O Estado de Minas – Paula Takahashi – 08/06
Mercado interno em clara desaceleração diante do consumo mais contido das famílias que apresentou nos três primeiros meses de 2014 o primeiro recuo desde o terceiro trimestre de 2011 -, associado à desvalorização do real frente ao dólar, estimula os empresários a avaliar as possibilidades de negócios que se apresentam lá fora. A tendência não vale apenas para operações de grande porte. Pequenas e médias também querem colocar um pé no exterior, a fim de explorar mercados potenciais que despontam na América Latina, África e Ásia O movimento atinge, inclusive, as franquias que, durante a maior feira mundial do setor, que reuniu 480 expositores em São Paulo de 4 a 7/6, tiveram a oportunidade de ver os esforços que estão sendo empregados para viabilizar essa demanda. A expectativa dos organizadores é de que o evento movimente R$ 520 milhões em negócios.
Em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), a Associação Brasileira de Franchising (ABF) pretende estender o Programa de Internacionalização e Competitividade (Inter-Com) às franquias. Em cinco edições, já foram capacitadas mais de 100 empresas dos mais diversos ramos de atividade em todo o país. O conteúdo do programa de 40 horas é desenvolvido pela Fundação Dom Cabral (FDC) e tem como objetivo dar suporte às empresas que querem entrar em mercados estratégicos. “Dentro do modelo de educação que já existe, vamos ter um módulo voltado especificamente para o franchising”, antecipa Ricardo Camargo, diretor-executivo da ABF. Atualmente, os cinco módulos do programa se dividem em proposta de valor, talentos e liderança, modelo de negócios, gestão de stakeholders e modelo organizacional. “Agora, queremos levar a nossa expertise para o setor de franquias”, afirma Juarez Leal, gerente de internacionalização da Apex. Para isso, será necessária uma reformulação da grade, junto dos consultores da FDC.
“No campo de modelo de negócio, acredito que virá muito conteúdo do franchising, assim como no de proposta de valor. Essas são duas questões bastante estratégicas”, reconhece Frederico Silva, gestor de projetos setoriais da Apex-Brasil. A expectativa é de que a primeira turma já esteja em andamento dentro de seis meses e beneficie, a princípio, empresas associadas à ABF.
Ganhos lá e aqui
Levar o negócio para o exterior traz benefícios que vão desde o maior reconhecimento da marca até a expansão da competitividade no mercado de origem. “Uma coisa que o empresário tem notado é que, além de ampliar o valor de marca, há melhorias no campo da concorrência. Saber técnicas de gestão que vêm de fora aumenta sua competitividade dentro do mercado em que já atua”, pondera Juarez. Em pesquisa realizada pela FDC, ainda foram citados como importantes ganhos o aumento da capacidade de inovação tecnológica e o desenvolvimento de equipes com habilidades multiculturais.
Para Camargo, os interessados na internacionalização da marca devem avaliar alguns países que se mostram receptivos a esse fluxo de investimentos. “O mais fácil seria começar pela América Latina, em lugares como Colômbia, Peru, Chile, Uruguai e Paraguai, este último em boa fase de crescimento. Esses são os primeiros alvos”, observa. Na África, nações de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, também são estratégicas. “Mas também temos África do Sul, Nigéria e Marrocos, este em menor escala”, diz. A península de Macau, na Ásia, que também tem o português como uma das línguas oficiais, ao lado do chinês, se revela um passo atraente para os interessados em alcançar o poderoso tigre asiático. “É um local que recebe três vezes mais turistas que o Brasil no ano”, afirma Camargo. A estimativa é de que 30 milhões de pessoas visitem Macau, atraídas pelos cassinos e pelas compras.
Com o pé na China
Incentivos não faltam para ingressar no mercado asiático. O presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, Jackson Chang, esteve na 23ê edição da feira da ABF Franchising Expo em São Paulo e falou do grande interesse em receber empresários brasileiros. “Oferecemos seis meses de escritório gratuito, apenas para que os interessados conheçam Macau. Se, ao fim desse período, eles chegarem à conclusão de que não é o mercado para eles, podem desistir”, afirma.
A proximidade da língua é um dos fatores de atração, sem contar que não há exigência de visto. “Para as pequenas e médias empresas (PMEs), é uma grande oportunidade. Elas podem se estabelecer em Macau e, depois, ingressar na China. É uma forma de reduzir os riscos de uma entrada direta”, pondera Chang. Para as PMEs, Camargo recomenda investir em inovação. “É preciso ter algo inovador para se diferenciar e conseguir vender, caso contrário, fica mais difícil”, alerta.