Entrevista

Entrevista

Clique aqui e acesse todo o conteúdo desta edição.

Música para os negócios

Em 2008, durante a meia-maratona de Londres, pesquisadores ingleses testaram um poderoso estimulante para incentivar os corredores, sem, contudo, colocá-los sob o risco de serem reprovados no exame antidoping. Neste caso, o ‘remédio’ usado para melhorar o desempenho dos atletas foi um velho conhecido das academias de ginástica brasileiras: a música pop. E, para avaliar os participantes da competição, os cientistas usaram uma mesma música, tocada eventualmente durante o percurso de 20 km, por 17 vezes. A conclusão da pesquisa foi que, quando a intensidade física começa a diminuir, efeitos do ‘remédio’ se tornam mais eficazes.

Um ano depois, o escritor Jonathan Pieslak relatou no livro Sound Targets (Alvos do Som) uma experiência semelhante. Desta vez, porém, descreveu o uso da música para motivar soldados norte-americanos antes de cada confronto na Guerra do Iraque. Eles escutavam rock pesado para se concentrar nos momentos que antecediam cada confronto.

Longe das trincheiras, no Oriente Médio e Ásia, ou da corrida nas ruas londrinas, o maestro brasileiro Renato Zanuto também tem usado a música para inspirar tropas, só que no caso dele, o objetivo é pacífico. Seus soldados são, na verdade, empreendedores e funcionários de empresas de diversos segmentos, que buscam na música a inspiração para vencer a batalha dos negócios. Nesta edição, a Revista Franquia & Negócios entrevistou Zanuto, que é formado em música e em administração de empresas, área na qual possui mestrado. Atualmente, o maestro faz palestras sobre empreendedorismo para funcionários de grandes empresas, nas quais garante usar a música como fio condutor para fixar seus ensinamentos. O músico-administrador também cuida de uma empresa que criou para fazer apresentações em eventos corporativos. Nesse bate-papo ele fala sobre como usar a arte para melhorar o desempenho de sua empresa, motivar os colaboradores e, assim, alcançar as metas traçadas.

Fale um pouco sobre a sua relação com música e a administração de empresas.
Estudo música clássica, piano, desde pequeno (nove anos). Fiz isso até a faculdade, quando decidi me especializar em composição e regência. E, como a vida de músico é muito instável, acabei fazendo uma segunda faculdade, que pudesse me dar mais alternativas de trabalho. Foi assim que entrei na administração de empresas. Na época meus pais tinham um negócio próprio e precisavam de alguém com esse perfil. Então, motivado pela família, voltei a estudar. Mas, mesmo assim, nunca abandonei a música. Pelo contrário. Quando entrei no curso fui trabalhar com a empresa dos meus pais e vi que uma coisa tem muito a ver com a outra. Depois de formado, resolvi prosseguir nos estudos, fiz mestrado, e montei uma produtora de eventos, onde forneço musical para artistas, eventos sociais, empresas e crio projetos personalizados. Ano passado, o Mc Donald’s me contratou. O tema deles era ousadia, então misturei música clássica, com escola de samba e banda de rock. Isso foi um evento para a rede mesmo.

Qual a relação entre uma orquestra e uma empresa?
Na composição e regência todos são importantes. Por exemplo, não importa se o músico vai tocar apenas uma nota, ele é tão importante quanto o regente que está comandando toda a orquestra. E na empresa é a mesma coisa. Há casos de empresa que tem problemas porque se um departamento falha, derruba o planejamento inteiro. A mesma coisa a orquestra: se um músico desafinar, ele consegue derrubar toda a orquestra. Se cada pessoa não estiver alinhada com o objetivo principal da empresa, ela corre risco de não ter sucesso. Costumo falar que, para verificar se uma empresa é organizada é só visitar o banheiro. Se o faxineiro fizer um bom trabalho, é bem provável que os outros também façam. E numa peça clássica é parecido; o regente tem que extrair de cada músico a melhor performance.

Quais são as características ideais de um líder?
O mais importante para um líder é saber ouvir. Se ele não tiver essa capacidade de escutar quem está ao seu redor ele perde. Mas se ouvir, ele ganha muito. Se ele tiver a percepção de pedir para o primeiro violinista organizar as arcadas, ele vai ganhar muito porque um músico que se especializou num instrumento terá conhecimento daquela ferramenta muito maior que o maestro. É um ganho para que o resultado final seja melhor para a plateia.

E tem também a diferença entre ser líder e estar líder. Tem que saber delegar também. Em alguns casos, você tem o solista, no solo de saxofone. Em determinado momento, quem vai liderar é o saxofone e o regente tem que reconhecer e interpretar aquele momento.

E em relação à liderança? Como a música pode ajudar um líder?
O líder tem que ser muito claro com relação a onde quer chegar. Ele tem que ter a capacidade de alinhar todos os esforços para que a orquestra flua como uma coisa só, e não como músicos independentes tocando juntos. Neste caso o maestro tem que extrair qualidade que, às vezes, o instrumentista nem sabe que tem. É o contrário do que acontecia até há muito tempo atrás, na época dos líderes autoritários. E, embora ainda tenha quem não compreenda isso, hoje em dia não tem espaço para autoritarismo, seja na empresa ou na regência de uma orquestra. Portanto, um líder atento, também pode ouvir sugestões dos instrumentistas, que podem melhorar o que ele está fazendo. Isso, contudo, não significa que se abra mão de uma hierarquia bem definida. E novamente a orquestra é um exemplo interessante, muito próximo de uma empresa ‘departamentalizada’, porque você tem os líderes que podem ser comparados aos chefes de naipe (cordas, sopro, percussão).

Para a música chegar às pessoas, precisa de um sistema maior que aquilo que está no palco: os técnicos e demais colaboradores têm participação importante para o conjunto. Muitas vezes você só enxerga a ponta, mas o processo é maior do que aparenta ser.

Qual a importância de combinar técnica e sensibilidade? Como isso impacta nas franquias?
Técnica é um dos pré-requisitos. Mas não podemos nos prender somente à técnica. Na franquia, o franqueado tem que conseguir honrar os princípios do franqueador. E isso não se faz só com técnica, porque com técnica a relação fica muito matemática e relações são menos técnicas e mais emocionais. É preciso sincronia, e se as pessoas não estiverem alinhadas com os valores passados pelo fundador da empresa, as coisas não vão dar certo.

Quais são os benefícios gerados pela integração das artes com o mercado?
Quando você só fala, a absorção é muito pequena, agora quando usamos a música como ferramenta, o nível de absorção é muito maior. A emoção motiva as pessoas.

Hoje você promove palestras, o que diz ao seu público?
O conteúdo é desenvolvido junto com as empresas, então pode variar em cada caso. Faço isso de acordo com aquilo que a empresa quer que seja passado ao seu público (colaboradores, clientes, fornecedores). Aí vamos montar as palestras junto com a música, mostrando cada um dos pontos que precisam ser abordados. Agora, o que é fundamental é que todas vão ter música e interação com o público. Em nossas palestras costumamos convidar as pessoas da plateia para tocar junto. É algo que elas nunca mais esquecem.

 

Publicado em 07/02/2014
Veja alguns artigos interessantes do Portal do Franchising, clique e te levaremos para lá: