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Convocado para seleção

Jornal Folha de S.Paulo – Felipe Gutierrez– 10/11
 
À medida que o faturamento das franquias cresce, os processos seletivos para entrar em uma rede tornam-se mais concorridos. No ano passado, o setor passou a casa dos R$ 100 bilhões de faturamento pela primeira vez na história do país, aponta um levantamento da ABF (Associação Brasileira de Franchising).
 
O vice-presidente da associação, Gustavo Schifino, explica que as franqueadoras ficam mais seletivas depois de alcançarem o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas.
 
“Fala-se que para uma rede ser rentável é preciso ter algo entre 20 e 30 unidades. Depois de chegar a esse número, elas se tornam mais exigentes na hora de aceitar um novo franqueado.”
Algumas redes simplesmente param de aceitar novos entrantes.
 
É o caso no Brasil da Arcos Dourados, empresa que gerencia o McDonald’s. Desde 2001, tem o mesmo grupo de franqueados.
 
O método para escolher, apesar de não ser posto em prática há anos, envolve colocar o candidato para trabalhar durante três dias. Avalia-se a maneira como ele trabalha na cozinha, gerencia o salão e lida com clientes e funcionários, explica Rogério Barreira, vice-presidente da Arcos Dourados.
 
Os que chegaram a essa fase já passaram por uma análise de currículo e carreira.
 
Para ser chamado, é preciso ter mostrado resultado como um executivo.
 
Eder Bornelli, 53, trabalhava na IBM quando decidiu abrir uma franquia, em 1996. Hoje ele tem quatro pontos do restaurante de fast-food. Em média, os franqueados são donos de 3,38 McDonald’s.

Quatro Pontos 
 
A empresária Vanessa Sorrenti de Otero, 34, também tem quatro pontos de franquia, mas as dela são lojas das sandálias Havaianas.

No caso de Otero, um trunfo para ter sido escolhida foi ter achado um imóvel em uma rua comercial do Itaim Bibi, um bairro de classe média alta em São Paulo. “Eu disse [aos franqueadores] que tinha um ponto e me chamaram rapidinho”, conta.

Depois disso, ainda passou por entrevistas e testes.

Quando uma bandeira decide entrar em um novo mercado (uma cidade ou um bairro) e opta por fazer isso com algum empresário que já é franqueado, precisa escolher um entre os que compõem sua rede. Geralmente, o critério é a proximidade.

“Caso ele [o franqueado cujo ponto fica perto] não tenha interesse, oferecemos a possibilidade a outro parceiro geograficamente próximo”, diz o diretor de franquias de O Boticário, Osvaldo Moscon. Ele não abre a seleção de novos franqueados há três anos.
 
As lavanderias 5àsec aplicam até mesmo testes psicológicos antes de escolher um novo franqueado. Na Grande São Paulo, a marca já não seleciona mais ninguém, mas Marcus Vinicius Elias Duarte, 44, acabou conseguindo entrar em outubro. Isso porque um antigo franqueado deixou o negócio e precisou vender suas três unidades.

Antes das reuniões e testes que atravessou, teve que fornecer documentação que incluía currículo, o que fazia nas empresas nas quais trabalhou e uma lista com todos seus bens e declaração do Imposto de
Renda.
 
Ele conta que fez carreira como gerente de RH, e, no processo de seleção, teve que provar aos entrevistadores que também entendia de gestão financeira: “Queriam saber se eu discutia números, se já tinha feito planejamento estratégico”.

Paixão
 
“Hoje tenho mais de 11 mil candidatos”, diz André Giglio, 43, diretor da Poderoso Timão, que comercializa itens ligados ao Corinthians.

No caso dele, além de critérios tradicionais (como histórico profissional e capacidade financeira para aguentar um início de negócio mais fraco), eles buscam empresários que não sejam apaixonados de maneira cega pelo produto que vendem.

“Procuramos tirar a emoção da decisão. Para tocar a loja é preciso lidar com investimento, receita e custo, e não só com o Timão”, diz Giglio.

Luciano Guimarães, 35, franqueado e dono de três pontos, afirma, no entanto, que quem realmente gosta de futebol (e do clube, particularmente) tem mais chances de sucesso, pois a pessoa passa esse entusiasmo para a equipe e para o cliente.