Revista PEGN – Margareth Boarini e Jayme Serva – 10/06
Em 1980, abrir um salão de cabeleireiro seguindo todas as normas legais era quase tão complicado quanto montar uma siderúrgica. Eram tantas exigências que a ideia de criar um negócio muitas vezes acabava em dois becos: a informalidade ou os classificados de empregos. Em 1984, o Estatuto da Microempresa abriu a primeira frente para o empreendedor começar a ocupar seu lugar na economia. Bandeiras como capacitação e inovação ganharam visibilidade, empunhadas por quem manda no empreendedorismo. Hoje, sete desses chefões lideram as mudanças no cenário para novos negócios. Eles incentivam, financiam, pensam esse segmento que se sofisticou e hoje responde pela geração do maior número de empregos no país. Vamos ver quem são.
De olho no futuro
Luiz Barretto é um viajante. Como ministro do Turismo, cumpriu esse papel por dever de ofício. Desde que assumiu a presidência do Sebrae, em 2011, viaja pelos mares do empreendedorismo. E, metáfora à parte, dedica boa parcela do seu tempo a percorrer o Brasil dando palestras, conhecendo novos projetos, abrindo caminhos para os micro e pequenos empresários. Com esse objetivo, tem procurado a outra ponta do mercado – gigantes como Braskem e Petrobras para convencê-los a tomar parte do programa de encadeamento produtivo e comprar de pequenos fornecedores locais. Dessa forma, estimula a capacitação e o fortalecimento da cadeia de produção. Barretto sabe que a viagem do empreendedorismo é uma jornada sem volta.
Disseminando conhecimento
Trabalhar em grupo e compartilhar informação é sempre mais produtivo. Este é um dos princípios que Juliano Seabra aplica à frente da Endeavor Brasil. Desde o ano passado, ele é o presidente da instituição, que promove o empreendedorismo como base do desenvolvimento. Antes, ocupava a direção de cultura empreendedora. Não é à toa que insiste na educação como fator indispensável para a evolução pessoal e empresarial. Segundo a Endeavor, das quatro maiores dificuldades enfrentadas pelos empreendedores brasileiros, três estão ligadas à falta de conhecimento: gestão de pessoas, controle de fluxo de caixa e administração. Educação, portanto, continua a ser o principal desafio de Seabra.
Em busca de conexões
Quando foi convidado para chefiar o programa de aceleração Start-Up Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2012, Felipe Matos já era um empreendedor experiente um veterano de apenas 29 anos, que tinha criado ao menos dez startups e fundado a aceleradora Startup Farm. Antes de aceitar o convite, hesitou. Não tinha certeza de encontrar, no governo, a agilidade e a criatividade a que estava acostumado. Foi em frente, e não só encontrou o que procurava como ajudou a aumentar a confiança geral no programa. Hoje, vive às voltas com eventos e aeroportos para conectar empreendedores, investidores e mentores. Mais do que nunca, acelerar é o seu trabalho.
O homem do crédito
À frente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública de fomento à inovação, o filósofo e sociólogo Glauco Arbix mostra outras habilidades além de seu reconhecido talento nas ciências humanas.
Em conjunto com o BNDES e o Sebrae, a Finep lançou o Inova Empresa, programa que pretende tornar as empresas brasileiras mais competitivas no mercado global, a partir do aumento de produtividade e da inovação.
Se eficiência é a palavra-chave, Arbix e sua equipe a aplicam também da porta para dentro: hoje, o prazo para análise de concessão de crédito, que em 2011 chegava a 450 dias, foi reduzido a 30.
A marcha das franquias
Quando tinha 8 anos, Cristina Franco criou um clube só para meninas, no fundo de sua casa. Detalhe: sua versão do clube da Luluzinha tinha diretoria e cobrava mensalidades das sócias. Em 1993, montou uma escola de informática, a Bit Company. Descobriu então o potencial das franquias e transformou sua escola numa rede. Em 2010, a Bit foi comprada pelo Grupo Multi, conglomerado de redes de escolas de informática e idiomas. Cristina aprendeu. Hoje, à frente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), quer manter o mercado brasileiro na rota de entrada de marcas estrangeiras e internacionalizar marcas nacionais. A meta é crescer, sempre. Vem gente nova para o clube.
Cruzada antiburocracia
Há 40 anos, o empresário Guilherme Afif Domingos poderia ter se acomodado em uma cadeira confortável – a de herdeiro de uma sólida companhia de seguros. Em vez disso, chamou para si uma briga que, às vezes, parece não ter fim: desburocratizar e tornar mais rápida e fácil a vida do empreendedor no Brasil. Afif esteve por trás da própria ideia do Estatuto da Microempresa, que virou lei em 1984. Desde então, tornou-se referência o segmento. Tanto que, em 2013, quando o governo federal criou um ministério para a Micro e Pequena Empresa, o nome de Afif foi o mais cotado nas apostas sobre quem ocuparia o posto.
Em nome da educação
Não é coincidência: a educação está entre as prioridades colocadas por Francilene Garcia na sua gestão como presidente da Anprotec, associação que reúne 280 entidades ligadas ao empreendedorismo e à inovação. Um dos projetos estratégicos da entidade é a criação de uma academia para a formação e a capacitação de dirigentes de empresas. Francilene acredita que a iniciativa terá reflexo direto no desenvolvimento de incubadoras e parques tecnológicos do país. Mais uma vez, educar é a meta.