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Câmbio leva redes a fazer acordos com fornecedores

Valor Online – Felipe Datt – 20/08

O primeiro pico de desvalorização do real frente ao dólar, de 12,78%, em 2014, ligou o sinal alerta. Já o segundo, uma alta acumulada de 30,68% de janeiro a meados de agosto de 2015, obrigou as redes de franquias com forte dependência de produtos ou insumos importados a levar fornecedores, importadores – e, em alguns casos, até mesmo as matrizes no exterior-, à mesa de negociações na busca de acordos mais atrativos para minimizar os impactos dos custos mais altos.

Na impossibilidade de repassar os fortes aumentos de preços a um consumidor ressabiado, uma das alternativas é também buscar homologar fornecedores locais, na tentativa de diminuir a dependência de produtos com origem no exterior.

O impacto da desvalorização é grande para algumas redes. “Não há margem para absorver um aumento de preço perto de 50%. A saída é renegociar com fornecedores e importadores. Do contrário, haverá ruptura do fornecimento. Mas é provável que em alguns segmentos haverá perda de margens de importador e franqueador. Ninguém sairá ileso”, diz o diretor da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Juarez Leão. “Se o dólar continuar atingindo os patamares de hoje, algumas redes terão que repassar os aumentos ao consumidor final”, completa a diretora-geral do Grupo Bittencourt, Claudia Bittencourt.
O cenário já muda a dinâmica de muitas redes. Com um mix de cinco mil produtos, 80% deles importados, a rede de franquias de perfumes e cosméticos Di Vetro passou relativamente ilesa ao primeiro pico de perda de valor do real, em 2014. Isso porque seus maiores fornecedores, que detêm a exclusividade na importação e distribuição de fragrâncias das grandes marcas no Brasil, estavam bem estocados – como compram em grandes volumes, os importadores trabalham com estoques de 12 a 18 meses. Em 2015, a conta chegou, e a rede, que possui 22 lojas em operação, foi obrigada a negociar melhores preços com os fornecedores e minimizar o impacto do câmbio nos negócios.

Alguns perfumes chegaram a sofrer valorização de até 50% no primeiro semestre, na comparação com igual período do ano passado. Para não romper o fornecimento, os dois lados tiveram que sacrificar margens. “As negociações estão cada vez mais apertadas. No final, tivemos um aumento médio de 25% na aquisição de perfumes e reajustamos os preços ao consumidor final entre 8% e 12%. Sacrificamos as margens para manter um preço adequado ao consumidor”, diz a diretora administrativa e financeira da Di Vetro, Luana Paulino.

Na franquia de suplementos nutricionais e acessórios esportivos Dr. Shape, dos sete mil itens à venda nas 22 lojas da rede, 50% têm como origem o mercado externo. Mas mesmo parte dos produtos nacionais também sofre pressão do câmbio, já que seus fabricantes utilizam matéria-prima importada. A solução foi negociar melhores condições de preços com os cerca de 60 fabricantes e importadores homologados pela rede no Brasil – a Dr. Shape trabalha com tabela de preços sugeridos pelos fabricantes.

“Brigamos todos os meses para conseguir melhores condições de preço. A tabela de preços de suplementos e artigos importados sofre alterações a cada 15 ou 20 dias por conta do câmbio. Se não tivermos jogo de cintura e negociar, o cliente deixa de comprar”, diz o franqueador da Dr. Shape, Roberto Kalaes. Este ano, a franqueadora negociou um desconto total de 5% para compensar a variação do câmbio. Ainda assim, foi obrigada a reduzir as margens na impossibilidade de repassar totalmente os aumentos ao cliente final. Uma das saídas para aumentar as vendas foi montar combos de produtos, com importados e nacionais, reduzindo o tíquete médio em 5%, mas mantendo o ritmo de vendas.

Outras redes apostam na negociação com suas matrizes para minimizar o impacto do câmbio. A Direito de Ouvir, rede especializada em aparelhos auditivos com 135 unidades em operação, entre franquias e clínicas credenciadas como pontos de venda, se antecipou à forte desvalorização do real no final de 2014, logo após a fusão com a Amplifon, varejista italiana líder mundial no mercado de próteses auditivas. “Com a previsão desse período de turbulência e levando em conta que não há fabricação nacional de aparelhos auditivos, fechamos um contrato de fornecimento com os preços em reais. Isso nos dará segurança pelos próximos dois anos”, diz o sócio-fundador, Frederico Abrahão.