Revista Gestão Negócios – Redação 20/11
Aprender a poupar, gastar e investir de maneira equilibrada é o caminho para aqueles que viram no empreendedorismo a forma de conquistar sua liberdade financeira.
Em todo 15 de novembro, o Brasil comemora a Proclamação da República, data em que a nação se tornou independente e presidencialista, rompendo os laços que a unia à monarquia portuguesa. Embalada por esse divisor de águas em nossa história, a Gestão Negócios propõe ajudar você a conquistar sua própria liberdade e fazer sua proclamação financeira por meio do empreendedorismo. A seguir, veja como essa opção profissional e de vida pode permitir que o seu caminho para a estabilidade financeira seja mais curto e satisfatório.
ESSA TAL LIBERDADE
Conquistar a liberdade financeira pode variar para cada um. Para alguns, significa poder viajar quando quer ou ter em banco uma poupança milionária. Para outros, é a compra da tão sonhada casa própria ou o poder de não precisar fazer contas ao final do mês. No entanto, a independência financeira é um conceito que está ligado à geração de uma renda, de caráter perpétuo, que seja suficiente para manter ou aumentar o padrão de vida por um período indeterminado.
Para o mestre em finanças, consultor e sócio-diretor da Mais Ativos Educação Financeira, Álvaro Modernell, o conceito de independência financeira é muito difuso, mas para ele há uma maneira mais simples de ser entendido. “Ter independência financeira é ter a capacidade de poder escolher o que deseja fazer como trabalho a ponto de não precisar fazer nada que não dê prazer ou satisfação, apenas por conta do dinheiro da remuneração e, ao mesmo tempo, não deixar de fazer nada que tenha vontade por limitações financeiras, dentro de um espectro de ‘razoabilidade’ compatível com o padrão de vida da pessoa”, afirma.
A fim de atingir esse patamar, muitos têm recorrido ao empreendedorismo como solução. “Muitos fatores convergem para que o profissional invista no empreendedorismo como alternativa diante de outras opções profissionais. A mais ampla delas, refere-se ao sonho que muitos profissionais têm em possuir o próprio negócio. Outro fator recorrente que se percebe é a motivação que se tem em trabalhar com algo que realmente faça sentido, algo do seu interesse. E, por fim, podemos identificar a perspectiva financeira e suas projeções futuras como outro fator que motiva o profissional a investir no empreendedorismo”, aponta o professor de Empreendedorismo da Faculdade IBS/ FGV, Romário Vieira de Melo.
Contudo, para optar pelo empreendedorismo, não basta apenas desejar alcançar a tal liberdade financeira. É preciso ter objetivos claros, fazer um planejamento realista e estar preparado, pois prosperar como um empreendedor no Brasil ainda não é tão fácil. “É preciso lembrar que há uma série de obstáculos para alguém fazer um negócio prosperar. Muita burocracia, carga tributária elevada e falta de infraestrutura em diversas áreas são algumas dessas dificuldades”, alerta o consultor em finanças pessoais, professor e CEO do Grupo PAR, Marcelo Maron.
Independentemente de qual seja a forma de remuneração, de acordo com o educador financeiro, presidente do Grupo DSOP e autor do livro “Terapia Financeira”, Reinaldo Domingos, para conquistar a independência o profissional precisa saber duas informações básicas: com qual idade quer parar de trabalhar por necessidade e qual a reserva financeira que terá de acumular. “Desta reserva financeira acumulada, o profissional deverá resgatar somente 50% do rendimento mensal, ficando assim os outros 50% acumulado na mesma, com isso, poderá gozar de uma aposentadoria sustentável pelo resto da sua vida”, explica ele.
HORA DE RESERVAR
Sabendo qual o negócio a ser desenvolvido, no caso de uma empreitada nova no mercado, o profissional deve ter claro onde deseja chegar com sua criação e trabalhar em cima de um planejamento para alcançar os objetivos. A liberdade financeira será uma conseqüência do trabalho e do sucesso da iniciativa. “Sabemos que boa parte do fracasso nos negócios não está, diretamente, relacionado à questão financeira, mas a equívocos no planejamento e na gestão do negócio. A cultura do planejamento ainda enfrenta resistências no cenário empreendedor. Mas é decisivo, principalmente no aspecto financeiro, pois é ele que irá determinar quais serão os recursos necessários para o empreendimento. Dessa forma, o empreendedor poderá visualizar os passos necessários em cada etapa, minimizando os riscos inerentes a qualquer negócio”, avisa o professor do IBS/FGV
O passo que se segue é procurar saber e entender quais são os custos preliminares, conhecer e controlar o fluxo de caixa e estabelecer um processo de vendas gradual. Segundo o diretor regional da Jani-King Brasil uma das maiores franquias de limpeza comercial do mundo e especialista em formação de novos empreendedores, Christian Rojas, todo plano de negócios deve ser norteado por três conceitos básicos: “Análise de Lucros e Perdas, isto é, de onde vem meu dinheiro e como estou usando-o: Balanço, quanto tenho e onde está meu dinheiro hoje; e Modelo de Fluxo de Caixa, que significa saber o que acontece com o dinheiro empregado e se há quantia suficiente para cumprir todos os compromissos financeiros da empresa”.
