Jornal O Estado de Minas – Francelle Marzano – 07/10
A expansão de grandes marcas no interior vai alavancar o crescimento do setor de franquias em Minas Gerais. A expectativa, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising Regional Minas (ABF-MG), é movimentar este ano no estado cerca de R$ 4,1 bilhões, com crescimento de 18% no faturamento e de 10% em número de unidades. Em 2012, o setor somou R$ 103,291 bilhões em faturamento nacional. Empresários do setor desenham o caminho para chegar ao interior do país, principalmente em Minas, já que é o estado brasileiro com mais municípios e o segundo mais populoso. Os negócios em funcionamento no interior são responsáveis por 14% do faturamento de franchising em Minas.
As franquias são o meio mais fácil para se aproximar dos consumidores em cidades que têm mais de 60 mil habitantes e com crescente potencial de consumo. Dados da ABF mostram que Minas Gerais é sede de 145 marcas de franquias em diversos seguimentos, como alimentação, beleza, saúde, educação, vestuário, calçados, entre outros. É o terceiro estado com maior número de lojas franqueadas, com 4.433 unidades, 70% delas no interior e 30% em Belo Horizonte.
A jornalista Juliana Linhares decidiu trocar a agitação da capital por um lugar mais tranquilo, próximo aos familiares. Na mudança para João Monlevade, ela e o marido, José Mario Braga, decidiram abrir uma revenda exclusiva da marca Via Mia, especializada em calçados e acessórios. A loja foi criada com base no modelo de arquitetura da marca, revendendo exclusivamente os produtos originais, mas com a liberdade de nomear a loja e acrescentar diariamente um toque pessoal do casal. “Sempre tivemos vontade de abrir uma loja, mas não sabíamos qual produto oferecer. Queríamos trabalhar com uma marca conhecida, mas que nos dessa liberdade para acrescentar nossa identidade, nossas ideias, nosso jeito de trabalhar”, conta.
O investimento foi de cerca de R$ 250 mil. Inaugurada em maio, Juliana diz que ainda é cedo para ver o retorno. No entanto, ela afirma que as vendas estão dentro do planejamento traçado por eles. “A franquia nos oferece suporte de uma grande equipe e a experiência de estar há muito tempo no mercado. É incrível a reação das clientes quando compram na loja e falam que se sentem em um shopping de capital”, completa.
Adir Ribeiro, especialista em franquias, varejo e canais de venda e presidente do Praxis Business, consultoria com foco no franchising, acredita que casos como o de Juliana estão cada vez mais comuns no Brasil. Para ele, a interiorização das franquias está diretamente ligada à melhora no poder aquisitivo da população. “O Brasil vive esse movimento e Minas tem características específicas que contribuem ainda mais, como cidades pólos, de grande movimentação econômica, que poderiam ser comparadas à capital”, considera. O novo fenômeno está relacionado também à saturação do mercado nas capitais, que geralmente têm custos mais elevados de localização, capital de giro e concorrência maior.
As grandes redes têm como vantagem em seus planos de crescimento a oferta de modelos de negócio que se adequam à capacidade de consumo de cada cidade. Esse movimento, de acordo com o diretor da ABF-MG, Aristides Newton, aumenta a qualidade das franquias com a capacidade de adaptação, procurando cada vez mais cidades menores. “Anteriormente, esse movimento era em cidades com 100 mil a 300 mil habitantes, agora, é visto em municípios muito menores, com 60 mil, 80 mil moradores”, explica.
Estudos Específicos
O investimento em cidades do interior leva empresas a desenvolver estudos específicos sobre o potencial de consumo no país. Dorival Oliveira, vice-presidente da Arcos Dourados, franquia Mc Donald’s que opera no Brasil e América Latina, conta que a empresa fez um levantamento das 5.565 cidades brasileiras, mapeando aquelas com potencial de consumo para abrigar um loja da marca. De 2010 até agora, já foram inauguradas 17 lojas franquiadas da rede de fast food em Minas Gerais, sendo 14 delas fora da capital. Ipatinga, Pouso Alegre, Poços de Caldas e Patos de Minas são algumas das cidades atendidas pela empresa.
