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Internacionalização de franquias brasileiras dobrou nos últimos seis anos

Internacionalização de franquias brasileiras dobrou nos últimos seis anos

O Programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Internacional (PMDGI) da ESPM, em parceria com a ABF (Associação Brasileira de Franchising), apresenta a 4ª edição da pesquisa que teve seu primeiro volume editado em 2010, quando havia 65 redes de franquias brasileiras internacionalizadas. Neste ano, o estudo trata do “Global Mindset na Internacionalização das Franquias Brasileiras”, quando temos 134 redes brasileiras no exterior. A pesquisa lançada agora traz os resultados que foram analisados de abril a outubro de 2016 e representam uma continuidade das pesquisas de 2014, 2012 e 2010, pois esta investigação é produzida a cada dois anos. “As recomendações apresentadas neste estudo levam em consideração a força do segmento de franquias no Brasil, que continuou apresentando crescimento, tanto em faturamento quanto em unidades, apesar do agravamento da crise econômica do País”, explica a pesquisadora e professora Thelma Rocha do PMDGI-ESPM, que estuda a internacionalização das franquias brasileiras desde o início deste movimento. “A cada ano, constatamos a ampliação do número de redes de franquias internacionalizadas e também em número de países”.

Em número de unidades, o Brasil está em sexto lugar se comparado aos outros países, com 138.343 unidades somando-se próprias e franqueadas, um crescimento de 10,1% em relação a 2014, quando o País tinha 125.641 unidades. Em número de marcas, o Brasil salta para a quarta posição mundial, com 3.073, o que representa um crescimento de 4,5% superior a 2014, quando somava 2.942 marcas. Mais de 20 franqueadoras brasileiras instalaram unidades no exterior ou iniciaram exportações de produtos em 2015, chegando a 134 redes de franquias brasileiras internacionalizadas.

As franquias brasileiras estão presentes em 60 países (2015). Os principais mercados de destino são Estados Unidos, Paraguai e Portugal. “Considerado um mercado modelo na operação de franquias, a preferência pela América do Norte se destaca dado o desafio de se obter êxito nesse cenário e a possiblidade de ‘passar no teste’ para a expansão em outros continentes. Por sua vez, o Paraguai aparece como um dos principais destinos pela proximidade, expansão econômica e pelas facilidades de tributação e Portugal pela similaridade do idioma, país que ocupou o segundo lugar em preferência mesmo em um cenário recessivo nos últimos anos, voltou a crescer e deve acirrar a disputa”, ressalta Claudio Tieghi, diretor de inteligência de mercado e internacional da ABF, responsável pela parceria.

Para compreender a pesquisa é importante destacar um dos principais resultados da edição de 2014, quando foram analisadas as franquias brasileiras, segundo seus estágios de internacionalização.  O que interessa para a análise dos pesquisadores é justamente a evolução das redes de franquias de um estágio para outro, classificados de 1 a 4, sendo o primeiro o franchising doméstico, o segundo de franquia com envolvimento experimental, o terceiro considerado um envolvimento ativo e, o quarto, o envolvimento de alto comprometimento. Na figura abaixo é possível verificar o detalhamento de cada estágio, bem como o número de redes em cada um deles, sendo que a maioria pertence ao estágio 2, de envolvimento experimental, com 49% do total de franquias, somando 65 redes no exterior. Em seguida, as empresas no estágio 3, considerado um envolvimento ativo, pois elas realizam uma exploração sistemática da expansão internacional, somam 29% ou 39 redes no exterior. O quarto estágio, também em quarto lugar segundo o número de redes no exterior, 30, que representa 22%, é composto por empresas com alto comprometimento de longo prazo com a atividade de franchising no mercado externo.

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Para entender a evolução das franquias internacionalizadas, segundo este critério de classificação por estágios, os autores da pesquisa chegaram aos resultados abaixo:

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“Em 2014, eram 51 empresas, 50% do total das internacionalizadas. Em 2016, são 65 empresas, 49% do total, que é o primeiro passo da internacionalização neste processo gradualista”, explica Thelma. “Considerando a evolução dos estudos desde 2010, percebe-se que a decisão de internacionalização tem crescido nos últimos seis anos, com a base duplicando de 65, em 2010, para 134, em 2016”. Esta é uma das principais inovações do estudo, pois cruza os estágios com o tempo de internacionalização das redes de franquias brasileiras e com o seu global mindset. “No teste de correlação, fica comprovado que o tempo de internacionalização, ou seja, idade no exterior, tem relação positiva e significativa com o estágio de internacionalização”, enfatiza a coordenadora da pesquisa.