Tendo conhecimento sobre o fluxo de caixa e relatórios financeiros sobre a empresa, o empreendedor pode calcular, além do ganho mensal, a criação de reservas, essenciais para que possa superar eventuais crises ou se proteger de surpresas desagradáveis, tão comuns nesse mercado. De acordo com Álvaro Modernell, essa reserva deve ser calculada com base no perfil do projeto, da praça e do ciclo. “Como ponto de partida, o mínimo deve ser aproximadamente de seis a dez vezes o valor das despesas mensais fixas e mais o suficiente para os investimentos no primeiro ano de funcionamento, incluindo aí recursos para compra de estoques, equipamentos, folha de pagamento, tributos, instalações, promoção e, inclusive, inadimplência. Pode-se contar com capital próprio, de sócios, de terceiros ou linhas de crédito seguras. De preferência, com pelo menos três dessas alternativas”, aconselha.
Para Reinaldo Domingos, o controle do que é gasto na empresa anda junto com o familiar. Uma coisa precisa ser separada da outra. Mas para calcular a independência financeira, é preciso reunir um valor que possa pagar, no mínimo, duas vezes o seu atual padrão de vida. “Como educador e terapeuta financeiro, posso afirmar que tudo depende de atitude, disciplina e muita perseverança. Adotar uma metodologia de Educação Financeira é o caminho para garantir a independência. Para alcançá-la, é preciso dividir a receita passiva, ou seja, juros ou ganhos de aluguel mensal, por duas vezes o padrão de vida, ou seja, o custo mensal. Um dos pontos a ser observado é que dos juros mensais ganhos o resgate deverá ser de, no máximo, 50%, ficando os outros 50% acumulado na reserva financeira”, explica.
Christian Rojas concorda que a gestão de lucros é a chave para gerar reservas, aliada ao planejamento financeiro prudente. “Entretanto, nenhuma empresa pode ‘entrar na zona de conforto’ quando os negócios vão bem. É importante que o empreendedor esteja sempre à procura de novas oportunidades. Não basta apenas acumular fundos para se proteger contra possíveis crises no ciclo do negócio”, alerta o diretor regional da Jani-King Brasil.
É PRECISO SABER POUPAR
Para isso, a educação financeira se faz fundamental. Todo esse planejamento se beneficia a partir do momento em que o empreendedor escolhe dedicar tempo para que o dinheiro trabalhe a seu favor. Trabalhar duro e entender o equilíbrio entre poupar e gastar é uma das chaves do sucesso para Marcelo Maron. “Saber poupar e gastar não é o suficiente, porém é fundamental. Ser descontrolado e não ter consciência do que está fazendo, pode levar qualquer pessoa à falência, mesmo aquelas que têm uma capacidade de poupança grande, suficiente para levá-la à independência financeira. Investimentos são fundamentais para qualquer pessoa. É através deles que se construirá o caminho da independência”, afirma.
Maron ainda alerta que um dos maiores erros cometidos por empreendedores é entrar em um negócio que necessite de empréstimos caros para servir de capital de giro. “Não raro, encontramos pessoas que se endividam como pessoa física, empenhando cheques especiais e cartões de crédito para conseguir girar o seu negócio. O que já começa assim, tende a quebrar em um curto espaço de tempo”, completa.
Além de saber quando poupar e quando gastar, o empreendedor pode ainda buscar alternativas para que possa acumular boas quantias de dinheiro. Investir apenas por investir não garante um retorno satisfatório nem a independência financeira, segundo o presidente do Grupo DSOP. “Recomendo que os empreendedores também se informem sobre tipos de aplicações, como tesouro direto (títulos públicos), previdência privada e imóveis (receita de locação). Um dos maiores erros cometidos pelas pessoas, sejam elas empreendedoras ou não, é investir dinheiro apenas por investir. Sempre falo em minhas apresentações que dinheiro guardado sem destino, é dinheiro de ninguém e vai acabar sendo utilizado para tudo, menos para os sonhos desejados”, avisa Reinaldo Domingos.
O professor Romário de Melo endossa o discurso de Domingos, ressaltando que esses investimentos são alternativas lucrativas para aquele que buscar uma cultura financeira, o que implica em acompanhar a variação que esses fundos sofrem no decorrer do tempo. “Um fator decisivo para essa prática é a aposta no fator de risco de cada fundo: baixo, moderado ou alto. Essa decisão cabe exclusivamente ao empreendedor. Na dúvida, é sempre recomendável que essa aplicação seja auxiliada por profissionais especializados em mercado de capitais”, completa.
