele chocolate da Lacta que a gente não consegue parar de comer, sabe? E com os olhos brilhando me entregou, dizendo:
– Você não faz ideia de como isto era importante.
Surpreso, examinei cada papelzinho. Todos assinados por mim. Ela havia guardado aquilo por quinze anos!
Toda vez que um dos meus funcionários realizava algo que eu julgava interessante eu dava a ele ou a ela um Bis. A pessoa comia o Bis imediatamente e me dava o papel que o embrulhava. Eu escrevia no verso do papel a razão de ela ter recebido o Bis, assinava e a pessoa guardava. No final do ano, em nosso jantar de comemoração eu colocava na parede do restaurante uma série de cartazetes com vários prêmios, de ‘aumento de salário’ a ‘três dias de folga’, passando por ‘viagem a lugar x’, ‘um exemplar do livro y’, ‘um jantar’ e até ‘um aperto de mão’.
Era um barato ver a turma chegando e analisando a listagem de prêmios na parede. No final do jantar cada um entregava sua coleção de Bis e a contagem mostrava quem havia recebido mais ‘Bises’ e teria o direito de ser o primeiro a escolher qual dos prêmios receberia. O processo seguia por ordem de quantidade de ‘Bises’ até que todos os prêmios fossem retirados da parede. É evidente que o ganhador sempre escolhia o ‘aumento de salário’…
A escolha de quando dar o Bis era prerrogativa minha, subjetiva, conforme meus critérios sobre o que teria sido um trabalho ou uma atitude que mereceria, mas qualquer funcionário podia advogar o Bis para quem achasse que valia a pena. Cada vez que um gerente entrava em minha sala acompanhado de um funcionário para contar o que ele havia feito e pedir o Bis, era um momento de celebração, de reconhecimento e de vitória. Aquele chocolatinho tinha um poder mágico de agradar a mim, ao gerente e ao funcionário.
Eventualmente até mesmo o funcionário vinha me contar o que havia feito e na cara de pau perguntava:
– Não vale um Bis?
– Eu fazia questão de não marcar quantos Bis havia dado para cada um, para que a coisa toda fosse uma surpresa. O processo ficou famoso na empresa e até para gente de outros departamentos eu dei o chocolate, como um reconhecimento simbólico.
Sem frescuras, fogos de artifício, balangandãs ou planilhas complicadas, aquele processo de reconhecimento não custava nada e o valor daquela atitude singela foi demonstrado pela coleção de papéis de Bis guardada por quinze anos e mostrada a mim com brilho nos olhos.
Um Bis custa 15 centavos. Mas aqueles, não tem preço.
Luciano Pires
Jornalista, escritor, palestrante e cartunista.
[email protected] / www.lucianopires.com.br