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Hipermercados se reinventam para sobreviver à competição

DCI – Flávia Milhassi – 06/11

O formato dos hipermercados está em xeque. Considerados por muitos um modelo que já não responde mais às mudanças da sociedade, eles ainda enfrentam o crescimento da concorrência de operações com perfis diferentes, como as lojas de vizinhança. Para não perderem a importância e, principalmente, manter a rentabilidade, vários modificaram a operação com a inserção de galerias de serviços. Porém, mesmo com o baixo investimento que esse nicho tem recebido das redes supermercadistas nos últimos 10 anos, ele continua a ser um formato com alto faturamento.

Dados do ranking Ibevar (das maiores empresas do País), apontam que os hipermercados, somados aos supermercados e aos atacados, superaram R$ 214 bilhões em faturamento ano passado, ou seja, 56,5% do montante arrecado no período pelos 120 maiores players do varejo brasileiro.

Ainda segundo o levantamento, das 55 companhias que atuam no segmento de varejo alimentar, 30 têm receita anual na casa do bilhão. “Os hipermercados mantêm a rentabilidade devido ao número de produtos ofertados. Outro ponto é que a venda de bens duráveis [geladeira, fogão, televisão] ajuda a ampliar a lucratividade”, diz ao DCI o economista da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Flávio Tayra.

O especialista no setor explicou também que no passado um dos diferenciais dos hipermercados era a precificação. “Chegamos a ter lojas com 50 check-outs. Eram espaços que conseguiam armazenar um número realmente significativo de produtos. O volume maior de estoque ajudava na política de preço mais competitivo”, disse, concluindo: “Hoje, oshipertêm o mesmo preço dos supermercados e das operações de vizinhança. O diferencial está na oferta de produtos, e não mais na precificação”.

Concorrência

Especula-se que o maior concorrente dos hipermercados são as lojas de vizinhança, que de cinco anos para cá têm ganhado destaque no País e na estratégia de vários grupos. A verdade é que os atacados foram transformados em “atacarejos”, podendo ser considerados um dos algozes dos hipermercados. “Quem oferece a possibilidade de compras de abastecimento com preços competitivos e em diversos locais Os atacados”, enfatizou o diretor de Foodservice da GSMD Gouvêa de Souza, Sérgio Molinari.

Segundo o especialista, no entanto, mencionar uma possível falência do modelo no Brasil é, no mínimo, leviano. “Os hipers faturam, ao ano, cerca de R$ 150 milhões, enquanto um minimercado, R$ 2 milhões. Qual é o formato mais interessante para uma rede varejista”, questionou ele.

Outros dados que ressaltam a importância do hiper são os números das quatro principais redes supermercadistas no Brasil. O Walmart pode ser considerado a bandeira com os maiores hipermercados em operação: são 544 lojas divididas entre as marcas Big, Hiper Bompreço e também Walmart.

Em segundo em número de unidades está o Extra, pertencente ao Grupo Pão de Açúcar (GPA), com 137 lojas no País. “O Extra Hiper trabalha no conceito one stop shop, proporcionando ao consumidor a praticidade de encontrar tudo o que ele precisa em um único lugar. A marca conduz mecânicas promocionais bem agressivas, com foco em levar as melhores ofertas aos clientes”, afirmou a empresa.

Na sequência está o Carrefour. Hoje, a rede opera 102 hipermercados, sendo 18 sob o conceito Nova Geração modernização do layout que será levado a outras unidades nos próximos anos. “Em 2016, o total de hipermercados transformados sob esse conceito chegará a 60. Trata-se de um projeto arquitetônico inovador, com layout moderno, desenvolvido a partir de extensa pesquisa qualitativa sobre o comportamento e preferências do consumidor brasileiro”, afirmou a empresa, em nota, reforçando os esforços em modernizar o seu formato de hipermercado.

Por último, está a rede Cencosud, de origem chilena. No Brasil, ela opera 34 lojas em formato de hipermercado das bandeiras GBarbosa, com foco no Nordeste, e 10 lojas Bretas, com atuação em Goiás (GO) e Minas Gerais.

Modificações

Molinari ressaltou que o principal aspecto dos hipermercados, em tempos passados, estava na política agressiva de preço. “O fundamento do hipermercado era em um ambiente grande, oferecer um amplo sortimento de produtos a preços econômicos. A origem dos hiper está associado a isso e junto ao baixo nível de serviço ofertado também”, disse. De acordo com ele, “o atacado consegue fazer a mesma coisa. Com isso, os atacarejos conseguem drenar a performance dos hipermercados e trazer a sensação de que pode cair em desuso no Brasil daqui a alguns anos. Mas isso não vai acontecer. Ainda existem muitos locais que podem receber um hiper no País”.

É notável que os supermercados e as lojas de vizinhança ocuparam um papel importante no gosto do consumidor. Pesquisa da Nielsen identificou que nos dias atuais há menor frequência de idas aos supermercados até quatro vezes ao mês e uma maior diversidade de canais, logo os locais que oferecem serviços agregados como o hiper, costumam levar a melhor.

Estudo da Abras apontou também que de 2001 a 2013 as redes passaram a dar mais importância a esses serviços. Farmácias cresceram em importância nas redes supermercadistas, assim como oferecer casas lotéricas, postos de gasolina, lojas de roupas, salões de beleza e demais atividades. “Muitos hipermercados apostaram em galerias comerciais. Isso torna a operação atrativa ao consumidor”, explicou o economista da Abras, Tayra.

A Cencosud ressaltou ao DCI, a importância de estar em constante modernização dos hipermercados. “A Cencosud possui uma ampla expertise na operação de hipermercados na América Latina e no Brasil. Para acompanharmos as mudanças dos hábitos da população brasileira e do comportamento de consumo, os 44 hipermercados que operamos contam com lojas amplas e sessões variadas, que oferecem serviços diferenciados a fim de garantir uma maior comodidade com a presença de farmácias, perfumadas, lotéricas e lojas de diversos segmentos”, afirmou, em nota.