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Franquias levam venda porta a porta para a web

Jornal Folha de S.Paulo – Filipe de Oliveira – 22/09
 
Empresas estão levando o mercado de venda porta a porta, tradicional no setor de cosméticos, por exemplo, para a internet. Por meio do modelo de franquia, elas oferecem uma plataforma personalizada para empreendedores venderem produtos da marca.

A ideia é que o franqueado apenas faça a venda. A entrega do produto ou serviço propriamente dito, em geral, fica a cargo da franqueadora.
 
O principal atrativo dessas redes é exigir pouco investimento inicial que pode ser de menos de R$ 1.000 até R$ 15 mil, em geral e permitir que se trabalhe de casa.
 
Ursula Coelho, 39, por exemplo, tornou-se neste ano franqueada da Sandaliaria Express, que vende chinelos estampados, e criou a página Victorine Sandaliaria.
 
A rede não cobra taxa de franquia, o franqueado paga uma taxa de recarga cada vez que precisa repor o estoque, a partir de R$ 800.
 
Após montar o site, Coelho não deixou seu emprego principal, na área de venda de produtos odontológicos.
 
“Trabalho das 8h às 18h, totalmente focada no meu emprego, apenas dando uma olhada no e-mail para ver se há algo da loja. Depois, fico até a meia-noite em casa trabalhando no computador.”

Segundo Ricardo Camargo, diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), esse modelo de franquia, apesar de exigir investimento baixo, tende a funcionar como um complemento da renda, e não como a atividade principal do empreendedor.

“A tendência é que esses negócios sejam uma renda extra. O faturamento nem sempre compensa o esforço de uma dedicação integral”, diz o executivo.
 
Além disso, no caso de Coelho, parte do que ela recebe é reinvestido no negócio, na compra de anúncios em sites de busca, especialmente Google e Yahoo!.
 
Camargo diz que, até agora, são 12 as redes virtuais associadas à ABF, a maioria dedicada a serviços digitais, como criação de sites.
 
Mas existem uma série de outras marcas que oferecem diferentes produtos e têm atraído muitos franqueados. A Camisetas da Hora, por exemplo, tem 857.
 
Na avaliação de Marcelo Cherto, da consultoria Cherto, o modelo de franquias pela internet deve crescer nos próximos anos, principalmente porque são poucas as barreiras para a criação de novas redes virtuais e a entrada de mais franqueados.
 
Segundo ele, o principal desafio de quem investe nesse tipo de franquia está no fato de que ele só terá lucro para tornar a operação vantajosa se tiver um volume grande de vendas, pois as comissões são baixas e é preciso investir em propaganda.
 
Sem vitrine, encontrar clientes é desafio
 
Mesmo que franquias virtuais permitam trabalhar de casa, empreendedor precisa ir à rua para atrair consumidor.
 
Como as marcas dessas empresas são pouco conhecidas, esforço de divulgação precisa ser maior, diz especialista.
 
Ter uma franquia em que se pode trabalhar de casa, vendendo produtos pela internet, pode se tornar um desafio na hora de encontrar clientes.
 
Além disso, o fato de o setor ainda ser recente e ter marcas desconhecidas torna a tarefa de atrair os consumidores ainda mais difícil.
 
“Se você é franqueado de uma marca forte, tem produtos que se vendem sozinhos. No caso de um franqueado virtual, o cliente não vai bater à sua porta”, afirma Nadia Korosue, da consultoria de franquias Goakira.
 
Rogério Basquez, 33, é franqueado da rede de recrutamento RHF, que tem sede em Curitiba. Ele conta que, na maior parte de seu tempo, está dedicado a procurar novos clientes. Entre suas atividades está entrar em contato com as empresas de sua região (a cidade de Cotia, na Grande São Paulo) e verificar quais delas precisam de indicações de profissionais.

Outra rotina é procurar candidatos para essas vagas e entrevistá-los pela internet ou pessoalmente. Ele faz contato com faculdades e anuncia em escolas profissionalizantes.

Tudo isso de uma sala da transportadora familiar, na qual também já trabalhou.

“Como estou em um local que não tem acesso fácil, preciso ir atrás do cliente para ter um resultado melhor.” Ele conta que investiu na franquia virtual (que tem taxa de adesão de R$ 12.500), por considerar o valor baixo e o mercado, promissor. Atualmente, Basquez fatura cerca de R$ 4.000 por mês.
 
CATÁLOGO EM MÃOS
 
Sentindo dificuldades de encontrar clientes pela internet, Lucy Magalhães, 45, franqueada da Camisetas da Hora, com a qual criou o site Camisetas da Lulu Urso, decidiu concentrar a divulgação dos seus produtos fora da internet.
 
Sua intenção foi conseguir aumentar suas vendas, mesmo reduzindo os gastos com publicidade.
 
Para isso, criou um catálogo com os produtos que considerava mais interessantes (camisetas estampadas com figuras de animais ou que tivessem futebol como tema) para procurar novos clientes.
 
“Tudo na internet é muito caro. Tentava atrair clientes com anúncios no Google e e-mails com mala-direta, mas nem sempre o que você investe vira venda. Fiz um catálogo por conta própria e consigo vender algumas camisetas da Copa no off-line”
 
Ela conta que “não tinha a idéia de quanto dava trabalho” atrair consumidores. “Pensava: “Tenho mil amigos, cada um deve comprar uma camiseta”. Mas, no final, foram dois ou três que compraram.” (FILIPE OLIVEIRA)