O novo que vem de fora

O novo que vem de fora

Por Márcia Rodrigues

Desafio de trazer para o Brasil uma marca internacional com um produto ou serviço pouco conhecido, ou até desconhecido, é grande e empreendedor precisa estar preparado para passar por um período de maturação do negócio

Iniciar um negócio próprio é uma tarefa que exige bastante dedicação, comprometimento, análise de mercado e planejamento.

Ingressar em um novo mercado, oferecendo um produto ou serviço desconhecido, ou pouco conhecido, é uma experiência ainda mais desafiante, segundo o diretor da consultoria especializada em franquias ba}Stockler Luis Stockler.

“Se a marca ainda não tem operação no Brasil, é preciso ver se o negócio já é adaptado à realidade brasileira e se tem chance de expandir por aqui. É preciso fazer testes antes de investir em ser um máster franqueado de uma rede internacional e propor a sua expansão para o seu país de origem”, diz Stockler.

O especialista cita como pontos cruciais para serem avaliados: legislação, teste de aceitação do produto, adaptação do cardápio para os brasileiros, no caso de comida, e análise dos hábitos da população.

“Grandes redes como Pizza Hut, Subway, Domino’s Pizza quebraram a cara nas suas primeiras operações no Brasil por não terem feito a lição de casa. Todas precisaram abrasileirar o seu cardápio para começarem a conquistar nosso mercado”, comenta Stockler. Ele também destaca a experiência da Benetton. “É uma marca que não deu certo no Brasil e foi embora.”

Na opinião do especialista, o empreendedor que deseja abrir uma marca internacional no Brasil tem de ter em mente que precisará de um período de adaptação para começar a colher os frutos da empreitada. Segundo ele, antes de dois anos é bem provável que o resultado não apareça.

“Se o empreendedor quer um resultado rápido, o ideal é investir em uma marca que já foi testada no cenário nacional e já está ambientalizada. Caso contrário, ele vai precisar de um tempo para maturar o negócio.”

Esse tempo é necessário, de acordo com Stockler, para desenvolver fornecedores, estratégias de venda, ambiente, modelo de atendimento, entre outros aspectos.

Rede foi abrasileirada

Rodrigo Barros, CEO da Boali, trouxe a Salad dos Estados Unidos em 2008. Em 2015, comprou a representatividade da rede no mercado brasileiro, com o acordo de construir uma marca própria usando a expertise da rede internacional. No ano seguinte, a Salad deu corpo à Boali – Saladas, Wraps & Browls.

“Quando decidi trazer a marca para o Brasil, tinha acabado de sair da faculdade. Vi que o conceito de comida saudável era muito forte lá fora e não existia nada similar ainda no Brasil. Por isso, resolvi investir”, comenta Barros.

O empresário conta que sua aposta foi certeira e, com o passar do tempo, a rede brasileira ficou mais forte do que a americana.

“Chegamos a ter 21 unidades por aqui, enquanto nos Estados Unidos estavam em operação apenas 12. Isso me motivou a ter a ideia de comprar a marca no Brasil para poder criar uma empresa 100% nacional. Deixei, então, de ser franqueado máster para criar a rede Boali”.

Atualmente a Boali conta com 30 unidades em operação, quatro delas próprias. A previsão é de fechar 2019 com o total de 42.

“Nossa expectativa é de dobrar de tamanho em 2020”, anima-se Barros. Para o empresário, o Brasil está tendo uma retomada importante na economia.

“Temos muitos investimentos em infraestrutura e acreditamos que eles vão facilitar e baratear os custos com logística”, pontua.

Nacionalização da marca

O empresário Arno Krug, CEO da Maple Bear, resolveu investir na nacionalização da marca de escolas canadense por causa da sua metodologia de ensino.

“A metodologia é empregada nas escolas do Canadá, que desde 1982, pós a Lei Constitucional, determinou que todas as províncias e territórios deveriam oferecer o ensino nos dois idiomas oficialmente. Com a experiência acumulada ao longo desses anos, foi possível sistematizar o método em si e exportar para outros países. Dessa maneira, o governo estimulou que o método fosse levado a outros países”, ressalta.

A marca chegou ao Brasil em 2006. A primeira unidade foi inaugurada em São Paulo. Hoje a Maple Bear está presente em 16 países e com a perspectiva de abrir novas escolas em mais seis até o próximo ano.

Ao todo, são mais de 400 escolas nos quatro continentes.

No Brasil são 125 unidades, presente em todas as regiões, e 100 em contratação. A meta é atingir o número de 300 escolas em 2023.

“O Brasil é de longe o país onde o modelo da Maple Bear teve mais sucesso. Hoje 60% dos alunos da rede a nível mundial estão no país.”

Mas qual seria o motivo de a marca investir no mercado brasileiro? “Sabemos que existem diferenças significativas entre o ensino público e o privado no Brasil. De maneira geral, com raras exceções, a educação pública é avaliada de forma negativa e com várias deficiências. Por isso, no país existem muitas oportunidades para uma rede de ensino que traz no cerne uma metodologia que traz resultados eficientes”, diz Krug.