Por Marcos Gouvêa de Souza
Que a comunicação móvel está transformando o mundo já não é mais dúvida para ninguém. O que ainda existe de dificuldade é conseguir o desenho correto do futuro com o avanço da mobilidade. A própria indústria de celulares, como é o caso da Nokia, só consegue antever 15 anos à frente e conceber produtos, serviços e estratégia para esse período. O que no universo temporal, vamos convir, é muito pouco.
Desde seu primeiro lançamento em 1987 até o momento atual, em que existem 4,6 bilhões de usuários no mundo, o celular tem redesenhado a comunicação entre pessoas, marcas, instituições e empresas, gerando uma revolução social que criou acesso à internet, como única opção, para 75% desses usuários.
Na realidade brasileira são mais de 170 milhões de pessoas usando o celular, para uma base de 46 milhões de linhas fixas e perto de 60 milhões de usuários de internet. Transformou-se, no Brasil, num instrumento de inserção social, e assim é percebido, o que predispõe a maior parte de seus usuários a receber promoções, propaganda ou ofertas, individualizadas, desde que criativas e não invasivas.
Como canal de comunicação e relacionamento, o celular já tem definido seu papel revolucionário. Como instrumento de gestão, sendo usado para coleta de informações e transferência de dados, sua contribuição começa a ser definida.
O que não se consegue ainda definir é o potencial que terá como canal de vendas e distribuição de produtos e serviços. Nesse caso, só o céu parece ser o limite, complementando ou substituindo outros canais já consagrados, como lojas, internet, quiosques, catálogos ou mesmo a venda direta; mas também como papel secundário, ou principal, em canais que estão por surgir, como é o caso da TV Interativa, que só agora vai começar sua trajetória no mercado.
Quando realizamos a pesquisa Neoconsumidor em 2009, com 5.500 pessoas em 11 países, avaliando a predisposição ao uso dos canais digitais, internet, celular e TV Interativa para diversas categorias de produtos, ficou clara a abertura dos consumidores ao uso mais intenso dos canais digitais, que se reforçará conforme as experiências iniciais forem positivas, como hoje ocorre na internet.
No caso da internet, que já representa perto de 7% das vendas do varejo norte-americano, com crescimento de mais 15% estimado em 2009 em relação a 2008, apesar do cenário negativo, seu papel mais relevante é como instrumento de acesso a informações, comparações de preços, avaliação de produtos e serviços e referências de outros consumidores.
Para uma empresa como a Best Buy, principal varejista de eletroeletrônicos, produtos móveis e de entretenimento dos Estados Unidos, online e em lojas, a internet influencia 60% de suas vendas, pelo acesso que permite a informações que possam contribuir para uma melhor decisão de compra do consumidor. Grande parte desse papel será transferida para os celulares, e suas variantes, à medida que sejam desenvolvidos novos aplicativos, reduzidos os custos e ampliada a velocidade da comunicação com o 3G e, em breve, o 4G.
E essa expansão se faz de forma também revolucionária.
Só na China são perto de 300 mil desenvolvedores de aplicativos para celulares, que ampliam de maneira avassaladora alternativas de uso dos novos produtos, gerando mais facilidades e contribuindo para o aumento da atratividade dos novos produtos.
A mobilidade, pela intimidade, individualidade, conveniência, atualidade e agilidade proporcionada aos seus usuários, muito mais do que a internet, está fadada a redesenhar toda a estrutura e a estratégia da distribuição de produtos e serviços no mundo, ampliando o poder do varejo, de um lado; e também gerando oportunidades para não varejistas, fornecedores e distribuidores de criar seus próprios canais, contribuindo para esse redesenho de forma ainda mais abrangente.
Uma questão de tempo. Pouco tempo, principalmente se considerarmos tudo que aconteceu em apenas 23 anos, desde o lançamento do primeiro celular.