Newton, da ABF-MG, lembra ainda que, na maioria da vezes, as franquias não chegam no interior com o mesmo nível de estrutura que têm na capital. “Eles precisam de um tempo para conhecer o mercado, para se acostumarem com os hábitos da cidade em que estão se instalando”, afirma. Para Adir a premissa fundamental para instalação de uma franquia no interior é o equilíbrio entre o modelo proposto e a efetiva lucratividade. “Eles investem em modelos menores, que exigem menos dos franquiados, uma vez que as oportunidades nas grandes capitais estão cada vez mais restritas”, explica o especialista em franquias.
Alimentação no topo do ranking
Minas é um estado com grande prioridade nos planos das marcas Subway e Bob’s. A afirmação é do agente desenvolvimento da rede Subway, Luís Felipe Ribeiro, e do diretor geral da rede Bob’s, Marcello Farrel. Hoje, 20% das lojas Subway no estado estão no interior, número que deve crescer nos próximos anos. Até dezembro, seis novas cidades devem ser incluídas no roteiro da marca. Já a marca Bob’s tem 65 lojas no território mineiro, sendo 18 em Belo Horizonte e 47 fora da capital.
Para chegar às cidades menores, Farrel destaca que há um plano de expansão agressivo, com projetos diferenciados de lojas que podem variar de um quiosque até um drive-tur, levando a marca para regiões que estão em desenvolvimento. “Entramos hoje em cidades com 100 mil habitantes, com a garantia de qualidade em todo o território nacional. Nossa expectativa é promover a abertura de 15 unidades Bob’s em Minas neste ano”, revela.
Nos municípios menores, o primeiro contato do Bob’s nem sempre acontece com o sanduíche, mas por outro carro-chefe da rede, os milk shakes. Caso da unidade em Barbacena, na Região Central de Minas, onde foi aberto um Bob’s Shakes há dois anos. Hoje, a cidade com mais de 120 mil habitantes vai ganhar uma loja maior, com um mix de produtos extenso, agregando a linha de sanduíches. Ainda este ano, a marca pretende se instalar em Viçosa, cidade com 70 mil habitantes, na Zona da Mata, que tem como potencial a população flutuante por conta das universidades. “Existem muitas cidades em Minas a serem exploradas. Estamos tateando os resultados de municípios menores, que requer uma versão nova do nosso portifólio”, explica Farrel.
As franquias de alimentação representam 22,1% do mercado em Minas. Em seguida, aparecem as relacionadas a esporte, saúde, beleza e lazer, com participação de 18,6%. O grupo O Boticário responde atualmente pela maior rede de franquias do estado e do Brasil. Em 2012, a rede de cosméticos e perfumaria apresentou o faturamento de R$ 6,9 bilhões, crescimento de 25% em relação ao ano anterior. São 3.600 lojas no país, sendo 340 no interior de Minas Gerais. Até o fim de 2013, a previsão é abrir, pelo menos, 10 novos pontos de venda. “Minas Gerais tem grande relevância para o país e o interior sempre esteve em nossa estratégia de presença. Não queremos apenas oferecer um produto, mas manter uma conexão com o nosso consumidor”, informa a rede.
Foco na educação
As marcas relacionadas a educação e treinamento aparecem em terceiro lugar, com participação de 16,6%. A instituição de ensino particular, Kumon, tem unidades em 59 cidades do interior e outras 45 em Belo Horizonte. Até o início de 2014, devem ser abertas outras quatro lojas em Conselheiro Lafaiete e Barbacena, na Região Central, Varginha, no Sul, e Ipatinga, no Vale do Aço.
O grupo Multi, detentor da marca Wizard, escola de idiomas, vê o estado como o menino dos olhos da rede. Até dezembro, a expectativa é de que sejam abertas mais 20 escolas. O gerente de marcas do grupo Jucimar Silva revela um levantamento da empresa que identificou grande potencial para implementação de escolas fora dos grandes centros urbanos. “Em Minas há 108 oportunidades de novos empreendimentos. Detectamos ainda que o país tem cerca mil cidades com até 50 mil habitantes com potencial para abrigar uma escola de idiomas e que ainda não são atendidas”, revela.