Além de ter um planejamento abrangente, aprender a poupar e gastar de maneira equilibrada e saber aplicar os valores recebidos, o empreendedor só consegue alcançar sua independência financeira se entender que o mercado está sempre em constante movimento. Por isso, estar atualizado e atento às volatilidades do consumo é fundamental. “O empreendedor precisa manter o foco nas novas demandas, nos concorrentes e em novos processos de criatividade e inovação. Não existe um consenso acerca de quanto da empresa, do negócio deverá ser reinvestido no próprio negócio. Mas, uma regra é fundamental: reinvestir permite ao empreendedor posicionar-se de forma pró-ativa em relação aos concorrentes e às novas demandas do mercado. Nesse sentido, estar com as ‘contas em dia’ favorece um processo de crescimento e sustentabilidade”, afirma Romário de Melo.
ELES SE LIBERTARAM
Anderson Pereira Silva é exemplo para aqueles que buscam a proclamação financeira. O DNA de empreendedor sempre esteve em suas veias, conta ele. Aos dez anos, na escola, comprava batom, bijuterias e carrinhos e vendia para outros coleguinhas de turma. Quando adquiria novos “produtos”, tentava melhorá-los antes de colocá-los à venda. Desde pequeno, sempre soube que o caminho da independência era inevitável. Ao sair do exército, ainda na década de 1980, foi trabalhar com o pai, dono de um atacadista de bijuterias. “Meu pai queria que eu conhecesse todos os setores do negócio, então fiz desde faxina, passando por vendedor, gerente de loja, até me tornar, após dez anos, gerente comercial das três lojas que ele possuía”, lembra Silva.
No entanto, advogado de formação e empreendedor nato, Silva escolheu usar o conhecimento adquirido e investir em seu próprio rumo, sabendo que trabalhar ao lado do pai o limitaria e o rotularia para sempre como “o filho do patrão”. Silva tentou advogar por dois anos, mas não conseguiu afastar a vocação. Ele conta que tinha quantia suficiente para abrir uma loja no bairro onde nasceu, Pirituba, localizado entre as zonas Norte e Oeste de São Paulo. Seu pai queria que ele montasse uma loja por lá, para então crescer aos poucos e expandir para outros bairros. No entanto, Silva queria algo além e, para isso, contratou um coach, além de realizar um curso de Gestão e Marketing no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Eu tinha aproximadamente R$120 mil e a idéia de empreender em algo focado no varejo, voltado para as classes C e D, mas com um diferencial, que era focar a qualidade. Ele me deu um norte, me direcionou, me ajudou com um plano de negócios e a colocar meu modelo de negócio em ação”, afirma.
Silva conta que o coach o ajudou com a idéia de abrir sua primeira loja em um shopping maturado, estabelecido, onde pudesse desenvolver seu projeto de acessibilidade ao luxo. Ele correu atrás de todos da família para que ajudassem com empréstimos e, em 2005, fundou a Cereja Jóias no Shopping Tatuapé. Em sua empreitada, colocou toda a experiência adquirida com o pai para aplicá-la no varejo de jóias, uma vez que conhecia o ramo. “A surpresa positiva foi que, já no primeiro mês, eu cheguei ao ponto de equilíbrio. O investimento foi de cerca de R$120 mil e já no primeiro mês eu percebi que acertei em ter investido no ramo de joalheria e segmentado o público para a classe C e D, com diferencial no atendimento, sempre de primeira linha”, diz. Dentre os diferenciais da Cereja Jóias está a customização de alianças, em que o casal pode escolher modelo, espessura e largura. Como a rede é fabricante, isso é oferecido com facilidade e sem acréscimo de valor do produto.
Contudo, ambicioso empreendedor que é, em 2010, depois de abrir sua terceira loja própria, Silva percebeu o sucesso de sua empreitada e pensou em maneiras de expandi-la ainda mais, sem injetar muito dinheiro. “Busquei ajuda profissional, fiz uma análise de franqueabilidade e percebi que este seria o melhor caminho. Contratei então uma empresa para formatar o meu negócio. Depois de um ano e meio estávamos com nosso plano de negócios pronto e fazíamos parte da Associação Brasileira de Franquias (ABF). A assessoria foi importante porque tivemos que estruturar o negócio para nos tornarmos franquia”, explica. Hoje, são sete unidades, mas serão dez até o final de 2014. A previsão é de um faturamento de R$5 milhões.
