Seguindo esse movimento, o setor de franquias tem apostado no crescimento do poder aquisitivo da população interiorana, investindo na expansão em direção a essas localidades. Aos poucos, redes conhecidas e consagradas dos centros têm se voltado para municípios com 50 mil, ou mais, habitantes para dar um salto em suas vendas.
Uma série de vantagens atrai esse franqueador que sabe se arriscar com consciência e pretende conquistar uma nova fatia de clientes. Sem dúvida, a mão de obra mais barata e os preços de terrenos e aluguéis mais baixos são grandes atrativos. Conheça a seguir franquias que escolheram o interior como o ponto mais badalado de sua expansão e quais os cuidados ao se enveredar pelos caminhos do interior brasileiro.
Mudanças irreversíveis
Para o diretor de expansão do interior paulista da ABF e franqueador da rede Água Doce Cachaçaria, Delfino Golfeto, essas regiões se modificaram em aspectos importantes nos últimos anos. “Trabalhamos na noite do interior há mais de 20 anos com a Água Doce e posso dizer que mais do que a mudança no estilo de vida, percebemos que o crescimento econômico das classes C, D e E no interior mudou seu comportamento. Hoje, todos querem aproveitar as coisas boas e as vantagens das grandes cidades, mas com preços menores”, afirma.
Por outro lado, a própria dinâmica dessas cidades interioranas modificou-se, chamando a atenção de franqueadores das metrópoles. Como exemplo, o interior de São Paulo apresentou na última década um crescimento de renda per capita, motivada inicialmente pela expansão de atividades como o agronegócio, seguida por um forte nível de industrialização, o que levou a região a se tornar o maior centro consumidor do País a partir de 2012.
Paralelamente, o governo investiu em processos de privatizações, trazendo empresas privadas para setores-chave da logística, e ofereceu generosos incentivos fiscais municipais, formando um quadro propício para a migração das empresas, como explica o professor do Centro Universitário Senac de Águas de São Pedro, Antônio Carlos Bonfato. “Montadoras, multinacionais e grandes centros distribuidores concentraram grandes investimentos no denominado ‘eixo Anhanguera-Bandeirantes’, pois já entenderam o movimento e programaram sua expansão para o interior.
Nesse momento, cidades de menor porte também passam pelo mesmo processo, acolhendo futuras instalações de empresas de significância, como é o caso de Itirapina e Iracemápolis que receberão as fábricas de duas grandes montadoras. Acaba-se criando uma grande teia de troca de insumos e produtos entre elas, então vemos que esse deslocamento de eixo econômico para o interior é um fenômeno já maturado e irreversível. Todo o cenário está armado para os que buscam novas oportunidades, desde que ofereçam produtos com qualidade e custo-benefício aceitável para o consumidor”, completa o professor.
A fim de ajudar o franqueador nessa situação, Golfeto acredita que a melhor estratégia é buscar franqueados na própria cidade que a empresa pretende se instalar. São pessoas que conhecem a cidade, têm familiaridade com os moradores e conhece os hábitos do consumo local, auxiliando na adaptação junto aos players do próprio município.
Essa, pelo menos, é a tática utilizada pela Água Doce Cachaçaria há 20 anos e também pela rede paulista de lojas de milk-shake Mr. Mix. Em 2013, a loja dobrou de tamanho e alcançou as 150 unidades, metade delas estabelecidas no interior de 24 estados do País. “Normalmente os franqueados já são da própria cidade onde a loja é implantada e possuem influência no mercado. Buscamos, então, fazer um bom investimento no marketing local. Além disso, a franqueadora procura adaptar o cardápio de acordo com a região”, conta o diretor da franqueadora, Clederson Cabral.
O professor do Senac concorda com a visão de que o interiorano quer uma relação que vai além do custo-benefício, pois deseja proximidade, um contato mais aberto com o fornecedor do serviço. “Normalmente, para ele não é só o momento da compra que é importante, mas também o pós-compra. Isso se deve à própria cultura do interior, onde a conversa e o diálogo sempre fizeram parte das relações sociais. Então há a necessidade de o fornecedor do produto ou serviço manter uma relação mais próxima com esse cliente, pois ele provavelmente voltará a procurá-lo depois da aquisição”, projeta.
Diversos nichos têm ganhado destaque nessas regiões, mas o ramo de serviços continua sendo o mais procurado para qualquer nova empresa. Segundo Antônio Bonfato, o mercado de serviços mostrou um crescimento vertiginoso nos últimos anos e está longe ainda do seu ápice no interior. O mercado de produtos de luxo é outro que tem chamado a atenção dos empreendedores, e se expandido a taxas acima da média de outros negócios.
Planejamento
A análise da cidade, sua renda per capita e movimentação; a escolha do franqueado local, aquele que conhece o mercado e as pessoas; o ponto e a localização do empreendimento, de preferência com estacionamento; e o produto de alta qualidade são fundamentais no planejamento da abertura de lojas em novas regiões, segundo Golfeto. De acordo com o professor do Senac, Antônio Bonfato, um bom plano de marketing para o lançamento da marca e do produto é essencial, assim como o planejamento operacional e mercadológico do empreendimento e um orçamento pró-forma de necessidades de investimentos e captação de recursos. “Não se deve pensar o empreendimento em um universo temporal de curto prazo, mas sim o retorno que o negócio gerará em médio e longo prazos. Atualmente a concorrência se acirra nos chamados polos regionais, dificultando a entrada de novos players”. Segundo ele, a tendência é a busca de cidades que ainda estão no processo de expansão de riqueza, a maioria hoje encontra-se na faixa dentre 70 e 150 mil habitantes, e estas cidades possuem os melhores potenciais de expansão de riqueza em um prazo dentre cinco e dez anos, abrigando as melhores oportunidades.
A Mahogany tem apostado em bons pontos comerciais, mix de serviços e de marcas premium voltadas ao público feminino. “Com lojas de ruas e quiosques em shoppings das regiões que estão sendo inaugurados, podemos levar a marca aos mercados emergentes do interior”, aposta o gestor Peter Schmidt. A marca tem o foco nesse momento nas regiões Norte e Nordeste, em Minas Gerais e no interior de São Paulo e do Rio de Janeiro com duas novas plataformas: o Mahogany em Casa, um canal de vendas diretas, e o Quiosque 2.0, espaço para shoppings com o conceito cozy romantic da companhia, ideal para empreendedores.