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Construtoras buscam soluções mais rentáveis

JORNAL DCI – PAULA CRISTINA – 11/07

Depois de crescer ininterruptamente entre 2007 e 2011, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o setor de construção civil vem enfrentando um novo cenário no País: o de redução dos custos. Para driblar a alta no preço da construção, a escassez de terreno e a redução do crédito para pessoa física, empresas apostam em construções com rentabilidade mais alta, como condomínios que mesclam empreendimentos residenciais e lojas.

Segundo dados da Cushman Wakefield, só em São Paulo, os empreendimentos mistos deverão crescer 260% entre 2011 e 2015, somando 877,1 mil metros quadrados. “Há duas questões importantes para essa acentuação, a primeira é a mobilidade urbana, a outra é redução de custos da empresa. Hoje é mais fácil apostar num terreno mais amplo e erguer empreendimentos para diversos públicos num lugar só, do que segmentar e começar várias obras”, explicou Arnaldo Ramos, professor de engenharia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Os números da consultoria apontam que a maior parte dos lançamentos em São Paulo estará na região da Berrini, mas esse perfil deverá mudar nos próximos dois anos. “Mesmo com revisão do plano diretor e aumento da capacidade de terrenos em São Paulo haverá mais dificuldade em concentração de empreendimentos deste porte em locais como Berrini e Faria Lima, essa mudança levará as obras para regiões mais afastadas, como o entorno do rodoanel e onde passará o Trem de Alta Velocidade [TAV]”, disse Jorge Ferreira, arquiteto e consultor da Paes Engenharia e Arquitetura.

O engenheiro explica ainda que o incremento das franquias atrai novos empresários, já que possui investimento mais baixo e retorno provável. “As franquias de serviços, são a maior aposta”, diz.

Foi de olho neste mercado que a construtora MBigucci ampliou aportes em empreendimentos que contem com torres residenciais e lojas para atração de franquias. Exemplo disso, o Marco Zero, em São Bernardo, conta com uma espécie de boulevard, de olho em empresários interessados em abrir franquias.

Segundo o diretor de marketing e locação da MBigucci, Marcelo Bigucci, o Marco Zero São Bernardo prevê um público circulante de 4 mil pessoas. “A localização, entre as Avenidas Kennedy e Senador Vergueiro, é privilegiada”, comentou.

Além do Boulevard, que ficará no térreo, o empreendimento misto também abrigará uma torre com lofts e salas comerciais e outras torres com apartamentos residenciais. “A estrutura que será oferecida tem despertado o interesse de franquias variadas, como cafés, petshop, lavanderia e bancos”, completou Bigucci.

A busca por empreendimentos localizados dentro de condomínios também é uma tendência Segundo o sócio-diretor da Franchising e Expansão de Negócios (Francap), André Friedheim, que também dirige a Associação Brasileira de Franquias (ABF), os franqueadores estão buscando cada vez mais pontos comerciais alternativos. “O shopping traz fluxo, mas é caro. A rua tem a questão da insegurança. Os empreendimentos mistos são uma alternativa bem interessante, que equacionam o custo e o benefício, oferecendo segurança, estacionamento e outras estruturas; e quanto ao fluxo, acaba pegando a população fixa [moradores]”, explica Friedheim.

Outro empreendimento nesse porte é o Boulevard Londrina Shopping, que começou a ser inaugurado no último mês. Dentro do complexo Marco Zero, na zona leste de Londrina, o espaço recebeu aportes de R$ 320 milhões.

A loja que conta com 216 lojas já foi toda comercializada, segundo o superintendente do empreendimento, Fábio Segura. Assinado pela Sonae Sierra o empreendimento é o primeiro na Região Sul do Brasil. De acordo com o CEO da incorporadora, José Baeta Tomas, a escolha foi motivada pela localização e potencial do município. “Londrina é uma espécie de fronteira entre o Paraná e São Paulo, tem diversas cidades próximas. Com toda esta dimensão, consideramos o local ideal para um investimento deste porte”, disse ele no lançamento do shopping.

Além do shopping o espaço do Marco Zero também conta com 16 torres comerciais, que começaram a ser vendidas este mês com previsão de entrega em pouco mais de três anos. O local terá um teatro, também em fase de obras. No final do ano passado, a Leroy Merlin abriu as portas no local. As próximas novidades, previstas para serem entregues em cinco meses, serão o hotel da rede íbis e o boulevard de 700 metros no espaço.

Já a construtora Rotta Ely lançou o seu primeiro empreendimento de 2013: o mixused Murano, no bairro Cristal, em Porto Alegre. O empreendimento conta com uma torre comercial e outra residencial, e é um dos primeiros em Porto Alegre. “Estamos muito orgulhosos por sermos uma das primeiras construtoras a acreditar nesta área”, diz Pedro Rotta Ely Além das duas torres, o Murano ainda terá um espaço de lojas. Em um terreno de seis mil metros quadrados com três frentes, localizado na Avenida Icaraí, 1.717, perto do Jockey Clube, o Murano será de fácil acesso e terá uma vista incrível do rio Guaíba. “Nos próximos anos este quarteirão será um dos mais valorizados da cidade”, explicou o diretor de incorporações, novos negócios e obras, Tiago Rotta Ely. “Além da proximidade com o rio, será um quarteirão com imóveis de alto padrão, do lado de um shopping e com grandes avenidas de acesso”, disse.

Antônio Setin, presidente da incorporadora Setin é um dos empresários que vem apostando nesse segmento. Este mês o executivo lançou, em parceria com a Accor, o Mondial São Bernardo, no ABC paulista. O complexo também de uso misto e contará, além de três hotéis, com uma torre residencial, e uma comercial.

A obra, que tem previsão de inauguração até 2016 teve aportes de R$ 230 milhões, e fica atrás do Shopping Metrópole, também da Sonae Sierra. “Esta é uma tendência no mercado de construção. As empresas buscam alternativas para abranger públicos diferentes dentro de um mesmo espaço”, disse Setin.

Companhias apontaram alta de 2007 a 2011

O incremento da construção cl vil nos últimos anos, medido pela Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que, entre 2007 e 2011, o valor das incorporações, das obras e dos serviços no País aumentou de R$ 130 bilhões para R$ 286,5 bi, mais que dobrando em termos nominais e com alta real de 63,1 %.

Em 2011, entidades estatais contrataram 38,3% das construções (queda de 41,2% ante a 2007), ficando 61,7% com o setor privado. No período, o número de empresas ativas do setor foi de 52,9 mil para 92,7 mil e o pessoal contratado, de 1,57 milhão para 2,66 milhões.

Os salários e retiradas evoluíram de R$ 19,3 bilhões para R$ 49,8 bilhões e a participação deste item nos custos e despesas das construtoras subiu de 19,1 % para 20,8%.
Entre os investimentos realizados, o item terrenos e edificações ampliou a participação de 18,6% para 24,2%, o que dá uma ideia da valorização das áreas edificáveis. O pior comportamento foram as obras infraestrutura: o peso do segmento na receita bruta caiu de 45%, em 2007, para 41,4%, em 2011. Enquanto isso cresceu o peso da construção de edifícios (de 38,2% para 39,5%) e de serviços especializados (de 16,8% para 19,1%).