O Estado de S.Paulo – Dayanne Sousa – 08/10
As empresas operadoras de shopping centers que acabaram de inaugurar empreendimentos no País estão com dificuldades para alugar os espaços para as varejistas. Na tentativa de atrair inquilinos, há casos até de companhias que se dispõem a bancar a instalação dos lojistas.
A ocupação média dos 36 shoppings abertos em 2013 no País chegou a 57% em junho deste ano, de acordo com pesquisa do Ibope Inteligência. O nível é considerado baixo e evoluiu pouco na comparação com dezembro, quando estava em 50%. “As empresas não conseguiram ocupar grande parte dos empreendimentos”, ressalta Fábio Caldas, coordenador do levantamento.
A ocupação média do setor, que conta com mais de 500 unidades no País, é de aproximadamente 97%, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Isso indica que não há uma crise generalizada, mas sim uma situação desfavorável para os empreendimentos mais recentes.
Boa parte dos projetos foi lançada há mais de três anos, em um período de maior crescimento econômico, mas ficou pronta numa época de desaquecimento. Além disso, algumas cidades e bairros receberam mais shoppings do que poderiam comportar, gerando um desequilíbrio no mercado. “Tem lojista que está escolhendo onde se instalar, pois há uma oferta grande”, diz Caldas.
Segundo o pesquisador do Ibope, o momento econômico fraco afasta principalmente os lojistas de pequeno porte, com pouco acesso a crédito para montar uma nova loja e manter o capital de giro. “Esses pequenos empreendedores estão investindo o dinheiro das suas vidas, então decidem com muito mais cautela”, conta.
A pisada no freio também afeta redes médias. O consultor Marcos Hirai, da BGH, representante de redes de varejo nacionais e estrangeiras, afirma que companhias de médio porte reduziram em cerca de 25% sua projeção de lojas novas para o ano. “A partir do segundo semestre, vimos uma revisão drástica de expansão de várias redes, especialmente de moda.”
Revisão
Entre as que decidiram mudar os planos está a Hope, franquia de moda íntima. Segundo o diretor de expansão, Sylvio Korytowski, a empresa reduziu de 50 para 35 o número de aberturas previstas para 2014, como reflexo da queda nas vendas durante a Copa do Mundo e do cenário político indefinido. No médio prazo, porém, a companhia mantém-se otimista: a rede quer sair das atuais 120 lojas para até 350 em três anos.
O pessimismo dos franqueados também fez com que a rede de acessórios Chilli Beans desacelerasse. Neste ano, a empresa deve abrir cerca de 45 unidades, metade das inaugurações de anos anteriores. “Nosso franqueado está mais alavancado, então para ele é difícil fazer um novo investimento”, diz o diretor de expansão, Marinho Ponci.
Para evitar que os shoppings continuem vazios, algumas operadoras descartaram a cobrança de luvas (taxa cobrada pelo direito de uso do ponto) e, em alguns casos, estão até bancando a instalação e decoração das lojas. A Hope, por exemplo, teve uma de suas lojas montada pelo shopping. “Há mais espaço para negociar”, afirma Korytowski
O cenário, no entanto, não é de todo pessimista para o setor, porque lojas âncora e franquias já consagradas vêm mantendo o ritmo de expansão, diz o consultor Marcos Hirai. É o caso de companhias como o Grupo Boticário. A empresa mantém expectativa de sair das 3.747 lojas que tinha em 2013 para 3.900 lojas em 2014. Outra rede grande, a Cacau Show, também diz não ter revisado seus planos. “Temos acompanhado de perto as datas previstas para inauguração dos shoppings e já contemplamos os eventuais atrasos em nosso planejamento”, disse, em nota, Marcelo Martins, diretor de expansão.