Entrevista

Entrevista
Clique aqui e acesse todo o conteúdo desta edição.

Matéria reproduzida da Revista Franquia & Negócios Ed. 58


Franquias vão para a rua

Primeira edição de estudo da Deloitte identifica que loja de rua é mais rentável para mais da metade das marcas. Governança corporativa já começa a aparecer em gestão

POR PAULO GRATÃO

Durante a 14ª Convenção ABF do Franchising foi divulgada a primeira pesquisa “Negócios em rede: visões, expectativas e práticas dos franqueados” desenvolvida pela Deloitte, em parceria com a ABF. Foram entrevistadas 97 marcas associadas à entidade entre agosto e setembro de 2014.

A Deloitte identificou nas respostas que ainda há baixa incidência de governança corporativa nas empresas, apesar do amplo conhecimento. Enquanto 78% acreditam que é importante apostar nas práticas, apenas 36% mantêm comitês de governança. A estrutura familiar de boa parte das empresas franqueadoras é um dos impeditivos, na visão do sócio-líder da Deloitte para o atendimento à indústria de Varejo e Bens de Consumo, Reynaldo Saad. “Por essa razão ainda não há tendência de fundos de investimentos interessados em grupos franqueados, como existe nos Estados Unidos”.

De acordo com a consultoria, existem seis “megatendências” para o setor nos próximos anos. A ida da indústria para o varejo, logística, novas demandas do consumidor, mudanças comportamentais, conexão total e alianças estratégicas. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista que Saad concedeu à revista Franquia & Negócios sobre esses direcionamentos.

Com seis megatendências traçadas, quais os desafios prioritários das franquias para 2015?
O ponto mais importante é identificar um equilíbrio no projeto de expansão. É preciso que o negócio tenha uma capilaridade maior, mas é fundamental conhecer o público e como transitar pelo mercado. Ir para o shopping ou para a rua porque todo mundo vai não é exatamente o que tem que ser analisado. As margens são muito pequenas, qualquer custo maior vai impactar a rentabilidade lá na frente.

Mais da metade das empresas entrevistadas (63%) apontou que a loja mais rentável é uma de rua. Isso mostra que há tendência de desvincular a expansão de franquias à de shopping centers?
Pode ser uma tendência, mas mais do que isso é uma lição aprendida. Na medida em que mais da metade aponta a rua com maior rentabilidade, eles vão pensar primeiro nesse modelo para depois ir para shopping. É importante não se deslumbrar com shopping center, porque nem sempre vai encontrar o tipo de público que você procura. Regionalizar e interiorizar são aspectos importantes para dar visibilidade para sua marca. O ideal é se filiar a franqueadores que já conhecem a região para ajudar no processo de expansão.

Aí entra a tendência das alianças com outras franquias? As marcas estão preparadas para isso?
Por ser uma tendência ainda, não se discute esse tema com muita naturalidade porque o franqueador é o pequeno empreendedor que começou, deu certo e foi crescendo. A convergência de setores é muito importante, ainda mais se forem complementares. Eu sempre exemplifico: se tem um pão de queijo, abre um café. Se tem lavanderia, abre uma tinturaria, crie combos e dê descontos. Os franqueadores são muito criativos, mas acho que falta fazer um pouco mais do que o básico de só tocar o próprio negócio.

Algum segmento deve se destacar no próximo­ ano?
O varejo, de forma geral, vai se aprofundar muito na parte de tecnologia. A partir de 2015 espera-se que haja um uso maior do e-commerce e dos aplicativos, mas precisa colocar o pé no chão. Não tem volta, não tem como fazer qualquer coisa do dia a dia sem um aplicativo, um smartphone ou um tablet. No entanto, não vejo chegando ao Brasil com o mesmo fervor que tem nos Estados Unidos. A conectividade vai acontecer, mas não sei se há preparo adequado para o varejo brasileiro se adaptar a isso.

