Mariana Niederauer – Correio Braziliense – 16/02
Comprar uma franquia acreditando que adquiriu o passaporte para o sucesso pode ser o principal erro do empresário novato. Manter os pés no chão e não superestimar o potencial do negócio está entre as principais dicas de especialistas para que o sonho do empreendedorismo não se transforme em pesadelo. Além disso, é importante conversar com outros franqueados da rede, pesquisar informações sobre a marca, preparar-se para se dedicar ao negócio e ter um bom planejamento financeiro.
Ao seguir esses passos e fazer uma escolha consciente da marca em que vai investir, dificilmente o franqueado verá o negócio naufragar. O percentual de fechamento de unidades de franquias varia de 2% a 3% ao ano de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Entre as microfranquias, a taxa é maior, de 15%, mas ainda abaixo dos 24% de mortalidade registrados nos dois primeiros anos por negócios próprios, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
O consultor do Instituto Aquila Fabrício Miranda acredita que o principal desafio de um franqueado é domar a empolgação no início do processo. “As pessoas cometem erros básicos, como não analisar a situação financeira do franqueador, a concorrência — direta e indireta — e não procurar um franqueado para saber se ele está satisfeito com os resultados”, diz. Marcus Rizzo, consultor da Rizzo Franchise, explica que, para não errar, é muito importante que o potencial franqueado vá a campo e faça, ele mesmo, a pesquisa sobre a marca. Segundo o especialista, o empresário não deve confiar em nenhum tipo de intermediário, como os corretores. “Nunca tome a decisão sem antes conversar com pelo menos quatro franqueados sobre essa franquia”, acrescenta Rizzo. Dois deles devem ter até dois anos de operação e os outros dois, a partir de três anos. Assim, será possível chegar a uma ideia de como o negócio funciona antes e depois de ser instalado e de como é o suporte da franqueadora.
Pesquisa
Depois da escolha da franquia, algumas atitudes também ajudam a não cometer erros. A consultora Angelina Stockler, sócia-diretora da ba}Stockler, elenca, por exemplo, a escolha do ponto e o controle do estoque. Se a opção for por um local com muitas lojas do mesmo ramo, como um corredor temático em um shopping center, é preciso oferecer um serviço de excelência para garantir as vendas: atendimento de qualidade, bom preço, opções de pagamento diversificadas, preocupação com a disposição dos produtos na vitrine e facilidade na troca de produtos com defeito. Além disso, Angelina lembra que a responsabilidade de gestão do estoque é do empresário. “Como o franqueado é um gestor local, ninguém melhor do que ele para entender o público.”
Os irmãos Caio, 26 anos, e Hugo Barros, 28, fizeram uma pesquisa em shoppings da cidade antes de escolher a franquia em que investir, em 2008. Os dois perceberam uma carência por serviços na área de podologia e optaram pela loja da Doctor Feet. Segundo Caio, o principal desafio foi iniciar um empreendimento num setor sobre o qual não tinham pleno conhecimento e que precisa seguir uma série de exigências, tanto da franquia quanto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O interessante é ter sempre uma boa relação com o franqueador, pois muitas das decisões de negócio partem dele, como preço, produtos a serem vendidos e novos serviços. Então, manter as portas abertas para diálogo é o melhor caminho”, sugere Caio.
A falta de planejamento financeiro também está no topo da lista dos maiores erros dos franqueados. Angelina Stockler explica que as franqueadoras apresentam o plano de negócio, mas nem sempre computam nele o capital de giro que o empresário precisa ter para cobrir despesas que não estavam previstas e manter o negócio nos primeiros meses, quando o fluxo de clientes ainda é pequeno. Se esse for o caso, ela aconselha que o empresário cobre isso da franquia ou que ele mesmo faça a previsão. “Ele precisa levar em consideração que, durante o primeiro ano, não poderá tirar dinheiro da franquia. Então, além do capital de giro, tem que prever do que ele vai viver nesse período”, afirma. Na lista de gastos iniciais que devem ser calculados, também entram estoque inicial, reformas, compra ou aluguel do ponto comercial, taxa de franquia, percentual mensal de royalties e de marketing e outras despesas fixas, como telefone e internet.
Novos no mercado
Optar por uma marca que acaba de entrar para o franchising apresenta vantagens e desvantagens. “Os riscos são maiores, mas existe a oportunidade de conseguir um bom ponto comercial”, exemplifica Angelina. Ela destaca que o fato de ser um novo franqueador não significa necessariamente que o dono da franquia seja inexperiente no mercado. O ideal, segundo a especialista, é que ele tenha pelo menos dois anos de operação com mais de uma unidade própria e em diferentes tipos de comércio — de shopping e de rua.
No caso das microfranquias, em que o investimento inicial é inferior a R$ 80 mil, as oportunidades também existem, mas os riscos devem ser avaliados com ainda mais cautela. “Algumas dessas franquias, não são todas, têm muito pouca estruturação. O franqueado entra e fica totalmente abandonado”, afirma Marcus Rizzo. Por isso, é importante avaliar o suporte que a equipe da franqueadora está preparada a dar durante toda a operação. O diretor de microfranquias da ABF, Edson Ramuth, destaca que essas unidades também precisam seguir a Lei de Franquia. Por isso, os deveres de ambas as partes são os mesmos. Algumas oferecem até a opção de o empresário trabalhar em casa e ser microempreendedor individual. “Esse tipo de negócio fica acessível a uma grande parcela da população, que é a classe média. Nada melhor do que uma microfranquia para começar”, opina.
Aulas de graça
O Sebrae e a ABF lançarão sete videoaulas sobre franquias durante o 1º Encontro de Franquias do DF. De 19 a 21 de fevereiro, das 11h às 20h, haverá 15 sessões gratuitas com duração de 45 minutos cada. São 40 vagas por sessão e os espectadores terão direito a pipoca e a guaraná. Os temas das aulas incluem os passos para comprar uma franquia, como escolher e negociar pontos comerciais, aspectos jurídicos da franquia, entre outros. Em breve, as videoaulas estarão disponíveis também no portal do Sebrae. O encontro será no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Inscrições pelo site www.df.sebrae.com.br.
O que diz a lei
Contrato como garantia
A Lei nº 8.955, de 1994, define as regras do contrato de franquia. De acordo com Marcelo Moraes Tavares, professor de direito empresarial da Faculdade Arnaldo Jansen, as três principais obrigações de um franqueador, que devem estar presentes em contrato, são: orientar todo o processo de montagem do estabelecimento, treinar o pessoal do franqueado para assegurar a qualidade na prestação do serviço e padronizar as ações de marketing. O professor acrescenta que, até 10 dias antes da assinatura do contrato, o franqueador tem de emitir uma circular de oferta de franquias, com todas as informações sobre o negócio, inclusive se há alguma pendência judicial. “O primeiro dever do franqueador é assegurar transparência”, afirma. Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 3234, de 2012, que revoga a Lei nº 8.955 e dispõe sobre o Sistema de Franquia Empresarial. Na avaliação do especialista, as principais mudanças que a proposta traz são a possibilidade do uso do sistema de franquias empresariais por órgãos públicos, além de definir que somente podem ser concedidas franquias a negócios que tenham pelo menos dois anos de exploração em algum mercado, no país ou no exterior. O projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados e seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, onde pode ser aprovado em caráter conclusivo.