Caçadores de oportunidades

Caçadores de oportunidades

Enquanto parte do mercado retraiu investimentos, alguns empreendedores apostaram, lançaram negócios e já estão franqueando, durante a recessão econômica

os últimos anos, grande parte dos brasileiros seguiu uma coreografia parecida: uma mão abria os jornais, e a outra fechava os bolsos. A insegurança econômica travou investimentos e fez com que muita gente adiasse planos ou desistisse de empreender no triênio 2014-2017. No entanto, alguns empresários conseguiam ler as mesmas notícias pelas entrelinhas, e entenderam: é hora de apostar.

O fundador da Happy Code, Rodrigo Santos, sabe que deu início ao seu negócio em um momento de alto risco. Lá nos idos de 2014, ele tinha acabado de vender uma startup, estava capitalizado, e resolveu tirar um período sabático com a família nos Estados Unidos.
Nesse interim, em uma visita ao Vale do Silício, percebeu uma grande demanda pelo ensino de tecnologia e programação para crianças, não só lá, mas em todo o mundo. Ao mesmo tempo que teve o insight, a economia brasileira, em deterioração, o preocupava.

A primeira ideia que teve foi oferecer o método para escolas regulares, afinal o risco seria menor e atingiria o público-alvo. No entanto, as instituições procuradas estavam na mesma sincronia citada no início do texto. “Tivemos a coragem e acreditávamos no timing, estávamos muito preocupados com isso. Então, como não tínhamos tempo a perder, abrimos a unidade piloto de Valinhos (SP)”, lembra Santos.

De acordo com ele, a ideia de abrir um negócio ousado em um ano desafiador foi por prever a demanda em escala global. Tanto que, em menos de um ano, a rede já está internacionalizada. “Poucas pessoas no Brasil percebem a importância de aprender programação, mas há grande dificuldade de contratação atualmente”, explica o diretor de marketing da rede, Alexandre Luércio.

Riscos iminentes
A possibilidade de não reação do mercado em momentos delicados é o maior risco que empreendedores, como Santos, correm. “As condições estruturais são negativas. É bem diferente começar em um mercado onde sobra dinheiro, agora o senso comum só nos mostra o lado negativo. Exige destes negócios cada vez mais diferenciais que não estejam sendo atendidos”, comenta o fundador da consultoria Praxis Business, Adir Ribeiro.

Os caçadores de oportunidade têm uma característica em comum, na visão do especialista: enxergam brechas em mercados já aparentemente saturados, como educação, alimentação e saúde, por exemplo. “O ponto- chave é o espaço que ainda não foi preenchido. O jogo do mercado mudou e os novos entrantes não podem ter o mesmo modelo de pensamento. É rápido entendimento e rápida implementação. Eles desafiam a lógica e o mindset tradicional do empreendedor, que é se recolher e ver o que vai acontecer”, explica.

Nova aposta
O empresário Tadeu Gonçalves queria dar uma nova cara aos serviços de renovação de calçados e roupas, em Salvador (BA). Com isso, criou a Minha Costureira, Meu Sapateiro, em 2013, nos primeiros passos da crise que se instalou no País.

No início de 2017, ele recebeu a proposta de fusão do empreendedor Fábio Cesar, que queria trazer a Heel Sew Quik de volta para o País, depois de encerrada a parceria com a Sapataria do Futuro.

César pensa em cobrir a lacuna deixada pelo sumiço dos sapateiros de centros comerciais, por exemplo. “São atualmente nove unidades próprias e estamos muito confiantes, porque estamos em um mercado de renovação de usados. Hoje em dia, as pessoas começaram a perceber que vale mais a pena renovar do que usar os mesmos itens novos”, explica.

A consultora Mércia Vergili, do Grupo Soares Pereira & Papera (GSPP), comenta que negócios digitais e manutenção e reparo têm sido a bola da vez, e que a consultoria tem recebido mais demanda de formatação de franquias de segmentos incomuns, do que de franqueados que querem investir em negócios já existentes.

No entanto, ela alerta para quem for procurar um segmento novo para investir. É preciso muito estudo de mercado e análise de demanda antes de embarcar em uma aposta diferenciada. “Tem que tomar cuidado com essas coisas muito da moda, muito novas. São ideias que surgem, que todo mundo quer, quem entra primeiro consegue ter um retorno de investimento, mas o negócio não se sustenta”, orienta.

Olhar experiente
Novas marcas surgiram nesse período e diversas unidades franqueadas abriram as portas. No entanto, dois empresários experientes em franchising, que já haviam passado por outras crises, também demonstraram que o faro para negócios ainda está intacto.

Após uma sucessão de negócios bem-sucedidos,- Carlos Wizard Martins anunciou a aquisição de parte da WiseUp.

Não satisfeito, Martins e Flavio Augusto, sócio da WiseUp, criaram a holding Wiser Educação e adquiriram uma das maiores redes de ensino de Minas Gerais, a Number One.
Ele parecia ter saído de campo, no início da turbulência, mas voltou com força total. “Estamos analisando duas outras redes de ensino de inglês no Brasil. Temos planos bem delineados para transformar a Wiser Educação na maior rede de escolas de inglês do País. Atualmente, a Wise Up possui 320 unidades. A Number One tem 135 unidades e nossa meta é chegar a 1.000 unidades até 2020”, revela.

Wizard lembra que fundou sua primeira escola de inglês no final dos anos 1980, em uma crise bem parecida com a de hoje, e que não estaria onde está se não tivesse ouvido sua intuição. O empresário afirma que independentemente de qualquer governo, o Brasil é um País com potencial gigantesco e que uma visão de longo prazo pode trazer resultados.

“O empreendedor deve ser um eterno otimista. O maior desafio é não permitir que todo esse negativismo que está pairando no País chegue ao indivíduo de forma a paralisá-lo. A pessoa tem que ter a capacidade de ver mais longe e passar por cima desse momento recessivo transitório em busca de seus objetivos”, afirma.

A Pearson também esteve envolvida em movimentações similares, no mesmo período de 2017. As redes SOS Computadores, People e Microlins foram vendidas para o Grupo Prepara, que agora chama MoveEDU, e é o maior grupo de ensino profissionalizante do País. “Nós continuamos acreditando no Brasil. Ele sofre oscilações, mas é nesses momentos que acontecem essas oportunidades”, comenta o presidente do grupo, Rogério Gabriel.

O empreendedor trouxe todas as equipes das escolas compradas e acredita que só conseguiu uma fusão sem traumas, já que os subsegmentos convergem, por conta do propósito das redes. “O que faz a expansão da rede é franqueado feliz, não é a franqueadora”, afirma. Até o fim do ano, o grupo deve chegar a 1,5 mil escolas espalhadas pelo Brasil.

 

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