“Planejar a internacionalização e trabalhar a contínua melhoria da proficiência na Língua Inglesa são dois dos principais aspectos a serem melhorados pelas empresas brasileiras no processo de internacionalização. Todas as nossas pesquisas na área de gestão internacional apontam as melhorias fundamentais, que trarão o desenvolvimento da gestão internacional. Atualmente, somos o único programa do País com linhas de pesquisa nesta área e recebemos alguns prêmios no exterior, porém este reconhecimento ainda é mais evidente lá fora, do que no Brasil”, avalia Mário Ogasavara, coordenador do PMDGI. “Nosso retorno para a sociedade caminha no sentido de difundir aquilo que as pesquisas comprovam nos últimos anos e o desenvolvimento do global mindset é uma das principais deficiências das empresas brasileiras”, completa.

O diretor da ABF destaca também o trabalho da entidade no suporte ao movimento de internacionalização. “Em parceria com a Apex-Brasil, a ABF vem promovendo uma série de ações para incentivar e desenvolver a internacionalização de franquias brasileiras. Elas vão desde cursos de formação, participação em feiras e eventos internacionais e missões. Destaque para o Projeto Franchising USA que está preparando um grupo de franquias brasileiras interessadas em se estabelecer nos Estados Unidos. Além de toda uma orientação e suporte, essas empresas irão compartilhar um escritório na Flórida a fim de acelerar seus processos de expansão naquele País”.

Claudio Tieghi completa que a internacionalização é um projeto de longo prazo, que demanda investimentos e preparação, mas que traz muitos benefícios à marca. “Vemos nos Estados Unidos muitas marcas já surgirem internacionais. Isso permite grandes ganhos de escala, em termos de desenvolvimento de produto, processos e sistema, e de marca. Creio que seja um caminho que as redes brasileiras devem trilhar também, o que propicia, inclusive, uma diversificação do risco do negócio”, disse.

Em um cenário de alta competitividade e conectividade global, é requerido aos gestores que sejam capazes de lidar com grande complexidade estratégica e intercultural, isto é, que tenham a capacidade de pensar globalmente e agir localmente, o que define o global mindset.  “Esta capacidade serve como lentes empregadas pela empresa para interpretar a realidade, decodificando-a e dando-lhe sentidos”, acrescenta Thelma.

Muitas empresas brasileiras domésticas, que ainda não saíram do Brasil, apontam como barreira para se internacionalizarem a estrutura, a legislação e os custos. Por sua vez, para as que já operam fora do Brasil, a legislação passa a ser o primeiro item.

Quando analisadas as empresas estrangeiras, a legislação é a primeira barreira, a estrutura a segunda, a financeira é a terceira e a quarta, as certificações.

“É importante os empresários brasileiros pensarem a internacionalização como uma forma de aprender e crescer no contexto internacional, pois as inovações vivenciadas no exterior vão permitir o crescimento da rede também no mercado interno”, orienta a professora Thelma.

Ao avaliar as redes de franquias mais internacionalizadas, dentre as 30 redes de franquias que operam em cinco ou mais países, a pesquisa do PMDGI destaca as 18 redes que atuam no exterior, prioritariamente pelo modelo de franchising.

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Ao avaliar as redes que atuam prioritariamente por meio de exportação, percebe-se uma predominância nas que atuam no setor de acessórios e calçados, vestuário e beleza, saúde e produtos naturais. Bibi, Clube Melissa, Mãos da Terra e It Beach são os destaque no setor de acessórios pessoais e calçados; Liz, Lilica Ripilica, Dzarm e Colcci no setor de vestuário; a CVC Brasil é a única, entre as doze redes, que representa o ramo de entretenimento, brinquedos e lazer, bem como a UATT?, representando o setor de móveis, decoração e presentes; O Boticário e a Truss Cosmetics são as duas empresas do setor de beleza, saúde e produtos naturais.

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Quando comparados os motivadores para a internacionalização de redes norte-americanas com as redes brasileiras, chegou-se no seguinte resultado:

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“Este quadro sinaliza que as redes de franquias brasileiras buscam mercados internacionais por motivadores proativos, e que devem evitar que suas marcas sejam internacionalizadas sem um planejamento prévio”, analisa Thelma.