A inquietude diante do mercado também foi um dos motivos que despertou o empreendedorismo nos jovens Jonathan Santos de Souza, de 24 anos, e David Nudelman, de 23; sócios da agência Publicidade Popular, responsável por ações publicitárias voltadas aos micro e pequenos empresários. Em 2012, ainda estudantes do curso de Publicidade e Propaganda, Souza e Nudelman observavam outros ao seu redor, trabalhadores como eles de grandes empresas do ramo, insatisfeitos com seus empregos atuais, seja pelo ambiente, salário ou falta de reconhecimento. “Percebi aos poucos que eu estava sendo mais uma pessoa que entrava no mesmo sistema Sempre tive um pensamento orientado a empreender, meu pai tinha o seu próprio negócio e cresci vendo-o trabalhar assim. Por coincidência, o David estava no mesmo momento, e juntos construímos a ideia embrionária da Publicidade Popular”, lembra Jonathan Souza.
A agência foi fundada no mesmo ano, buscando um gap no mercado de publicidade: o atendimento de micro e pequenas empresas. Souza e Nudelman viam que as empresas do ramo estavam preocupadas em ganhar grandes contas de empresas que estão acostumadas a realizar amplos investimentos em publicidade. No entanto, eles encontraram um novo público, disposto a confiar nessa parceria. Souza lembra que a iniciativa foi constituída com R$200,00 para os custos de hospedagem e domínio do site. No início, as poucas empresas atendidas buscavam serviços como criação de materiais gráficos ou digitais e sites. Contudo, o boca a boca foi se espalhando, o que atraiu Dortagenv sobre a empresa e os sócios souberam despertar a atenção dos microempresários que queriam serviços de comunicação p publicidade O início foi difícil, especialmente devido à falta de conhecimento dos sócios em relação ao planejamento financeiro da empresa. “Inicialmente tivemos alguns problemas para manter as contas em dia, pois não tínhamos um planejamento estruturado e também pelo fato de reinvestirmos boa parte do faturamento na própria empresa, o que refletia em um equilíbrio financeiro que passava a falsa impressão de não termos lucro” recorda Souza Com o tempo, os sócios perceberam que a área financeira necessitava de um cuidado maior, especialmente com a notoriedade da agência, o que atraiu novos clientes. Hoje, eles possuem uma visão e um planejamento trimestral para a Publicidade Popular, além de contar com o apoio de uma empresa especializada em finanças.
Além de um preço abaixo da média do mercado, a agência comercializa projetos com duração máxima, em geral, de 30 dias, com início, meio e fim. Dentre as criações estão ainda gestão de páginas em redes sociais e os preços estão expostos no site, com a possibilidade de contratação on-line. “Nós temos o know-how necessário para saber até quanto este público está disposto a investir e qual a forma que ele quer consumir este serviço. Normalmente as campanhas digitais no Google e Facebook são bem aceitas devido ao baixo custo de investimento que varia de R$400,00 a R$600,00 em média”, completa Souza.
Em 2012, a empresa contava apenas com os dois sócios. Hoje, são dez funcionários no total e mais de 500 clientes foram atendidos nesses dois anos. A previsão de faturamento é de R$450 mil em 2014 e ambos os sócios se orgulham de utilizar uma metodologia de trabalho voltada para que as pessoas possam expressar suas qualidades e conhecimentos ao máximo.
Para Souza, se libertar financeiramente por meio do empreendedorismo só dá certo se o profissional estiver disposto a aprender constantemente, a planejar o futuro da empresa a curto e longo prazos, se souber ver o dinheiro como um meio de investimento e entender como ele deve ser aplicado na empresa, se entender que a busca por conhecimentos sobre gestão financeira é fundamental e que esteja preparado para trabalhar muito e em qualquer horário. “Com a Publicidade Popular conseguimos equilibrar as finanças pessoais junto à empresa. Mas é importante ressaltar que os fatos não acontecem repentinamente e o caminho até a independência financeira é longo e repleto de desafios, seja ele via empreendedorismo ou não.
Acredito que empreender é um dos caminhos para chegar até a independência financeira, porém é o mais audacioso e exige coragem, paciência e persistência. Para grandes objetivos, como o empreendedorismo, devemos estar preparados para grandes sacrifícios”, conclui Souza.
Para Anderson Pereira Silva, criador da Cereja Jóias, escolher o empreendedorismo como forma de se libertar financeiramente está diretamente ligado à paixão e à identificação do profissional ao ramo que se pretende trabalhar. Para ele, precisa ter afinidade com o tema, construir boas relações com parceiros e investir em pessoas. “A Cereja loias significou para mim muito mais que independência financeira. Como trabalhava com meu pai e estava completamente atrelado a ele também significou uma independência de vida.
O empreendedorismo é um caminho para a independência. E, para quem quer isso, mas não tem segurança para criar um negócio do zero, a franquia é uma boa opção, já que oferece o respaldo e o conhecimento de negócio e mercado”, finaliza.