A Deloitte também realiza os estudos das franqueadoras norte-americanas para a International Franchise Association (IFA). É possível estabelecer comparativos? Existem diferenças significativas?
Os estudos não identificaram diferenças grandes. Apesar de o perfil do franqueador ser similar ao nosso, muitos de lá têm experiência em mercados internacionais. A entrada de fundos de investimentos também é maior. Outra característica do mercado norte-americano é uma administração de empresas um pouco melhor, porque têm maturidade maior, independente de ser franquia ou não. Fora isso, são pequenas as diferenças que enxergamos.

Apesar de saber que governança corporativa é importante, poucas franquias ainda se empenham nisso. Por quê?
Percebo que falta muito conhecimento ainda do pequeno e médio franqueador para instalação do conceito em suas empresas. A governança é ampla, não é só criação de comitê ou conselho.­ Tange a parte de normas, capacitação, processos etc. Tem uma abrangência muito grande que ainda não é considerada na visão do profissional de franquia.

Um franqueador com estrutura familiar não entende porque, muitas vezes, tem que ir para o conselho e deixar a empresa na mão de outra pessoa.

Existe um lado muito emocional do franqueador e do franqueado que cria para si uma dicotomia de governança, mas ao mesmo tempo quer continuar dentro da sua empresa. Faz-se necessário um atendimento rápido da criação dessas governanças, senão as empresas não terão sustentação. Elas passarão pelo processo de consolidação dentro das próprias franquias e depois vão sucumbindo. Os grandes, no entanto, já estarão com processo consolidado.

O estudo apontou que em 71% das franquias a rotatividade aumentou. As ações de retenção e qualificação não têm surtido efeito?
O paradoxo é que nas lojas próprias esse índice é de 29%. Por que na loja própria tem rotatividade menor? Algum trabalho diferenciado é feito para quem é seu funcionário próprio. Quem é da franquia não tem o mesmo interesse? Não pode ter o estimulo de continuar dentro da empresa? Por que o franqueado não olha com a mesma visão do dono que deveria para sanar essa questão? O talento é precioso tanto na franquia quanto na loja própria. Falta à franqueadora passar ao franqueado a visão de dono, fazer a ponte adequada para passar as melhores práticas de talento que ele pode aplicar. Não tem como dividir, o consumidor vai usar sua marca na própria ou na franquia. Ele quer ser mais bem atendido, ter serviço bem feito e ambiente agradável.

Qual o maior recado que o estudo dá para o franchising em 2015?
O recado é manter postura conservadora, um pouco menos do que se previa, mas com cautela, além de se voltar para dentro. É um bom momento para pensar em deixar a empresa o mais sólida possível, porque quando tivermos uma situação econômica melhor, ou um varejo mais forte, fará a expansão com mais velocidade e menos investimento.

6 megatendências para o setor de franquias

1 – Indústria acenando para o varejo e para as franquias: Grandes empresas de bens de consumo traçam o caminho do varejo para estabelecer contato próximo com o consumidor.

2 – Logística: Desafio de tornar o processo mais eficiente, tendo em vista as dificuldades de locomoção em diversas regiões brasileiras.

3 – Novas demandas do consumidor: Cliente mais participativo e exigente no processo das empresas. A tendência de casual dining deve aportar no Brasil, oferecendo experiência diferenciada, além do fast food.

4 – Mudanças comportamentais: Com rotinas cada vez mais dinâmicas, o consumidor dará o tom das próximas inovações no franchising. Algumas já aconteceram, como limpeza residencial, alimentação fora do lar e atendimento no local de trabalho. A questão do pertencimento a um grupo também inspirará a criação de serviços para nichos.

5 – Conexão total: Atendimento online, delivery, reservas em restaurante, e-commerce e diversas outras evoluções tecnológicas precisarão estar cada vez mais presentes no cotidiano das franquias.

6 – Alianças estratégias: Estabelecer parcerias, programas de desconto e relacionamento com empresas e outras franquias de segmentos diferentes, mas complementares, pode ampliar o público consumidor.

Publicado em 06/01/2015

 

Veja alguns artigos interessantes do Portal do Franchising, clique e te levaremos para lá: