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Sucesso em ambiente doméstico

JORNAL DIÁRIO DO COMERCIO – KARINA LIGNELLI – 18/07

Após trabalhar dez anos como enfermeiro, João Paulo Santiago dos Santos cansou da rotina hospitalar. Com algum dinheiro guardado, decidiu investir R$ 30 mil em um modelo de negócio que considerou atraente justamente por exigir baixo investimento e oferecer a possibilidade de trabalhar a partir de casa: uma franquia de serviços de cuidador de idosos e outros pacientes, da rede Home Angels. Resultado atípico: menos de três meses depois de abrir uma unidade em Santo André, a grande procura por esse tipo de serviço na região do ABC levou Santos a partir para uma segunda, em São Bernardo do Campo, “Tinha planejado manterá primeira por seis meses, mas foi tudo por água abaixo. Não deu tempo nem de pensarem desistir!”, brinca.

Encaixadas no segmento de microfranquias-ou seja, com investimentos a partir de R$ 5 mil até R$ 80 mil, com 368 redes no País e faturamento de R$ 4,5 bilhões em 2012, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF) -, o modelo como o escolhido por Santos é chamado de home based, ou franquia caseira. Tais negócios estão ganhando espaço nos últimos cinco anos pela quantidade crescente de pessoas que querem ser empreendedoras, explica Edson Rarnuth, diretor de microfranquias da ABF. “A expansão da classe média só vem incrementando esse número: além do baixo investimento, não é preciso adquirir pontos comerciais. É um tipo de negócio mais acessível porque o risco é menor”, afirma.

David Pinto, fundador e presidente da rede de microfranquias Doutor Resolve (de reparos e reformas e de manutenção de eletrodomésticos), confirma. Raramente o cliente precisa se deslocar para pedir serviços – usa o telefone ou a internet-, por isso não se exige grande infraestrutura. “Como o investimento inicial é menor, graças à economia com a instalação, o franqueado pode ter reserva de caixa maior”, explica.

Erro familiar
Para muitos, parece um só ter um negócio próprio gastando pouco no início e com a conveniência de trabalharem casa. Mas, além de não se acomodar e não misturar os negócios da empresa com a rotina doméstica é preciso muita dedicação para que o sonho não vire pesadelo. Edson Ramuth, da ABF, explica que, em primeiro lugar, o interessado deve escolher urna atividade com a qual se identifique. “Mas também é importante conhecer o histórico da franquia, verificar se é filiada à ABF (que orienta as partes, mas também fiscaliza procedimentos pelas normas do franchising) e saber se o franqueador dá treinamento constante”, alerta.

Aberta a franquia, é muito comum que o empreendedor peça auxílio a familiares, observa David Pinto, da Doutor Resolve. E isso pode ser desastroso para o andamento dos negócios, adverte. Um caso clássico, segundo ele, é quando o franqueado põe os parentes para atender ao telefone da franquia, erro que está sempre acompanhado de outro: usar o número da residência para falar com clientes. “Nem sempre os familiares compreendem que o atendimento é padronizado, que segue roteiro e precisa ser registrado num sistema de gestão”, explica. “Muitos erros podem ser evitados quando se encara a home based como escritório”.

Para ter sucesso em uma franquia desse tipo há certos passos a seguir, ensina Artur Hipólito, do Grupo Zaiom que possui sete marcas home based (incluindo a Home Angels). O primeiro, segundo ele, é vencer o medo de empreender e estar disposto a perder, se algo der errado. “É por isso que planejamento é essencial”. Assim como Ramuth, da ABF, ele fala sobre a importância de apostarem algo com o que se identifique, pois que “o que é bom para o vizinho pode não ser bom para você”. E perseverar, pois o capital de giro mínimo inicial serve para se manter por, no mínimo, seis a doze meses. “Não é abrir o negócio e um mês depois ir para a Disney ou trocar de carro. É trocar o mundo do emprego pelo do trabalho”, ressalta.

Também não há espaço para acomodação ou falta de disciplina: Hipólito lembra que quem tem ponto comercial deve abrir todo dia-e no home based, é a mesma coisa. “Mas pode dar errado se o empreendedor não se preparou psicologicamente, nem tomou a decisão de cumprir compromissos com agenda. Dar certo depende muito do perfil pessoal década um”.

Sem descanso Santos, o franqueado da Home Angels, está completamente de acordo. Com o crescimento “desenfreado”, conforme qualificada sua primeira unidade-e que segundo ele, já paga até a outra (“e dá até para tirar um lucro”), o enfermeiro diz que não teve mais fins de semana nem feriados. Mesmo assim não dá para esperar que os clientes venham baterá porta. “A questão do marketing tem que ser muito forte. Eu, por exemplo, faço panfletagem no ABC, propaganda em revistas que entram em condomínios, nos principais comércios, em casas de materiais cirúrgicos e locais com grande fluxo de circulação de pessoas. E não deixo de pedir acompanhamento da rede: seja administrativo, jurídico… Até converso com outros franqueados. Quem trabalha sério, não fecha”, acredita.

Responsável pela avaliação dos pacientes, Santos tem hoje doze funcionários e mais dez vagas abertas para tentar dar conta da demanda. “O mercado de cuidadores é carente de profissionais qualificados, o serviço não é barato e quem procura paga por qualidade. Trabalho muito mesmo, mas mantenho a perspectiva de dobrar o faturamento até o fim do ano”, planeja.

David Pinto, da Doutor Resolve, lembra de outro sinal de profissionalização no home based: franqueados que começam em casa mas, posteriormente, mudam para um espaço comercial para administrar o negócio. “Essa evolução é importante, pois traz mais visibilidade à franquia e, consequentemente à marca. Com a evolução do negócio, há demanda de adequação do espaço e da estrutura para comportar a operação sem perder a qualidade”, finaliza.